Merecia melhor sorte este drama que, nos EUA, nem vai passar pelo grande circuito, estreando já em DVD. Uma triste sorte para Michelle Pfeiffer, quase cinqüentenária, mas ainda bela.
Se o filme tem um defeito é não ter escolhido, como ponto focal narrativo, ela e não o rapaz, mesmo porque mulher é sempre bem mais interessante do que homem, mais conflitada, mais sensÃvel. Decisão errada do roteiro, que atrapalha o filme que tem contra si o fato de que já começa com duas tragédias, e conclui com outra. Ou seja, é tão pesado e amargo que mal serve para um romance ou choro passageiro e catártico. Mas se é difÃcil, não dá para dizer que é ruim.
O diretor estreante David Hollander tem um olhar particular. Narra tudo de maneira obliqua, diferente, com muitos closes e planos estilizados, até desfocados. Fecha o ciclo concluindo como começou (parece que Ashton Kutchner é o narrador); rodado em Vancouver, no Canadá, mostrando um lado feio e triste da cidade. Vamos à história: Walter (Ashton Kutchner) é um rapaz de 24 anos, que pratica o esporte de luta livre em Iowa, e voltou para casa para ajudar a mãe (a grande Kathy Bates, a melhor do elenco) a cuidar da neta, já que a irmã dele foi brutalmente estuprada e assassinada. Agora, o possÃvel assassino está sendo julgado. Mas ele é um tipo tão travado, tão difÃcil de se expressar, que não consegue falar e por isso é solitário e triste (também infeliz no trabalho que faz, vestido de frango, promovendo uma lanchonete).
Linda (Michelle Pfeiffer) é uma viúva que tem um filho adolescente, que é deficiente auditivo - não ouve e não fala. Ele está traumatizado pela morte do pai, que foi assassinado na rua a tiros, por um antigo amigo, que agora também está sendo julgado num tribunal. Os dois se conhecem ao freqüentarem um grupo, que tenta ajudar familiares com problemas depois de mortes brutais. Aos poucos se aproximam, com Walter querendo ajudar o garoto, fazendo com que ele entre para o grupo de lutadores, e Linda chamando-o para sair (ela produz casamentos para o centro comunitário). E acabam tendo um romance.
Apesar da diferença de idade, não há grandes problemas. A mãe dele aceita, o rapaz deficiente gosta também dele, por isso não espere nada por esse lado. Os conflitos virão do fato da justiça, por vezes, ser cega, ou melhor dizendo, também sábia. As coisas se precipitam na conclusão de uma forma discutÃvel, e que nem sempre podem agradar.
O problema maior é outro. Enquanto Michelle não tem muito a fazer, senão chorar ocasionalmente, Ashton, fora de seu gênero, não consegue segurar o personagem. Ensaia uma forma de andar, tenta aumentar seu porte para parecer lutador, acerta na cena de comédia, no choro no casamento mas, quando tem um grande momento dramático, é constrangedor, vira um canastrão irremediável. Derruba o filme. Ou quase.
É uma pena, mas este é daqueles filmes até curiosos, que parecem condenados ao fracasso. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 13 de abril de 2009)