Crítica sobre o filme "B13-U: 13º Distrito Ultimato":

Wally Soares
B13-U: 13º Distrito Ultimato Por Wally Soares
| Data: 20/09/2009
Em B13: 13° Distrito, o especialista em filmes de ação Luc Besson (que já dirigiu, produziu e roteirizou inúmeros, incluindo O Profissional e Carga Explosiva) entregou um derradeiro filme de ação. Apesar de não ter quebrado nenhum paradigma, ou ter trago nada de realmente renomado, B13: 13° Distrito foi um filme de ação rasgadamente sujo e desenfreado, contendo sequências de luta impecáveis e uma história imensamente convincente, com direito a crítica social. Comandado por Pierre Morel (de Busca Implacável, também produzido por Besson), o filme foi um sucesso. Então, levando em conta que sequências são quase procedimentos padrões na filmografia de Besson, seria só uma questão de tempo até que B13-U: 13° Distrito-Ultimato desse às caras, no Brasil chegando diretamente nas locadoras (como seu antecessor). Com a saída de Morel da condução e do colaborador de Besson na assinatura do roteiro, a sequência perdeu bastante. Ainda assim, o longa traz muitas das virtudes que marcaram o anterior. Empolga, entretém e mantém o gosto ácido (ainda que em menor grau).

"B13-U" é uma sequência direta do original. Em outras palavras, o filme pode sim ser apreciado por um público novo, mas eles ficarão um pouco perdidos diante de trama e personagens. Quando o primeiro filme chega ao fim, um acordo é selado com o governo, promessas são feitas e os heróis seguem seus caminhos. Ao início do segundo filme, que se passa em 2013 (três anos depois), vemos que as promessas não foram cumpridas, e as coisas em Paris ainda estão fora de controle. No futuro retratado pelos filmes, Paris possui uma periferia dividida em distritos. O 13° Distrito, em especial, é afundado na miséria, na violência e no tráfico. Em outras palavras, um verdadeiro fardo para o governo, que tomará medidas drásticas para tê-lo destruído. Nisso, os heróis Damien (Cyril Raffaelli) - um agente de operações especiais - e Leito (David Belle) - um morador do distrito - se reúnem em uma revanche contra bandidos e o maior vilão de todos, o governo.

Novamente, somos presenteados aqui com uma pancada de sequências de ação, momentos empolgantes e um ritmo ágil virtuoso. Assistir ao filme não é problema. Mesmo quando este apresenta seus defeitos e suas frivolidades, mantém-se inofensivo diante do divertimento que entrega, mantendo o espectador impassível e interessado na trama que lhe é apresentado. Nisso, é valido dizer que "B13-U" é muito mais ambicioso que o original. O roteiro carrega altas doses de urgência social, e traz a tona vários debates sócio-políticos. Nem sempre funcionam como Besson talvez os imagina dando certo, mas garantem uma tridimensionalidade ao projeto, e ainda conferem à película cenas realmente interessantes e visceralmente instigantes. Não é tudo ação descerebrada. O filme tem algo a dizer que pode não ser fresco ou brilhante, mas que indubitavelmente adiciona à narrativa, moldando assim um entretenimento mais texturizado.

As cenas de ação continuam baseadas no le parkour, garantindo momentos muito bem coreografados, estilizados e repletos de adrenalina. Assistimos aos dois astros principais lutarem com vigor e satisfação plena. Alias, é interessante ressaltar que David Belle, protagonista do filme ao lado de Raffaelli, foi o fundador do le parkour, um estilo de defesa em artes marciais mais conhecido pela sua arte de deslocar, que por sua vez é traga a tona pelo filme nas inúmeras cenas que trazem seus heróis pulando de prédio em prédio como aracnídeos. A dinâmica entre Belle e Raffaelli também continua divertida, mas aqui é pontuada por diálogos horrivelmente rasos. As tentativas de humor do roteiro simplesmente não deram certo, e tiraram muito do brilho do filme. Dos 85 minutos do filme original para 100 desta sequência, é perceptível que a ambição não trouxe só virtude. Cenas desnecessárias existem aos montes, e momentos gratuitos, idem. Por outro lado, alguns momentos são muito bem bolados, como a primeira sequência que traz o personagem de Cyril Raffaelli em ação, muito criativa.

A direção de Patrick Alessandrin é boa, filmando bem sequências de ação com o tom ágil e nervoso do primeiro longa. Alessandrin traz também um estilo mais frenético, que nem sempre empolga. Em vezes, as tomadas ficam muito caóticas, e a repetição de Alessandrin por certas tomadas mais impressionantes por outro ângulo não ficaram decentes, em um claro exagero. O cineasta também não almeja fugir do irregular quando entra em cena vários personagens de gangues diversas, numa boa idéia mal utilizada. No clímax, o roteiro traz a tona uma outra idéia no mínimo ácida em suas implicações, mas comete o erro de cair no artificial. Alias, o desfecho da obra não nos deixa com o gosto deliciosamente amargo deixado pelo primeiro, que havia sido um pequeno (mas eficiente) tapa na cara. Aqui, as coisas descambaram para o superficial, e a cena ficou imensamente moralista, fragilizando por completo o debate urgente que o filme havia trabalhado. Mas, quando "B13-U" termina, não são as discussões sócio-políticos provocadas que ficaram em mente (são apresentadas de forma muito solene para isto ocorrer), mas sim, o efeito "adrenalínesco" de sua ação estilizada. É um bom filme de ação que, apesar de ficar devendo ao seu antecessor, não deve em nada à maioria das obras hollywoodianas do gênero. Os franceses, com seu le parkour, fazem bem melhor.