Crítica sobre o filme "2012":

Wally Soares
2012 Por Wally Soares
| Data: 23/03/2010

Vez ou outra surge um filme que, de necessidades especiais, cruza a linha tênue que separa o plausível do inverossímil. 2012 é um desses casos. Para que possamos apreciá-lo de forma que faça jus à sua proposta, é preciso - antes de qualquer coisa - aceitá-lo pelo que ele é. E 2012 é um filme de Roland Emmerich, antes de tudo. Além disso, é entretenimento que não dá a mínima para aspirações artísticas, arcos dramáticos elegantes e cinematografia que vá além do burocrático. Porque, então, é um bom filme? Emmerich sabe o que está fazendo e realiza um blockbuster que não se desculpa pelo que é: gratuito, insano e divertido. Desde a sequência inicial de destruição arrebatadora até o desfecho moralista bem pastelão, 2012 é uma brincadeira. Mas uma de bom gosto. E, se você estiver apto para levar na esportiva, é bem capaz de encerrar a sessão com o sorriso apropriado de quem foi entretido.

O conceito da película parte da profecia Maia que prevê o apocalipse no ano de 2012. Com isso em mãos, o longa-metragem traz consigo um cataclismo global estarrecedor. Desde o movimento de placas tectônicas de Los Angeles, causando um terremoto sem igual, até o despencar do Cristo Redentor no Rio, o filme assiste ao fim do mundo ao passo que segue os esforços de um grupo seleto de pessoas em busca de sobrevivência. No papel de herói surge Jackson Curtis (John Cusack), um romancista fracassado que tenta salvar sua família enquanto o caos reina ao seu redor. Entre discussões políticas, paranóias de conspiração e muita destruição, ainda sobra espaço para a família lidar com sua dinâmica problemática.

2012 não é território novo para Emmerich, que construiu uma carreira em cima de grandes sucessos sobre catástrofes. De Independence Day, passando pela imbecilidade de Godzilla e chegando ao auge com o bom O Dia Depois de Amanhã, Emmerich adora destruir e, em seu último filme, 10.000 a.C. , quase destruiu a sétima arte em si. Não é algo bom que 2012 traga consigo o mesmo co-roteirista deste fiasco anterior do cineasta. É Harald Kloser quem nos submete aos piores dos diálogos e ainda o responsável pela trilha sonora fraquíssima. Mas enquanto os diálogos ruins servem para delinear a aura trash da película, a música péssima acompanha, nos lembrando cena após cena que não podemos levar o que estamos vendo muito a sério. Em outras palavras, 2012 tem aquela típica ruindade desculpável. Por pouco, mas tem. Permite-nos abraçá-lo pelo guilty pleasure que é.

Especialmente conclusivo para quem tiver a sorte de conferi-lo nos cinemas, os efeitos de 2012 são verdadeiramente impecáveis. A cena de destruição de L.A. é sem dúvida alguma o momento mais expressivo da catástrofe hollywoodiana, impressionando pelo detalhismo e pela simples empolgação. O filme segue essa lógica de destruir em larga escala e sempre é exigente do espectador no sentido de que requer que haja uma suspensão de crença. Isso feito, até que dá para aceitar os extremos aos quais Emmerich vai na sua perversa busca do declínio global. Alias, o diretor chegou a declarar que este seria seu último filme catástrofe e que, justo por isso, não hesitaria a tomar medidas extremas. Talvez por ser tão descarado e “grande” 2012 funcione tão bem diante do que promete. Mesmo quando pende para uma aura desnecessariamente melodramática, mostrando que se importa pelos personagens, o filme não incomoda como seria de se esperar. Ainda assim, trata-se de um incômodo muito relativo e que pode vir a se concretizar diante das exigências de cada um. Emmerich almeja destruir o mundo, não agradar gregos e troianos.

É impossível ignorar os defeitos de 2012, seja na esquizofrenia do roteiro recheado de muita besteira ou a direção excessivamente ancorada em efeitos especiais. Com exceção de sua parte técnica primorosa, não há muito que celebrar ou elogiar em 2012. Isso não quer dizer, porém, que não possamos nos divertir. E o longa-metragem proporciona isso sem que com isso tenha que subestimar nossa inteligência completamente. Emmerich ridiculariza e ama o excesso, mas entende exatamente o que seu público alvo quer quando paga o ingresso ou o valor da locação. Sendo assim, constrói o filme catástrofe definitivo, arquitetando um longa que é basicamente uma colcha de retalhos de cenas de destruição em massa. Como resultado, o público, devidamente em transe, agradece.

Entorpecido pelo espetáculo visual e sonoro irrepreensível, dificilmente o espectador terá tempo para criticar ou reclamar. Apesar da duração tão gigante quanto sua ambição, 2012 é inesperadamente rítmico e nem um pouco cansativo. Ainda que o ato final seja levemente irritante pela tolice em abraçar o moralismo com tamanha convicção, a esse ponto nem o elenco artificial incomoda mais, escancarando a capacidade de Emmerich de envolver sua audiência mesmo diante do implausível. Curtindo a película ou não, ao menos a atuação de Woody Harrelson, loucamente fora dos trilhos, representa uma sólida virtude. Mesmo que, em síntese, seja basicamente tão insana quanto o próprio filme. (Wallyson Soares)