Quando chegamos ao clÃmax de
Passageiros, estamos desgastados. Tão desgastados, que o choque provocado por um momento especÃfico soa como se tivéssemos sido literalmente eletrocutados. E no bom sentido. O clÃmax do filme confere ao restante a significância que precisava para funcionar e, apesar da sessão ter sido bastante arrastada, é inegável como o diretor conseguiu nos segurar atenciosos, numa direção estranhamente segura de si apesar do material frágil. Então, para aqueles que forem pacientes e conseguirem enxergar além do mero suspense,
Passageiros é recomendável por ser um exercÃcio curioso em cinema. Falho, ocasionalmente aborrecido, e infelizmente cansativo a certo ponto, ele funciona por conter nuances que surgem de forma inesperada e nos fazem querer rever o filme assim que este se finaliza. E, só por provocar esta sensação no mÃnimo interessante, o filme já merece algum reconhecimento apropriado, ainda que reserve seus defeitos e ser, de fato, uma obra bem inferior à que poderia ter sido tendo em vista a força de seu desfecho. Oportunidades perdidas postas de lado, é um bom filme.
O longa inicia-se suficientemente interessante, e vai desenvolvendo sua vaga premissa de uma forma lenta, chegando a um ponto em que é muito provável que a audiência comece a questionar os princÃpios do filme e se ele irá chegar em algum lugar com aquela sua história cheia de elementos bizarros, personagens estranhos e tremenda irregularidade. A maior parte destas falhas se justificam ao final, quando descobrimos a verdade por trás de tudo que rege a obra. E muito faz sentido, ainda que outra parte soe implausÃvel. Em sÃntese,
Passageiros é um falho e difÃcil filme, que decididamente não é para todo tipo de público. Sua narrativa é contemplativa, seu desenvolvimento arrastado e tudo soa muito peculiar. O suficiente para evitar qualquer identificação por parte do espectador. E isso com certeza enfraquece a obra em si, mesmo que esta tenha planos maiores ao fim. O problema é que tanto diretor quanto roteiristas apostam demais neste fim, e no que ele trará de objetividade ao resto da metragem. E, de fato, isto ocorre. O problema é que o choque ao clÃmax poderia ter se elevado à um pique emocional fortÃssimo. Isso não ocorre porque até ali o filme estava sem pulso. É como se, ao ter passado dos setenta e poucos minutos de duração, ele tivesse tido uma parada cardÃaca e, numa esperançosa tentativa de revivê-lo, trouxeram-no de volta a vida. E foi um bem sucedido procedimento, já que o filme não só volta a vida, mas te atordoa com sua revelação curiosamente significativa e até fascinante.
Até tal momento de "fascinação" chegar, o melhor a se fazer é tentar ignorar os excessos e aguentar a falta ritmo moribunda do longa. Isso torna-se mais fácil levando em conta o talento irrepreensÃvel que Anne Hathaway confere à obra. Versátil e hábil, Hathaway constrói uma personagem que vai se tornando mais e mais enigmática conforme a metragem vai rolando não exatamente pelo que ocorre em sua volta (que por sua vez é bem curioso) mas pelo que a atriz a transforma via um desempenho notável. Seu par, o sempre competente Patrick Wilson, não decepciona. O resto do elenco não sai do lugar comum, com desempenhos mornos de Andre Braugher e David Morse. Dianne Wiest, por sua vez, encarna uma personagem inicialmente estranhÃssima, mas bem importante. Quem realmente faz uma diferença, porém, é Hathaway, que deixa tudo bem mais digerÃvel. Sua atenção por detalhes faz uma diferença na coesão da narrativa, já que Hathaway consegue imprimir nuances que provocam e nos deixam mais atentos quando o próprio roteiro falha imensamente neste aspecto. Ou seria a direção esgotada de criatividade e percepção? Deixo o julgamento a vocês.
O fato é que
Passageiros se lisonjeia. Se deixa levar solenemente pela força de seu clÃmax impressionante, e parece esquecer que o "resto" precisa se elevar do mero "curioso". A curiosidade pode pendurar até certo ponto, apenas. Chega a um ponto que o pulso, e quando digo pulso quero dizer o suspense, precisa ser acionado. Mas GarcÃa imprime um clima sempre exageradamente melancólico ao filme que o danifica. Em contraponto, ele dirige outros com uma atmosfera pesadamente sombria que instiga. E é quando GarcÃa almeja sair do lugar comum que nós a audiência conseguimos também, nos conectando com os personagens, ainda que muito limitadamente. E, quando chegamos ao fim, não conseguimos evitar mas sermos surpreendidos e deliciados por aquilo que estava a nossa frente o tempo todo, mas transparente à mera percepção. Mas talvez o fraco do filme seja realmente este. Talvez ele seja transparente demais. Um pouco de densidade e vigor emocional não faria mal. Frustrações de lado, é um filme recomendável por conseguir ser inesperado (algo cada vez mais raro) e dignamente atuado. Basta ser paciente.
(Wally Soares – confira o blog Cine Vita).
A distribuidora nem exibiu este filme para a imprensa, com medo da repercussão negativa, o que não impediu seu fracasso. O que é uma pena, porque é um modesto filme B, com elenco importante, a encantadora Anne Hathaway (que foi há pouco indicada ao Oscar por O Casamento de Rachel) e o astro da Broadway, Patrick Wilson (Watchmen), num thriller pequeno em metragem, e que tem uma história que, infelizmente, não podemos resumir sem contar do que se trata e estragar qualquer possÃvel prazer. Não dá nem para dizer com quais filmes ele se parece, porque a charada ficaria clara demais.
Resta dizer que o filme custa muito a começar, como se não houvesse muita história a contar (e eles não querem enveredar por histórias criminosas e policiais), e demora mais ainda a envolver os dois protagonistas: Eric é um sobrevivente de desastre de aviação, que parece ter adquirido poderes paranormais (o trailer do filme é bom, e mais sugestivo do que o resultado), quando conhece Claire Summers (Anne Hathaway), uma jovem psicóloga que, apesar de inexperiente e assustada, vai cuidar desse grupo de sobreviventes, enquanto acha que Arkin (David Morse) um diretor da companhia de aviação está escondendo alguma coisa. Enquanto isso, se constrói a história de amor entre o casal, que vai ajudar bastante o filme.
Com seu lado espiritualista, e também romântico, ele pode até agradar a uma faixa de público, mas de maneira alguma deixem que lhe falem qualquer coisa sobre o filme, que irá estragar qualquer possÃvel prazer. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 12 de abril de 2009)