Clint Eastwood já afirmou que este deve ser seu último filme como ator (até porque é difícil encontrar papéis para atores de 78 anos, como é o caso dele). Não chega a ser um problema, porque ele demonstrou muitas vezes que é um diretor muito competente (como recentemente em A Troca - 2008), com seu estilo direto, simples, sem frescuras. Mas já estávamos esquecendo que figura carismática ele tem. Fui até procurar um livro de fotos antigas, e fiquei ainda mais surpreso de descobrir que ele foi um homem bonitão, uma bela figura, já na época dos faroestes-spaghetti. E mantém a fama de machão neste policial, que é uma espécie de Dirty Harry aposentado, e o que sucederia com ele, caso morasse num subúrbio modesto e fosse obrigado a pegar em armas.
O roteiro explica e justifica bem as coisas. Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um veterano da Guerra da Coréia, que tem uma grande alegria na vida: manter em sua garagem, em perfeito estado de conservação, um carro Gran Torino 1972. Por isso que se aborrece quando um vizinho, um jovem coreano de família imigrante, mexe na máquina (a serviço de uma quadrilha de ladrões). Eventualmente, acaba se tornando amigo da família, e se envolve mais diretamente nos conflitos com os bandidos, até um final heróico (ou anti-heróico), conforme preferirem.
Curiosamente, a trilha musical é do filho de Clint, Kyle Eastwood (com Michael Stevens), e Clint co-escreveu a canção-tema, junto com Stevens, Kyle e o cantor Jamie Cullum, que a interpreta na trilha musical. Outro detalhe: este foi o filme de Clint de maior bilheteria nos EUA, chegando a US$ 132 milhões. Sinal de que o velho cowboy ainda se comunica com o público. Indicado aos Globos de Ouro de ator e canção, foi ignorado pelos Oscars. Mas é um drama policial sólido, bem feito, ainda que previsível.