Sem sombra de dúvidas, Cheri era um dos filmes mais esperados por mim no ano passado. Primeiro por causa de Michelle Pfeiffer, que causou frisson no festival de Berlim do ano passado, e por ser uma das minhas atrizes favoritas. Segundo por Stephen Frears, diretor que sempre me agrada, e terceiro por ser a volta de uma parceria dele com Christopher Hampton, que roteirizou o excelente Ligações Perigosas (trabalho alias que lhe rendeu o Oscar® de melhor adaptação). O filme, em seu total, era uma das grandes apostas do ano passado...mas por não ter sido bem recebido nem pela critica nem pelo público acabou sendo injustamente esquecido nas premiações, principalmente pelo fato de ter uma parte técnica impecável. Pois bem, temos que observar que o clássico “Cheri” de Colette é uma tragicomédia que tem como característica principal a proximidade da narrativa com o leitor, algo que no filme, infelizmente não conseguiu ser passado ao público...mas vamos à história.
O filme se passa no século XIX e retrata o romance iniciado entre Lea de Lonval uma antiga e famosa cortesã (Pfeiffer) e Cheri (Rupert Friend) que é filho de uma outra cortesã, a Madame Peloux (Kathy Bates, ótima no papel) que depois de algum tempo concordando com o caso do jovem com Lea, corta a asinha do casal ao prometer Cheri para Edmeé (Felicity Jones). Resultado? Lea e Cheri descobrem que amam perdidamente um ao outro e não sabem lidar com a situação. O problema é que o filme acaba se embasbacando na sua linha narrativa e não conseguimos identificar que esta é uma tragicomédia, mas sim um filme que se perde no gênero o qual aborda. Mas o longa tem seus méritos e um deles é a excelente atuação de Michelle Pfeiffer que mostra que continua lindíssima e grandiosa... Rupert Friend também não faz feio como Cheri, embora pra mim ele esteja muito melhor em The Young Victoria no qual interpreta o Príncipe Albert... e Kathy Bates está hilária e ótima como sempre.
A parte técnica é uma caso à parte, da direção de arte formidável de Mark Raggett, até os figurinos magníficos de Consolata Boyle (que injustamente não foi indicada ao Oscar® este ano por este figurino) passando pela trilha lindíssima do sempre acima da média Alexandre Desplat (que acabou indicado ao Oscar® este ano por outra trilha, a da ótima animação O Fantástico Senhor Raposo) fica difícil entender como o filme foi esquecido em suas partes técnicas...mas talvez o fato dele ter estreado em junho do ano passado nos Estados Unidos, tenha prejudicado o seu resultado final.
Enfim, este é um bom filme, que com certeza merece ser visto pelo menos por Michelle e, embora não seja uma obra prima, entretém e tem um visual excelente. (Viviana Ferreira)
.
Houve um tempo em que a atriz norte-americana Michelle Pfeiffer desfilava amiúde sua elegância por cenários cinematográficos de época. Ela está de volta a uma ambientação de época em Chéri (Chéri; 2009), coprodução internacional (envolve capitais germânicos, franceses e do Reino Unido) dirigida pelo inglês Stephen Frears. No auge de Michelle em trajes de época Frears a dirigiu em Ligações perigosas (1988), uma narrativa extraída dum clássico literário francês de Choderlos de Laclos. Em Chéri Frears busca sua história em outro clássico literário da França, um romance publicado em 1920 pela escritora Sidonie-Gabrielle Claudine, ou simplesmente Colette. Christopher Hamtpon, roteirista inglês e também eventualmente diretor (rodou uma obra intelectual de época, Carrington, dias de paixão, 1995, e O agente secreto, 1996, baseado em texto do polonês-inglês Joseph Conrad), foi quem cometeu o prodígio de roteirizar para Frears a obra-prima de Laclos e agora brinda o realizador britânico com outro roteiro estruturado e agudo. Pelo que se vê em Chéri, a química Frears-Pfeiffer-Hampton-literatura-francesa volta a funcionar, vinte anos depois de Ligações perigosas.
Unindo o aparato técnico da produção à sua sensibilidade de artista, Frears transforma Chéri numa visão desorientadora da dimensão trágica do amor. Aquilo que poderia ser uma história trivial de paixão entre uma madurona e um jovem instável à caça de aventuras se metamorfoseia nas mãos de Frears num processo de sedução estética que reedita seu feito de Ligações perigosas. Captando os tons decadentistas da Belle Epoque francesa da virada para o século XX, auxiliado pelas nuanças fotográficas desmaiadas de Darius Khondji, pelas marcações musicais exacerbantes de Alexandre Desplat e pelos figurinos plasticamente críticos de Consolate Boyle, Frears roda um filme tão apaixonante quanto seu tema, a paixão. E nada pega melhor a perplexidade da paixão humana que aquele primeiro plano final do rosto de Michelle Pfeiffer, após a separação definitiva de seu amante (que logo se suicidará, diz o texto-over sobre a imagem da perplexa personagem feminina): é a tradução, num quadro antológico, daquilo que o filme quadro a quadro vinha expondo.
P.S.: Christopher Hampton também foi o roteirista de outra produção europeia importante, Desejo e reparação (2007), de Joe Wright. E o jovem ator que vive Chéri, Rupert Friend, lembra, por seu estar-em-cena debochado e fútil bastante apropriado para o papel, um jovem Pierre Clementi, intérprete francês bastante requisitado nos anos 60 do século passado. (Eron Fagundes)