Crítica sobre o filme "Pandorum":

Wally Soares
Pandorum Por Wally Soares
| Data: 29/05/2010

Destinado a ser um projeto de baixo orçamento cujos planos de lançamento se limitariam ao mercado de vídeo, Pandorum foi salvo por um pequeno estúdio diante do promissor roteiro apresentado por Travis Milloy . De fato, a idéia instigante que rege o enredo apresenta elementos persuasivos o suficiente para render uma ficção-científica poderosa e original – e, no caminho, fazer algum sucesso. Seja pela inaptidão de Milloy em ousar na trama tanto quanto arriscou-se na proposta ou na frieza da direção inconstante Christian Alvart, trata-se de uma película de atributos à deriva e promessas não cumpridas. Apesar das qualidades ocasionais apresentadas em sua metragem curiosa, finaliza-se como apenas mais uma fita descartável - e seu fracasso de bilheteria consequentemente espelha sua ineficiência.

Situada em uma nave espacial, a trama de Pandorum inicia-se misteriosa e incerta (uma sólida virtude). Apesar da introdutória ao início, o longa-metragem abre em meio ao desconhecido. Bower (Ben Foster), jovem tripulante, acorda de um sono criogênico prolongado que o deixa atordoado e sem memória. Enquanto volta aos sensos, outro tripulante - Payton (Dennis Quaid) - acorda. Ambos desorientados e sem saber qual funcão terão que exercer naquela nave que aparenta estar abandonada, começam a explorar o local até descobrirem que não estão sozinhos. Além da companhia de outros humanos, cruzam caminho com criaturas sedentas por sangue.

Primeiro filme americano do alemão Christian Alvart, Pandorum - como já mencionado - é beneficado pela instigação proposta pelo enredo curioso. Utilizando bem esta noção de mistério, Alvart abre o filme de forma sombria, que por sua vez se torna atmosférico, inquietante e verdadeiramente envolvente. Nos interessamos pelo tripulante sem memória chamado Bower e sentimos nos primeiros minutos da metragem que realmente estamos diante de um trabalho interessante. Mas ao passo que Bower descobre o que habita a nave e começa a lutar pela sua sobreviência ao lado de outras pessoas tão perdidas quanto ele, o filme toma uma brusca queda. Sacrificando a sutileza antes demonstrada, a entrada das criaturas na história leva a sequências de ação gratuitas e sem textura, fazendo com que o filme se distancie de Alien - fonte da qual tanto bebe - e assuma uma postura muito mais condizente com a estrutura convencional e burocrática de Resident Evil.

A força de Pandorum encontra-se em suas idéias – fator cada vez mais raro no atual cenário hollywoodiano. Nos prendemos à história por tal virtude. Ao passo que a trama se desenvolve, porém, o roteiro se torna mais interessado no banal do que na novidade e, acompanhando, Alvart se entrega ao piloto automático. Não impede, porém, que vez ou outra sejamos surpreendidos por algum detalhe, algum diálogo ou algum personagem. Alias, o clímax reserva para si um grande número de surpresas que certamente elevam o nível da película. O desfecho, alias, é especialmente satisfatório. Por sua vez abrindo caminho para uma sequência (o roteiro foi planejado como a primeira parte de uma trilogia), nos deixa suficientemente intrigados. Uma pena que, mediante o fracasso comercial da película, nunca veremos os próximos capítulos.

Apesar do interesse deixado pelos últimos minutos, Pandorum nunca chega a se concretizar como um trabalho completo. Suas inconsistências inibem a força de suas idéias e os personagens em sua totalidade nunca chegam a se tornar seres completamente interessantes. A exceção talvez fique por conta de Bower, mas muito se deve à atuação exemplar de Ben Foster, um ator em constante amadurecimento. Dennis Quaid, por sua vez, parece seguir o trajeto oposto, em atuações cada vez mais descartáveis. O elenco ainda é enfraquecido pela presença de Cam Gigandet, um ator extremamente limitado de quem é exigido muito na parte final da película. O que dizer então da inssosa Antje Traue, que encarna uma heroína de ação apática e clichê?

Pandorum pode envolver, intrigar e até satisfazer um tipo de público com seu clima “terror no espaço”, mas realmente não intimida. Finalizando-se como uma obra convencional apesar das ocasionais boas idéias, assume a transparência diante da falta de textura de seus personagens. Porque, no fim das contas, não são as criaturas aterrorizantes ou os conceitos originais que moldam uma boa ficção-científica, mas sim o aspecto humano do qual ela está disposta a resgatar. Noção infelizmente subjugada pelo roteirista e ignorada por Alvart, que perde uma boa oportunidade de explorar o conceito mais intrigante do filme: o tal "pandorum" do título, uma espécie de condição psicológica causada por tempo excessivo no espaço que gera paranóia, alucinações e tendências homicídas. Conceito que vem a ser abordado apenas a poucos minutos do final de forma previsível e rasa. E é na forma superficial e leviana com que aborda suas boas idéias que Pandorum encontra sua fracasso.