Crítica sobre o filme "Quarentena":

Wally Soares
Quarentena Por Wally Soares
| Data: 24/06/2009
Quando lançou Imagens do Além era de se assustar o breve tempo que separava esta refilmagem de seu filme original (quatro anos), provando a fome de Hollywood e sua tamanha falta de criatividade, principalmente para o gênero do terror. Então o que dizer sobre Quarentena, refilmagem americana do espanhol [REC] , excelente filme de terror que foi lançado há apenas um ano de diferença entre a estréia da refilmagem? Assustador, não? Pois é. Apenas aceitando esta condição cancerosa de Hollywood de reciclar em prol de criar que você poderá apreciar Quarentena pelo o que ele é: uma refilmagem tola, desnecessária e imbecil, mas surpreendentemente bem dirigida, evitando maiores tropeços como os causados pela maioria dos filmes do gênero estadunidenses, e caracterizando uma sessão relativamente tensa e amedrontadora, mesmo que você já tenha visitado esta história e este ambiente antes. Em outras palavras, o filme pode estar totalmente aquém da genialidade e do tom perturbador de [REC] , mas inesperadamente se revela uma adição decente ao gênero decadente. Afinal de contas, não é sempre que um filme Hollywoodiano surge abrindo mão de uma trilha sonora para o bem de uma atmosfera digna e realista. Só por isso, já podemos perceber que o filme não será feito de apenas erros.

Para início de conversa, o roteiro já surpreende por não se limitar ao copiar e colar. Muito de Quarentena não veio de [REC] , e isso é sempre bom. O ruim é que grande parte das diferenças são escolhas bem corriqueiras e implausíveis, desestimulando a experiência ao roteiro tomar sua postura de exercício fútil e flácido, cujos fraquíssimos personagens e péssimos diálogos não ajudam em nada a deixar a sessão mais eficiente. Mas ajuda vem de John Erick Dowdle, que mantém uma segurança e, apesar de cair em armadilhas, reserva uma atmosfera bem aplicada e um clima de tensão crescente e válido. Mas isso só começa a transparecer na segunda metade, quando o suspense engrena de vez. Alias, os minutos finais da fita são o destaque – como foram em [REC] . E talvez seja o único momento de verdade em que "Quarentena" faz total jus ao material original. A atmosfera claustrofóbica e a atuação excepcional de Jennifer Carpenter (O Exorcismo de Emily Rose) tornam a cena uma experiência aterrorizante. Carpenter, por sua vez, não faz muito a não ser berrar pelo filme, mas no desfecho ela volta à força de Emily Rose, numa angustiada performance que é chave para o funcionamento correto da cena, cujo efeito é ótimo e assustador. O resto do elenco, por outro lado, vai do ruim ao desastre, ninguém conseguindo convencer ou mesmo impressionar como deveria. Como a maquiagem que, apesar de boa, não deixa a impressão derradeira deixada pelo filme original.

A grande questão, porém, é se Quarentena funcionará para quem já viu [REC] . E não é fácil ter uma resposta. O filme de Dowdle é bom. Mas é insatisfatório e irrelevante reviver a experiência. Portanto, para evitar aborrecimentos, é bem válido advertir que não é uma refilmagem digna neste aspecto. Aliás, como seria? Se fosse feito há 10 anos depois de [REC] , "talvez" teria atingido uma relevância. Mas para quem não conhece o ótimo filme espanhol, Quarentena é um bom pedido. Porém, até que ponto você se sujeitaria a escolher um genérico quando se tem a opção de ter o original? E aí voltamos à complexa questão da validez da refilmagem, já que o original é, além de ser "original", cinema bem mais eficiente e completo. Sim, analisar Quarentena é uma tarefa complicadíssima, já que é necessário isolá-lo mas impossível esquecer de sua influência.

Dito isso, me vejo recomendando o filme por ser adequado ao gênero e conseguir se diferenciar do material original em diversos aspectos, ainda que tenha suas grotescas e vis derrapadas. Só por se manter autêntico, fazer jus à qualidade técnica do original e ainda conservar as implicações do mesmo, Quarentena se destaca de todas aquelas inúmeras refilmagens medíocres do gênero que vêm sendo despejadas. Não as precisamos engolir. E nem precisamos engolir Quarentena. É só uma questão de tempo até que ele esteja enterrado. [REC] é o filme que será lembrado. Mas isso não desmerece o fato do filme de Dowdle ter me deixado tenso e angustiado pela maior parte do tempo. Então, sim, este é um bom filme, que merece uma revisão apesar de sua irrelevância quase fatal. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)