O visitante (The visitor; 2007), filme norte-americano dirigido por Thomas McCarthy, tem uma sensibilidade diferente do rotineiro para se aproximar de suas personagens; igualmente seu ritmo cinematográfico é sinuoso, estranho, tem fissuras inabituais no cinema de todos os dias. A narrativa é lenta, às vezes excessivamente compassiva, aqui e ali parece indecisa e vaga, mas O visitante vai conquistando o espectador pelo inusitado de expor-se a certos pudores de filmar que se põem contra tudo o que de agressivo e duro o cinema de hoje trouxe para as telas.
O protagonista de O visitante é um professor universitário madurão; ele é escritor e trabalha para uma empresa que o contrata para dar palestras em congressos. O ator Richard Jenkins o interpreta, e é notável a precisão e a medição de gestos com que o intérprete compõe a melancolia trágica de sua criatura. Quando o professor dá com o casal de imigrantes ilegais (o jovem é sírio, ela é uma negra senegalesa) em seu apartamento de Nova York e depois mais tarde se relaciona a medo com a mãe do rapaz, ele descobre sua humanidade no meio das desumanidades burocráticas da sociedade americana.
Talvez O visitante não seja uma obra plenamente satisfatória, como já não era o filme anterior de McCarthy, o curioso O agente da estação (2003), pois falta ao cineasta o estofo do grande salto; porém pode-se dizer que é um filme que acaricia desabusadamente a sensibilidade secreta do público. Especialmente pela forma como McCarthy vai utilizando as nuanças das caracterizações de seus atores, todos intrínseca e etnicamente ligados a suas personagens. (Eron Fagundes)
. Thomas McCarthy é um diretor notável. Seu trabalho em O Agente da Estação é nada mais do que formidável, e em The Visitor ou O Visitante, ele obtém um resultado ainda mais fascinante, ao nos transportar para a reviravolta existente na vida do professor Walter Vale (Richard Jenkins, excelente), um professor universitário inteligentÃssimo, mas que depois da morte da esposa se fecha para a vida, sendo inicialmente uma pessoa restrita e até mesmo antipática. Mas tudo muda quando ele vai para Nova York substituir uma colega de trabalho em uma conferência, e chegando ao seu apartamento (ele mora em Connecticut, mas tem um apartamento em New York, entenderam cinéfilos?), ele encontra um casal vivendo nele! Não, eles não arrombaram a casa mas sim, foram vitimas de uma pessoa que alugou o apartamento para o casal. Enfim, Tarek (Haaz Sleiman, uma grata surpresa) e Zainab (Danai Gurira) são um bom casal, e logo Walter os convence para permanecer no apartamento. Sendo assim, ele acaba estabelecendo uma amizade com Tarek, mas tudo muda bruscamente quando, por um mal-entendido, Tarek é preso, e a situação se complica quando Walter descobre que Tarek e Zainab são ilegais no paÃs,sendo que ele fará de tudo para ajudar o amigo a sair desta situação. Contar mais da história é até covardia. O que eu posso dizer é que em uma certa altura da história aparece a mãe de Tarek, Mouna (a lindÃssima Hiam Abbass) criando uma ligação forte com o personagem principal Walter. O que dá um certo “up†à trama. Sobre as atuações, Richard Jenkins está soberbo. Sua atuação é tão correta, tão bonita, tão envolvente que é impossÃvel não gostar de seu personagem, que se inicia amargo e vai transformando-se em uma pessoa totalmente humanista. Haaz Sleiman como Tarek está ótimo! Eu nunca havia visto este ator anteriormente, mas realmente fiquei impressionada com a sua atuação, muito muito boa. E Hiam Abbass também está ótima como Mouna e como ela é linda! Na parte técnica o roteiro é sublime, assim como a sua trilha sonora, de Jan Kaczmarek, para mim, tão boa quanto a de Em Busca da Terra do Nunca! Enfim, o que me comoveu neste longa foi a sua simplicidade, que eu vi também, em Once - Apenas uma Vez, claro as histórias são bem distintas, mas a temática emotiva flui de modo genial em ambos os filmes. É simplesmente para mim um dos melhores de 2008. Embora O Visitante seja especial demais, assim como um lindo por do sol, ou uma noite de luar... (Viviana Ferreira) .Não foi um grande ano para o cinema independente americano, e já há algum tempo o Festival de Sundance tem dado sinais de crise. Agora, com a recessão, a coisa pode ainda piorar. Da safra, só despontaram Rio Congelado (Frosen River - 2008), que não era nada demais, e este O Visitante (The Visitor - 2007), que também não é nenhuma maravilha. Mas numa época de vacas magras, conseguiu dar uma indicação de melhor ator para Richard Jenkins, um daqueles atores que você já viu a cara, mas não lembra do nome. Eu francamente me lembro dele da série A Sete Palmos (Six Feet Under), onde era o pai da família, que morria no primeiro capitulo, e voltava como fantasma. Entre outros filmes fez O Reino, Dizem por Aí, Quase Irmãos, Dance Comigo, Doze é Demais, Huckabees, e assim por diante.
Não pensem que ele faça aqui algo de diferente. Continua com sua cara de mau de sempre, fazendo o tipo antipático e cínico em que se especializou, só que agora tendo a chance de demonstrar um lado mais humano, mais sensível. Ele faz um professor universitário viúvo, Walter Vale, que viaja para Nova York, para participar de conferência, e encontra um casal de negros africanos, emigrantes ilegais, morando em seu apartamento. Como é um liberal, acaba aceitando a presença deles ali, até fazendo amizade, que naturalmente irá se complicar quando a emigração os descobrir. O rapaz sírio é músico e a mulher senegalesa. A situação se torna mais séria quando aparece a mãe do rapaz, uma mulher ainda atraente, com quem ele começa uma amizade meio "Lemon Tree", "Munich", "Free Zone".
O filme é apenas isso, um drama que toma ressonâncias diante da política anti-emigração depois de 11 de setembro, escrito e dirigido com sensibilidade pelo ator Thomas McCarthy, que também fez antes o bom O Agente da Estação (2003). (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 16 de março de 2009)