Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 13/08/2010
O cineasta sueco Ingmar Bergman é antes de tudo um cérebro de filmar. Prisão (Fängelse; 1949), um de seus filmes iniciais, executa o rigor bergmaniano transformado em pensamento cinematográfico. Lento, teatral e por vezes arrastado, Prisão começa a pôr em xeque as questões que atormentariam o realizador em toda a sua vida fÃlmica: no começo do filme alguém —um professor niilista — propõe a um interlocutor que está dirigindo um filme uma narrativa sobre o inferno; e imagina que se o diabo fosse convocado (fim dos anos 40, uma Europa conturbada pelo pós-guerra) a dirigir a terra, como alguém que dirige um filme, não precisaria modificar nada, bastava seguir o roteiro em andamento, a terra presente já seria o inferno segundo Bergman. O diabo como metáfora voltaria a assombrar Bergman em O olho do diabo (1960).
Prisão, em sua curtÃssima narrativa, mistura uma história de problemas conjugais, a tragédia do assassinato dum bebê (mostrado simbolicamente pela visão dum boneco flutuando nas águas duma banheira agarrado pelas garras de um homem e a transformação deste boneco num peixe esmagado por essas garras, enquanto na faixa sonora um estridente choro de bebê) e tudo circulado pela antecipação da metalinguagem elaborada depois em Persona (1966), alguém está fazendo um estranho filme. Há o filme dentro do filme e há um filme mudo pastelão dentro do filme. Há o prólogo-epÃgrafe. E há desenvolvimentos fragmentados. O que vemos em Prisão são fragmentos de um cérebro privilegiado do cinema. (Eron Fagundes)