Por Wally Soares
| Data: 22/01/2010
Quando O Sequestro do Metrô 123 tem inÃcio, reconhecemos - logo nas primeiras tomadas - que trata-se de um filme dirigido por Tony Scott. Eis um cineasta que, desde que realizou o ótimo Chamas da Vingança, parece ter se prendido à um estilo de vertigem técnica e visual a qual decidiu aplicar a todas as suas obras posteriores. Assim sendo, O Sequestro do Metrô 123 surge cansado, enfadonho e incômodo. É um filme que começa sem personalidade, por incansavelmente adotar um estilo que é puro excesso. Por mais que seja um filme cansado de Scott, porém, é também uma obra beneficiada por elementos isolados e por um roteiro que esconde sua parcela de virtudes. É uma pena que tenha sido Scott o escolhido para ser o piloto desta obra, porque ele a deixa à deriva de qualquer complexidade, trilhando pelos caminhos enfadonhos de retratos burocráticos e simplistas.
Refilmagem do clássico de 1974 e baseado em romance de John Godey, o longa-metragem é um conto policial que inicia-se com o sequestro inusitado de um vagão de trem. O assalto realizado por quatro homens é liderado por Ryder (John Travolta), um ex-presidiário cujas intenções no assalto não surgem muito claras. Ele logo entra em contato com o supervisor da linha de trem, Walter Garber (Denzel Washington). Provisoriamente no cargo enquanto sua suspeita de aceito de suborno é investigada, Walter cria um elo com Ryder enquanto o mesmo exige 10 milhões de dólares e promete matar reféns caso não tenha o dinheiro em menos de uma hora. Enquanto o dinheiro é transportado e o caso se torna público, o papo entre os dois homens deixa a situação ainda mais tensa e frágil.
O grande problema de um filme como O Sequestro do Metrô 123 é que ele se dá ao luxo de seguir regras. Apenas mais uma fita policial, é um filme que surge bastante regular pois, de forma bem clara, não anseia ser mais que isso. Scott se acomoda demais na história, no que os diálogos e os personagens tem a oferecer, e esquece que é necessário ter eletricidade. Mas não existe muito suspense ou emoção em jogo aqui. Assistimos à obra impassÃveis e interessados. Nos acomodamos à história, como o diretor fez, e ficamos instigados pelo o que está havendo. A instigação não resulta em muito, porém, já que Scott não conduz com adrenalina ou introspecção. Elementos estes que nascem naturalmente de um texto cheio de coisas boas exploradas de formas corriqueiras. No finas das contas, o que quero dizer é que O Sequestro do Metrô 123 não é um filme ruim. Mas também não vai muito além de ser um longa-metragem correto - para dizer o mÃnimo.
Apesar disso, assistimos aos pouco mais de cem minutos de O Sequestro do Metrô 123 com certo interesse, ainda que nem sempre terminemos satisfeitos. Os diálogos são coerentes ao construÃrem um clima palpável e nos mantermos atenciosos à dinâmica que surge entre os personagens de Ryder e Walter. Enquanto Ryder sucumbe à caricatura sob a autoria de Travolta, abraçando o estereótipo e se entregando ao overacting, Washington resgata uma sensibilidade que a muito não se via em uma atuação sua. Não que o roteiro lhe dá espaço para realizar algo consistente, mas dentro das limitações almeja criar um personagem que resgata um pequeno fascÃnio. Pequeno sendo a palavra chave. É o suficiente, porém, para tornar momentos ora enfadonhos do filme em sequências interessantes. E é exatamente o que Scott precisa para soprar alguma vida à estrutura pobre de seu filme.
A condução de Scott é tão leviana e imprudente que, quando ocorre alguma revira-volta na trama, a impressão é terrivelmente mÃnima. Não incita um envolvimento mais emocional da audiência porque não assume segurança ou desenvoltura. Então o trabalho difÃcil fica por conta do roteiro de Brian Helgeland, um escritor que mais decepciona do que impressiona. Em O Sequestro do Metrô 123 ele se torna vÃtima de armadilhas, estereótipos e amarras que diluem o humanismo de um texto ambicioso. Não vai muito longe, portanto. Suficiente, ao menos, para nos manter entretidos. E Helgeland reconhece que a força da obra reside nos diálogos sugestivos e no embate entre personagens. O furor da pelÃcula teria sido maior se Travolta estivesse à altura de Washington, mas ao menos seu personagem esconde alguma densidade, surgindo não só como ladrão ex-presidiário, mas como um ex-acionista da bolsa e um homem que abraça o catolicismo assim como a violência. Seu retrato poderia ter sido o grande triunfo da obra, mas é subjugado ao unidimensional de forma covarde.
O Sequestro do Metrô 123 é recomendável porque é inofensivo e digerÃvel, assistÃvel e bom, contra todas as probabilidades. Tony Scott tem essa sorte de conseguir produzir filmes que se tornam recomendáveis apesar de sua mediocridade. Ainda que Déjà Vu tenha significado um avanço à Domino: A Caçadora de Recompensas, sua nova atribuição cinematográfica não manteve o padrão. É preciso deixar bem claro que este é um filme que funciona por valores que não estão de forma alguma amparados por Scott, que por sua vez destaca-se como o principal problema da pelÃcula. Seu desleixo é caracterÃstico de uma acomodação bastante assustadora. Se todo cineasta se submeter à preguiça de reciclar vÃcios técnicos e visuais e esquecerem de contar histórias, o cinema está perdido. Felizmente, porém, não trata-se de um filme apenas de Tony Scott. Por isso, O Sequestro do Metrô 123 ultrapassa a tênue linha que separa o totalmente dispensável do adequadamente assistÃvel. (Wally Soares)