Crítica sobre o filme "Senhor dos Anéis, O: Trilogia – BLU-RAY":

Jorge Saldanha
Senhor dos Anéis, O: Trilogia – BLU-RAY Por Jorge Saldanha
| Data: 23/01/2013

Mesmo que você nunca tenha lido um livro sequer do escritor britânico (mas sul-africano de nascimento) J.R.R. Tolkien, já deve pelo menos ter ouvido falar de suas obras mais conhecidas, O HOBBIT e O SENHOR DOS ANÉIS. São clássicos da literatura de língua inglesa, e as aventuras vividas nos reinos da Terra-média serviram de inspiração para vários filmes de fantasia, entre os quais O DRAGÃO E O FEITICEIRO e WILLOW - NA TERRA DA MAGIA, e até mesmo sagas de ficção científica como STAR WARS e BABYLON 5. No entanto, foi necessário que mais de cinco décadas se passassem até que um abnegado diretor neozelandês convencesse um estúdio (a New Line) a investir US$ 300 milhões não em um, mas em três filmes rodados simultaneamente baseados na trilogia O SENHOR DOS ANÉIS, e que estivessem à altura da grandeza da obra de Tolkien. Com eles o diretor Peter Jackson conseguiu um feito raro – consagrar-se perante o público e a crítica mais exigente. Fator decisivo para isso foi o grande carinho e o cuidado que Jackson e sua equipe dedicaram ao material, realizando três filmes ímpares entre os blockbusters de Hollywood. 

Há uma grande ênfase nos personagens, roteiro e diálogos são os mais fiéis possíveis ao texto do autor, e os efeitos visuais estão lá para ajudar a contar a história e não roubar a cena – e ainda assim, para a sua época, são espetaculares. Além disso, uma feliz conjunção de fatores também ajudou o projeto. Há ótimas interpretações do elenco, desde novatos à época como Elijah Wood (Frodo) e Orlando Bloom (Legolas), até os mais conhecidos Christopher Lee (Saruman), Ian Holm (Bilbo), Sean Bean (Boromir), Ian McKellen (excepcional como o mago Gandalf), Viggo Mortensen (Aragorn), Cate Blanchett (Galadriel), e por aí vai. O desenho de produção, a deslumbrante fotografia das paisagens da Nova Zelândia (onde a trilogia foi rodada) e as emocionantes e premiadas trilhas originais de Howard Shore, são alguns dos fatores que se combinaram perfeitamente para dar vida à melhor saga de fantasia de todos os tempos. Por outro lado, apesar de todo o respeito de Jackson ao texto de Tolkien, mudanças foram necessárias para tornar a trilogia um verdadeiro evento cinematográfico, e não apenas uma transposição literal dos extensos livros para o cinema - até porque, se isso fosse feito, seriam necessários mais de três filmes. 

Boa parte da trama de A SOCIEDADE DO ANEL é colocada em um prólogo que resume a história do Um Anel até que este chega às mãos de Bilbo Bolseiro. O enfrentamento de Frodo com Laracna, que acontecia em AS DUAS TORRES, foi transferido para O RETORNO DO REI. Personagens foram omitidos ou tiveram sua participação diminuída; outros foram expandidos ou até mesmo criados para aumentar a dramaticidade em certas sequências. Trechos detalhistas dos livros e muitas canções escritas por Tolkien também foram eliminados. Mas todas foram alterações necessárias, e que se mostraram acertadas para a exibição nos cinemas. Isso, no entanto, não impediu que Jackson relançasse os filmes em versões estendidas (recentemente em Blu-ray), que a eles agregaram mais elementos dos livros, preencheram lapsos da trama ou simplesmente melhoraram o relacionamento e/ou o desenvolvimento dos personagens. Algumas adições são curtas e outras mais longas, e de modo geral se agregam perfeitamente às montagens originais de cinema. 

Assim, como exemplos do que foi acrescido nas versões estendidas, temos cenas adicionais com Bilbo, Frodo e Gandal, flashbacks com a entrega dos presentes de Galadriel a todos os membros da Sociedade, não apenas a Frodo (A SOCIEDADE DO ANEL), mais cenas com Barbárvore, Merry e Pippin em Fangorn, o longo flashback com Boromir, Faramir e Denethor em Osgiliath (AS DUAS TORRES), uma introdução mais longa da história de Sméagol e o Um Anel, o destino de Saruman e Gríma, o embate via Palantír entre Aragorn e Sauron, o confronto de Gandalf com o Rei Bruxo de Angmar e o romance entre Faramir e Éowyn (O RETORNO DO REI). Apesar de muitos considerarem excessiva a duração dos cortes estendidos (por muito tempo inéditos aqui), os fãs hoje os consideram como as versões definitivas dos três filmes. 

A trilogia O SENHOR DOS ANÉIS representa, acima de tudo, uma vitória pessoal de Jackson que, como um hobbit em uma jornada de dificuldades aparentemente intransponíveis, realizou o que muitos duvidavam e ainda por cima conquistou 17 Oscars – 11 deles, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Diretor, apenas com O RETORNO DO REI, que igualou o número de prêmios da Academia de Artes e Ciências de Hollywood conquistados por BEN HUR e TITANIC. Um feito sem precedentes para uma obra de fantasia, e que dificilmente se repetirá com a nova trilogia de Jackson baseada em O HOBBIT. Mesmo assim, a julgar pelo primeiro filme já lançado, a magia, pelo menos para a maior parte dos fãs, permanece.