Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 20/07/2009
Sabe-se que o cineasta italiano Valério Zurlini prolongou o denso humanismo erigido pelo maior dos criadores cinematográficos italianos, Roberto Rossellini. Mas Zurlini não é um copista, não é um dos muitos imitadores sem personalidade própria que o cinema habitualmente despeja geração após geração. Zurlini adapta as influências rossellinianas a seu jeito próprio.
Em Mulheres no front (Le soldatesse; 1965) ele se vale mais claramente da “melancolia da guerra†que há em algumas obras de Rossellini, especialmente em Roma, cidade aberta (1945) e no tardio e maravilhoso Uma noite em Roma (1960); o espÃrito desesperançado do homem no cenário torpe da guerra é visto por Zurlini com uma profundidade moral que se aparenta à quela de Rossellini, mas Mulheres no front tende a uma aspereza de filmar que torna seus aspectos documentais mais rÃgidos, menos fluidos que aqueles que há em Rossellini, onde rigor e improvisação se casam com perfeição; em Mulheres no front Zurlini abdica da improvisação e seu rigor é estático, quase bressoniano, mas sem a textura plástica e ética que vemos em alguns dos melhores Zurlinis, A moça com a valise (1960) e A primeira noite de tranquilidade (1972).
Mulheres no front se volta para a campanha dos fascistas italianos nas montanhas da Grécia. E insere no roteiro a questão da prostituição na guerra: um grupo de prostitutas gregas é aprisionado pelos militares italianos para entreter e acalmar as tropas; é da tensão e das curiosas relações entre essas mulheres (algumas delas, especialmente) e alguns militares que Mulheres no front extrai seu fascÃnio doloroso e que em alguns momentos chega próximo daquela metafÃsica plástica que ele passou a cimentar a partir de Verão violento (1959).
Sem estar entre os grandes “filmes de prostitutas†da história do cinema, como Mulheres da noite (1947), do japonês Kenji Mizoguchi, e As noites de Cabiria (1957), do italiano Federico Fellini, pode-se dizer que, mesmo assim, Mulheres no front é uma obra que qualifica a filmografia expressiva de Zurlini. (Eron Fagundes)