Crítica sobre o filme "Ele Não Está Tão Afim de Você":

Rubens Ewald Filho
Ele Não Está Tão Afim de Você Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/06/2009
O nome é sugestivo, a narração ao início totalmente obscena na constatação e o foco inicial amedrontador. De início, Ele Não Está Tão Afim de Você se apresenta como um típico "chick flick", termo que a mídia americana batizou àquelas comédias românticas bem femininas e, na maior parte das vezes, bem bobinhas. Acontece que a impressão é errada, e o filme dirigido pelo inconsistente Ken Kwapis (que seguiu o bom Quatro Amigas e um Jeans Viajante com o fracassado Licença para Casar), consegue se esquivar da futilidade para se tornar um filme do gênero não só aceitável, mas certamente divertido, que não só reúne uma lista de convidados intimidante com seu elenco, mas consegue cativar por conseguir ser uma exceção à regra, mesmo que não seja tão original quanto pensa que é. Ainda que Kwapis nunca realmente ouse, ele consegue manter as rédeas de um roteiro que tem uma superlotação de personagens e tempo limitado para fazer com que todas as sub-tramas funcionem corretamente. E, apesar de não ser Simplesmente Amor, a narrativa do filme flui bem, e Kwapis mantém o controle na maior parte do tempo. Até mesmo quando os personagens estereotipam.

No filme, seguimos uma garota obsessivamente controladora diante do amor, e as vidas (e relacionamentos) das pessoas que a cercam. Todos interligados (alguns até forçadamente), e alguns relacionamentos mais ressoantes que outros. A verdade é que o filme de Kwapis é um longa que age como pêndulo num território perigoso que o coloca no risco de triunfar da mesma forma que definhar – e a obra chega a ambos limites, ao partir de um roteiro falho mas lotado de charme e essência, regido sobre uma direção limitada mas focada. Então o filme entretém, diverte, faz o tempo passar de uma forma leve e charmosa. Talvez enfraqueça quando se torna consciente demais, ao tentar provar ser inúmeras vezes um estudo de relacionamentos. E, em certos casos, o roteiro se sai bem sucedido. Alguns personagens são mesmo interessantes e reais, bem compostos e com diálogos verossímeis. Mas nem sempre é assim. E pode ter momentos que pode aparentar que os roteiristas estão claramente tentando demais. Essas derrapadas, porém, não incomodam tanto como esperaríamos e, confiante, Kwapis não perde o ritmo ou o tom espirituoso, totalmente apoiado na personagem estranhamente cativante interpretada por Ginnifer Goodwin – atriz que realiza um trabalho visivelmente oportuno mesmo diante de um elenco estrelar bem intimidante. E ela transforma o irritante da sua personagem em charme, algo ótimo.

Goodwin é a estranha no ninho hollywoodiano que é esta comédia romântica. Posso até imaginar que o orçamento do projeto tenha ido exclusivamente às estrelas que o compõe. Felizmente, porém, são famosos talentosos. Até Ben Affleck, que normalmente é fraco, consegue compor, ao lado da ótima Jennifer Aniston, o casal mais interessante do filme. É Scarlett Johansson que decepciona, numa atuação limitada. Seus interesses amorosos – interpretados por Kevin Connolly e Bradley Cooper – não fazem mais do que deveriam. Cooper, por outro lado, é casado com a ótima Jennifer Connelly, que tem ótimas cenas. E ainda temos Drew Barrymore (que não passa do charme), e Justin Long, que parece estar apenas crescendo como ator. Este encontro de estrelas pode trazer um certo ar burocrático ao clima do filme – e de fato traz. Então é mais um acerto de Kwapis ao conseguir – ao menos na maior parte das vezes – induzir autenticidade sob o artificial. Altamente recomendável para seu público alvo, Ele Não Está Tão Afim de Você é uma fita do gênero suficientemente charmosa e "bonitinha" para cativar (e almejar a identificação)as mulheres às quais ele se direciona. Mas isto seria uma leitura muito superficial. O filme guarda elementos e sacadas o suficiente para poder divertir independente de sexo ou intelecto. O filme retrata os relacionamentos modernos, seja de forma clichê ou genuína, e poderá encontrar um público entre todos. Basta conseguir ultrapassar a impressão inicial. Então, burocrático, diversamente clichê e cheio de estereótipos, ainda é um filme que merece a recomendação pelo simples feito de ultrapassar estes buracos para entregar algo ligeiramente consistente e divertido, que finaliza-se com belíssima música de Keane, uma narração totalmente cativante e uma consciência acertadíssima de que, não, a vida nem sempre lhe dará do tipo de chocolates que você quer. Ao colocar sua mão dentro daquela caixa de bombom, você estará arriscando sua felicidade. Mas é a constatação de que você está vivendo que conta. E, às vezes, podemos ser fortes o suficiente para reinventar nossas vidas. Um pouco profundo para um "chick flick" né? Pois é. O filme vale a espiada. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)

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Graças a seu elenco famoso, foi bem de bilheteria esta comédia romântica, que é inspirada num livro best-seller homônimo de Greg Behrendt e Liz Tuccilo (que tem o subtítulo de ‘A Verdade Sem Desculpas para Entender os Rapazes’) que, por sua vez, foi sugerido por um episódio clássico da série “Sex and the Cityâ€. E que, por acaso, eu li (não passa de uma série de conselhos de auto-ajuda, alertando as mulheres a não inventarem desculpas para os homens; basicamente, se eles não ligaram e não procuraram é porque não estão interessados!). A partir dessa premissa tão básica e simples aparentemente, eles criaram um filme longo (de mais de duas horas) ilustrando as inúmeras facetas e maneiras que as mulheres tem de se auto-enganar.

Produzido por Drew Barrymore, que tem também participação pequena, traz, como figura central, a gordinha Ginnifer Goodwin (que é mais conhecida por “Big Loveâ€, série da ‘HBO’), que é a ingênua Gigi, que faz tudo errado: quando o rapaz não liga ela insiste, fica inventando desculpas para ele, e cogitando cenários que nada têm a ver com a mentalidade masculina. Até quando ela encontra um barman que, com pena dela, vai lhe dando uns toques. Jennifer Aniston faz uma mulher que vive há sete anos com o mesmo cara (ela trabalha junto com Ginnifer e Jennifer Connelly), mas ele não dá sinais de que pretende se casar, pior que isso: já no começo do filme, encontra Scarlett Johansson e engata num casinho com ela. Jennifer Connelly está casada, mas o relacionamento está entrando em crise, principalmente porque estão se mudando para uma casa nova e tudo está se desgastando.

Não é preciso entrar em detalhes da trama. Basta dizer que os personagens são fáceis de se identificar e gostar, que as situações são humanas e universais, que o tom é bem-humorado, que o elenco é obviamente simpático e atraente. E que alguns conselhos, garanto, são úteis para as mulheres. O problema do filme é só que se estica demais, por vezes perdendo o interesse. Mas com esse elenco, vale a curiosidade. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 13 de abril de 2009)