Por Wally Soares
| Data: 06/05/2010
O conceito da série Premonição, iniciada em 2000 com o exemplar eficiente (ainda que falho) de James Wong, é certamente curioso. Para um gênero que se tornou tão clichê e desgastado, é sempre um prazer quando alguma boa idéia surge em Hollywood. No original, um jovem escapa de uma tragédia por uma premonição vÃvida que possui de seu avião explodindo. Ele salva um número de pessoas mas, com o tempo, cada uma delas vão morrendo uma por uma, em mortes bizarras e incomuns. O conceito aqui era de que a Morte em si vinha para buscar os sobreviventes. O filme foi muito divertido e bem sucedido. Sua sequência, de três anos depois, também agradou apesar da queda em qualidade. Outros três anos se passaram e veio Premonição 3, que eleva o leve humor que cercava o capÃtulo anterior, entregando-se a auto-paródia. O terror era inexistente enquanto mortes estúpidas e exageradas causavam o riso alheio. Curto e grosso: era Cinema ruim. E, dirigido pelo mesmo condutor do segundo filme, esperava-se uma recuperação neste quarto filme. O que não veio. Se o terceiro foi ruim, é necessário inventar um adjetivo novo para descrever este “último capÃtuloâ€.
Denominado O Destino Final em terras estadunidenses (os filmes da série são chamados lá de Destino Final – portanto, o “O†ao inÃcio do tÃtulo deste quarto filme daria a entender que tratava-se realmente do último capÃtulo), esta pelÃcula – como as anteriores, inicia-se com uma grande tragédia. A série já teve acidente aéreo, em rodovia e, no antecessor, até em uma montanha-russa. Desta vez é em uma pista de corrida de carros. Repetindo a fórmula, um adolescente – Nick (Bobby Campo) – premedita a catástrofe, retirando do local um grupo de pessoas ao passo que o acidente que ele premeditou realmente ocorre. Algum tempo depois, estas mesmas pessoas que ele salvou começam a morrer de formas curiosas. Nick, ao lado de seus amigos, tenta então enganar a Morte, buscando meios de se salvar.
Primeiramente, vale notar que Premonição 4 foi arquitetado como uma atração – lançado nos cinemas no formato 3D, desde o inÃcio da pelÃcula notamos a propensão de elementos a serem jogados em direção a audiência. Certas mortes do filme, aliás, parecem ter sido idealizadas – antes de tudo – tendo em vista sua funcionalidade e eficiência no 3D. Ao contrário de obras como Avatar, portanto, o 3D aqui não soa em nada orgânico. Quando os roteiristas flexionam sua história apenas para satisfazer a necessidades burocráticas, denota-se que antes de Cinema, eles estavam preocupados em fazer uma atração. E não é disso que trata-se a sétima arte. Ironicamente, o único momento mais interessante do filme resulta de uma sacada divertida com o efeito do 3D, em sequência que se passa dentro de uma sala de Cinema. Se a idéia do 3D é fazer elementos saÃrem da simples dimensão plana da tela, o que acontece então quando algo realmente explode do outro lado da tela, fazendo repercutir tragicamente suas consequências na audiência inocentemente conferindo um filme em 3D? Na minha visão mais cÃnica, chega a ser uma auto-paródia (seria o 3D tão perigoso?).
O fator tri-dimensional, porém, não chega a ser nem de perto o maior problema do filme. Completamente medÃocre, a obra é mal dirigida desde sua simplória cena de abertura (que fica devendo – muito – para as sequências iniciais de tirar o fôlego dos dois primeiros filmes) até seu desfecho covarde. O roteiro, por sua vez, é expositivo. Sua criatividade se resume ao exagero das mortes contidas na metragem – somam ao todo 11 cenas de morte, recorde para a série – deixando à deriva uma trama que não se desenvolve, permanecendo estagnada no óbvio e trilhando os mesmos caminhos já percorridos incansavelmente pelos filmes anteriores. A criatividade propriamente dita das mortes, porém, não deveria ser vista como um elogio. Se nos dois primeiros filmes a Morte surgia tenebrosa e sutil – e, especialmente no primeiro, o diretor soube criar um forte clima de suspense pela sugestão forte de que a Morte estava por perto – o terceiro já abriu a porta para o extravaso. A Morte aqui é tão extravagante quanto. As visões que os personagens possuem (premeditando as mortes) surgem em efeitos especiais artificiais, sem qualquer fundo mais misterioso ou orgânico. E é tudo muito histérico, um perverso que beira o pastelão.
Premonição 4 falha então em envolver, divertir e, principalmente, em criar qualquer tensão (ou medo). Não há cuidados estéticos (a fotografia é totalmente convencional) e os próprios efeitos especiais incomodam, surgindo terrivelmente deslocados em meio a sequências que pedem realismo. Com a morte da compositora regular da série, a trilha sonora falha lamentavelmente até, ao fim, em um ato de desespero, reciclar a música tema excelente do primeiro filme. Em termos, é disso que o filme se trata: da reciclagem. De idéias, personagens, tramas e artifÃcios. A originalidade é tão nula quanto o entretenimento – a falta de ritmo, alias, é pavorosa.
No fim das contas, as cenas de morte oferecem aquela satisfação perversa a qual a audiência já está acostumada. Algumas chocam, outras causam risos. Mas em geral não existe consistência ou um verdadeiro filme para que elas possam funcionar. Se o filme não se levasse tanto a sério, alias, talvez as mortes absurdas poderiam ter sido aceitáveis dentro de um contexto mais trash. Mas até os atores acham que estão em um filme sério. Fazem caras e bocas exageradas, choram, gritam e aterrorizam-se – todos um tanto patéticos, vale dizer. Mas o elenco – como o 3D fracassado – é o menor dos problemas de um filme realmente trágico. Mais trágico ainda é saber que, apesar do tÃtulo original sugestivo e de declarações prévias do estúdio, vai mesmo haver um quinto capÃtulo. O que chamamos de causa e consequência em Hollywood. (Wally Soares)