Crítica sobre o filme "Milagre em Sta. Anna":

Rubens Ewald Filho
Milagre em Sta. Anna Por Rubens Ewald Filho
| Data: 15/07/2009
Spike Lee é um diretor extremamente respeitado. Com os ótimos Faça a Coisa Certa e Malcolm X ele conseguiu um status de grande diretor, principalmente por mostrar ângulos diversos de situações que envolvam a sua própria raça. Em Milagre em Sta. Anna, considerado por muitos seu projeto mais ambicioso, com um orçamento de R$ 45 milhões poderia ter sido uma obra estupenda, mas perde-se no meio do caminho sendo longo demais, e irregular demais.

Quando, na segunda guerra, quatro soldados negros se perdem, e um deles salva um garoto italiano, esses soldados vão parar em Santa Anna, cidade italiana da região de Toscana, onde eles acabam envolvendo-se com o local e com o povoado, até que surge uma série de momentos que vão caindo como cascata na mente do espectador, onde dada parte do filme tudo acontece muito rápido. Aliás, esse é o grande problema do filme: que tem 2 horas e 40 minutos de duração, e que em parte é muito lento, parte muito rápido, não atingindo uma homogeneidade. Mas a parte técnica marcante está lá, desde a sempre boa música de Terence Blanchard, à bela fotografia de Mathew Libatique. Só que em um filme que poderia ser muito, mas que tornou-se apenas morno, esses fatores acabam perdendo-se no meio do caminho.

Com um final açucarado e um elenco que vai apenas bem (destacando o sempre ótimo John Turturro como o detetive Tony Rucci) para mim é um filme longo demais para quem gosta de alugar filmes para passar o tempo e se divertir. Pra quem adora filmes de guerra é uma boa pedida, mas nada mais do que isto. (Viviana Ferreira)

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É inacreditável que Spike Lee, com toda sua experiência, tenha feito um filme com quase três horas de projeção. Razão básica de seu enorme fracasso nos EUA, e também aqui. Até porque não chega a ser um épico, e sua história enrolada não chega a um final satisfatório. É baseado num livro de James McBride, adaptado por ele mesmo. A história dá a impressão de querer celebrar e tornar mais conhecida a participação dos negros (que faziam parte de um destacamento chamado Buffalo Soldiers) na Segunda Guerra Mundial, em particular na invasão da Itália, mas começa em 1983, quando um funcionário dos correios, Negron, que estava vendo O Mais Longo dos Dias com John Wayne na TV, relembra que esteve na Guerra e logo depois mata a tiros, e sem explicação, um sujeito que lhe pede stamps (selos) que, por acaso, é também o nome de uma pessoa. A polícia (Turturro) e um repórter abelhudo (Levitt) tentam investigar e a história vai para a Itália, onde tudo teria transcorrido.

Esse moço fazia parte de um grupo que estava lutando na Toscana e que, por incompetência e descaso de um oficial, acaba sendo massacrado quase todo pelos nazistas, que continuam a resistir nas montanhas. Para lá vão quatro soldados, incluindo um grandão e meio bobo, que irá proteger um menino em perigo.

Eles se envolvem com a vida dos camponeses e partisans, para tudo acabar tragicamente, mais ou menos como no clássico dos Irmãos Taviani, A Noite de São Lourenço, que era mais conciso e tocante, mesmo poético.

Spike Lee bem que tenta, mas há personagens demais, a história vai e vem, se perde em meandros e, quando chega ao clímax, o público já está cansado e pouco interessado. Nem mesmo esse tal milagre chega a convencer, por mais católico que se seja. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 15 de maio de 2009)