Crítica sobre o filme "Planeta 51":

Wally Soares
Planeta 51 Por Wally Soares
| Data: 28/04/2010
O cinema norte-americano está saturado de filmes sobre invasões alienígenas. Portanto, é sempre bom quando o gênero ressurge com uma abordagem original. Logo de início, é essa impressão de refresco e novidade que Planeta 51 inspira na audiência. A sequência inicial caracteriza-se por um ataque alienígena como tantas outros que o Cinema já projetou. Espertamente, o diretor revela a invasão destacando apenas as criaturas alienígenas, deixando os habitantes do planeta nas sombras. Para quem está se aventurando em Planeta 51 sem saber exatamente do que se trata, vai cair na armadilha do cineasta e acreditar que é o planeta Terra que está sendo atacado. O que não é o caso. A invasão alienígena ocorre em um planeta alienígena. A sequência faz parte de um filme-B sendo exibido em uma cinema do planeta 51. Não delonga, porém, até que o planeta seja realmente visitado por uma raça alienígena: o ser humano.

Esta revira-volta da fórmula é o que impulsiona esta animação modesta – oriunda de um estúdio novo e inexperiente chamado Ilion Animation. Os habitantes do planeta são gente como a gente, com a diferença óbvia de estética e maneirismos. Quando uma nave pousa no quintal de sua casa, revelando um astronauta assustador, o jovem Lem o teme de início para depois tentar ajudá-lo, já que os habitantes do planeta o enxergam como uma grande ameaça – equiparada aos alienígenas que devoram mentes dos filmes-B que assistem.

Apesar do enredo promissor, o alcance de Planeta 51 é terrivelmente limitado. Inicia-se curioso, desenvolvendo algumas boas piadas e nos inserindo naquele mundo com eficácia. Aos poucos, porém, o roteiro começa a se repetir. A falta de um conflito mais interessante pesa, o ritmo vai caindo e os personagens vão se tornando caricaturas um tanto óbvias. Não ajuda também o fato de quase todos os personagens serem retratados com um nível de QI extremamente baixo. O próprio ser humano que visita o planeta, alias, é um estereótipo cansado – cujas tentativas de humor sempre revelam-se falhas.

Como dito, o longa-metragem até começa mostrando potencial. Exibe sacadas bastante criativas ao conceber certos detalhes daquele mundo que desconhecemos e insere um ou outro personagem engraçado. Mas é como se, após algumas boas idéias, os roteiristas tivessem simplesmente abandonado qualquer esforço. A narrativa não se desenvolve com firmeza ou charme, exibindo uma clara preguiça ao compor os dilemas com maior consistência ou mesmo originalidade. E, assim que perde o fôlego antes mesmo de atingir a primeira hora de duração, a animação não se recupera mais, quase assumindo sua fraqueza como exercício cômico e dramático. Não sentimos, portanto, pelos personagens e, por consequência, não nos envolvemos nos conflitos que tomam conta da narrativa.

Para um público mais adulto, Planeta 51 realmente não possui muita atração. Por outro lado, pode ser que o público alvo sinta-se atraído pelos personagens alienígenas que fogem do que as crianças estão normalmente convencionadas a assistir. Apesar do mundo novo e dos personagens bizarros, porém, o enredo é tão óbvio quanto qualquer outra animação que segue a fórmula a risco. E aqui pouca coisa inspira um charme mais abrangente e poucas idéias se desprendem da direção limitada. A própria estética da película é fraquinha, provavelmente tendo em vista o curto orçamento do pequeno estúdio. Isso, porém, poderia ter sido corrigido com um pouco de criatividade por parte dos animadores. Os habitantes do planeta 51, por exemplo, são comuns. As mulheres usam vestidos e os homens usam apenas camisa (no estilo Pato Donald). Faltou ousadia na hora de transformar esse mundo extra-terreste em um local de puro escapismo e imaginação ilimitada. Planeta 51, infelizmente, configura o oposto desta definição.

Podemos então nos divertir de início com uma referência ao clássico O Dia em que a Terra Parou e com o surgimento de personagens hippies que inicitam o amor – uma personagem chega até a parodiar o discurso “the times they are a-changing†de Bob Dylan – mas no final das contas Planeta 51 é insosso e completamente esquecível. Seu efeito inibido o torna dispensável, revelando pouco potencial para o estúdio Ilion Animation ou mesmo para o diretor estreante Jorge Blanco. Mais sorte na próxima. (Wally Soares)