Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 16/08/2010
Frank Capra nasceu em Palermo, na Itália, mas bem menino emigrou com a famÃlia para os Estados Unidos. Tirante suas evocações étnicas (que talvez expliquem a turbulência parladora de suas narrativas tão cômicas quanto sinceras), Capra teve uma formação exclusivamente americana e sua crença na sociedade ianque beira uma inocência à s vezes constrangedora. Mesmo assim, seus filmes por via de regra são cinematograficamente notáveis, como se sabe especialmente pela visão duma obra-prima como Aconteceu aquela noite (1934). Notável não chega a ser o adjetivo que caberia a Sua esposa e o mundo (State of Union; 1948), uma obra intermediária de sua filmografia; mas não se pode devotar indiferença para com esta parábola bem armada (embora um tanto artificial) sobre os ideais democráticos dos Estados Unidos da América pintados como fonte de um imperialismo bondoso que quer espalhar o bem pelo mundo (ou dividir este bem com todos os povos).
No centro da trama, um candidato a presidente da nação americana, Grant Matthews, vivido por Spencer Tracy; cercado pelos meios-tons hipócritas do meio polÃtico e por uma amante que é também politicamente matreira, pode-se dizer que a guinada moral da campanha de Grant se dá quando chega à s convenções a esposa de Grant, Mary, interpretada por Katherine Hepburn. Aà surgem os terrÃveis discursos democráticos e a estruturação precária das personagens que tanto limitam Sua esposa e o mundo. Mesmo assim, os valores cinematográficos da realização de Capra o fazem sobreviver no paladar do espectador de hoje.
Uma das curiosidades de bastidores de Sua esposa e o mundo é que Capra desejava para os papéis centrais Claudette Golbert e Clark Gable, a dupla que tanto dera certo em Aconteceu aquela noite. E o nome da Hepburn só surgiu depois da escolha de Tracy, que a indicou a Capra. Sua esposa e o mundo baseia-se numa peça da Broadway de Howard Lindsay e Russel Crouse; em sua encenação de 1945 a peça teve como protagonistas os atores Ralph Bellamy e Ruth Hussey e deram-se setecentos e sessenta e cinco apresentações ao longo de dois anos. (Eron Fagundes)