Crítica sobre o filme "Quando Você Viu Seu Pai Pela Última Vez?":

Wally Soares
Quando Você Viu Seu Pai Pela Última Vez? Por Wally Soares
| Data: 06/06/2009
Baseado em um best-seller autobiográfico de Blake Morrison, Quando Você Viu Seu Pai pela Última Vez é do tipo de filme que exala sensibilidade e, quando chegamos ao seu ato final, nos vemos completamente comovidos com a experiência. Parte da força do drama já vem do fato de ser baseado em uma história real, o que sempre acrescenta à forma como ele nos toca. Mas o que vai definir o valor do filme para o espectador varia da identificação com a qual pode acabar assimilando à história e aos personagens apresentados. E, neste aspecto, confesso ter sido completamente comovido com o que é apresentado. E o filme está, de fato, preparado para deixar marmanjões copiosamente emocionados ao fim da sessão. O foco do filme é, como já indica o seu título, os conflitos entre um homem e seu pai que, perto do seu leito de morte, começa a se dar conta que toda a raiva e incompreensão que sentia por ele evaporavam diante da iminência da perda. É, podem ir preparando os lenços.

O filme é dirigido com bastante paixão por Anand Tucker (Garota da Vitrine), que já havia ganho minha atenção e admiração com seu trabalho anterior. E Tucker volta a trabalhar, aqui, sua especial estética. O filme, ao colocar o personagem de Blake frente ao seu pai frívolo, começa a oscilar entre o presente e o passado conforme Blake vai recordando de sua infância, e a forma como Tucker faz a transição entre estes momentos é especialmente significativo. Com jogos de câmera ousados (e geniais), ele parte para o sutil e transita pelas épocas sempre diante da reflexão de qualquer objeto (na maior parte das vezes, espelhos). E Tucker parece ter um grande fetiche por espelhos, na maior parte das vezes nos mostrando personagens refletidos nele ao invés de tomadas simples. Isso enriquece a obra, principalmente ao nos darmos conta de que o fetiche é, na verdade, uma escolha brilhante do cineasta, já que os constantes reflexos surgem como símbolos da própria reflexão moral dos personagens (em especial o de Blake). Mas Tucker também imprime uma fotografia que soa, diversamente, como uma própria reflexão de espelho, realçando o embaçado e as luzes fortes, numa alegoria do próprio espectador que pode estar diversamente vendo sua vida (ou conotações dela) refletida na tela.

Por outro lado, a estrutura narrativa nem sempre convence e a edição peca também em momentos que soam muito corridos e unidos de forma incoerente. Mas o ritmo do filme é bem trabalhado (principalmente por ter uma curta duração) e, apesar de alguns momentos ancorados no melodrama, a particularidade da trama e a sensibilidade com a qual é concebida torna difícil de resistir ao drama proposto. Principalmente por contar com atuações tão honestas quanto as de Colin Firth (Mamma Mia! – O Filme) – muito bem articulado – e Jim Broadbent (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal), que está sensacional, inclusive enriquecido por uma maquiagem muito crível. E o relacionamento paternal tortuoso estabelecido entre os personagens de forma tão sincera nos cativa e condensa os momentos mais falhos do filme – que ficam por conta do roteiro. Mas é a virtuosidade técnica que o alça aos ares e faz com que sua história encontre uma ressonância tão bonita, claramente ajudada pela bela trilha sonora.

O filme não terá nenhuma catarse emocional a não ser que pessoa realmente se conecte a história. E isso não é difícil. Trabalhando o sutil e a sensibilidade, o filme tem a força de cativar até mesmo a quem a história não está direcionada. Mesmo assim, é fato que ele funcionará melhor para aqueles que encontrarem uma identificação com o conto. Momentos singelos como o que trás os dois personagens andando de carro na praia ficam na memória e entregam ao filme uma graciosa simplicidade chave. E isto faz com que o filme eleve-se da simples “obra de identificaçãoâ€. Falhas a parte, é um filme de grande força emocional e virtuosidade técnica que é uma ótima recomendação. No ato final, o questionamento sugerido tão explicitamente (mas de implicações não literais) do título, estará ecoando em sua mente. E só por te deixar com algo ao fim da sessão e trazer consigo uma leva de valores, o filme já se torna obrigatório. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)