Crítica sobre o filme "Curioso Caso de Benjamin Button, O":

Rubens Ewald Filho
Curioso Caso de Benjamin Button, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/05/2010

Muita gente o colocava como favorito do Oscar® 2009, ao menos até assistir ao filme, que resulta longo (desnecessários 159 minutos, que valem mais para contemplar os cenários, a direção de arte, a fotografia, e principalmente os efeitos especiais; dramaticamente, o filme é muito fraco). Não sei porque tanta vontade de adaptar este conto antigo de F. Scott Fitzgerald, que foi planejado para Tom Cruise (por Spielberg), John Travolta (por Ron Howard), Spike Jonze (não se sabe para quem), mas acabou sendo feita por David Fincher, superestimado diretor que acertou com Seven - Os Sete Pecados Capitais, criou polêmica com O Clube da Luta e, desde então sobrevive com prestígio (apesar de O Quarto do Pânico e Zodíaco).

Deve ter sido um projeto caríssimo e dificílimo, já que tudo é feito com algum tipo de efeito. Embora o conto original fosse uma sátira bem-humorada, o filme não tem vestígio de humor. É tudo muito sério, pretensioso, marcial, levando-se a sério (no original, ele já nascia grande; aqui ele nasce normal, mas com cara de velho, e todo tipo de doença da velhice). Chegam mesmo a dar uma explicação para o que sucede, ou seja, um cara que nasce velho e vai ficando cada vez mais jovem, até morrer. Segundo o filme, um criador de relógios inventou um em New Orleans que andava para trás, para talvez assim trazer de volta o filho, que morreu na Primeira Guerra.

Como é fantasia, não precisa explicar muito; aliás, o que deveria era explorar melhor o relacionamento do ser humano com a velhice, com o inevitável envelhecimento. Mas o roteiro é fraco e mal desenvolvido; ao mesmo tempo muito falado e pouco convincente (por exemplo, o herói, embora criado num asilo de velhos, onde foi deixado pelo pai - que o rejeitou após a mãe morrer - e por uma negra, em momento nenhum revela qualquer consciência social, ou preocupação pelos outros e, mesmo sendo New Orleans, e tenha aprendido a tocar piano, revela qualquer simpatia pelo jazz local, que nascia na sua velhice/juventude). Por outro lado, Fincher força a barra, fazendo com que a história se desenvolva quando o grande amor da vida dele, a bailarina Daisy (Cate Blanchett) esteja no leito de morte, num hospital, justamente quando chega o furacão Katrina. Mas até isso é mal usado.

O bonito do filme é o cuidado com que reconstrói o passado, os pequenos detalhes de cenografia e a qualidade da maquiagem, perfeita, dos protagonistas, já não tão boa para os coadjuvantes. O charme do filme é que a cara de Brad Pitt, aparece sobreposta em cima de corpos alheios (ele começa com mais de 80 anos, muito encolhido, como se fosse mesmo um bebê, e depois vai ficando normal para o final; aí, acho errado ser substituído por crianças diferentes). Ou seja, o truque funciona por vezes, mas não explica porque não é usado sempre.

Isso não quer dizer que o filme não vá ter defensores. Está evidente que muitos vão se envolver com o clima bonito da história e parece que o mais favorecido será Brad Pitt. Noto uma tendência atual de passar a valorizar este ator, já quase veterano, que conduz bem sua carreira, sempre carismático, e hoje forma o casal 20 do cinema com Angelina Jolie. Ele tem chances mesmo de ganhar o Oscar®.

Mas está bem? Sim, como sempre, correto. Talvez o tempo todo que levava na maquiagem (dizem 5 horas) tenham lhe roubado a energia, e esteja menos presente do que o desejado. Mesmo Cate Blanchett, que toma banho digital para ficar mais nova, não chega a impressionar especialmente. Ou seja, o favorito já não convenceu tanto quanto se esperava.