Angelina Jolie, falem bem ou falem mal, é sim uma atriz muito dedicada, e que já defendeu de modo excelente papéis como os da modelo Gia Carangi em
Gia, ou da amalucada Lisa em
Garota Interrompida, papel que lhe rendeu o oscar de melhor atriz coadjuvante. Em um amo em que a categoria de melhor atriz está extremamente confusa e nebulosa, Angelina luta bravamente por uma indicação à categoria por seu papel como Christine Collins em
A Troca. Sim, o filme é comovente. Sim, ela está muito bem no papel. Não, eu não o veria duas vezes.
Não que eu não tenha gostado do filme, pelo contrário. A história de Christine que tem o seu filho Walter sequestrado e, quando o "encontram" ao resgatá-lo ela descobre que a criança dita como Walter não é seu filho. Questionando a polÃcia, eles a enviam para o hospÃcio, indo comer o pão que o diabo amassou até que seu caso causa comoção geral e, tem uma reviravolta mostrando que Christine claro, tem razão. Cabe à ela então lutar contra a corrupção da policia, e para isto terá ajuda do Reverendo Gustav (John Malkovich), até que a justiça seja feita.
Com uma trama trágica, Clint Eastwood constrói um filme agonizante. Sim porque ao nos envolvermos com a saga de Christine, partilhamos com ela toda a dor que ela sente. Angelina, em uma ótima atuação (esforçando se ao extremo) mostra uma Christine frágil e atônita mediante os acontecimentos. O filme não tem a força existentes em outros longas de Clint, como
Cartas de Iwo Jima e
Sobre Meninos e Lobos, mas mostra uma sensibilidade marcante, onde nos chocamos com a realidade e passamos a apoiar Christine em sua luta eterna de achar seu filho. A parte técnica é muito boa, com destaque para a trilha incidental composta pelo próprio Clint, e belÃssimo figurino de Deborah Hooper.
Agora, dizer se Angelina está ou não superior à outras atrizes do circuito de premiações como Sally Hawkins, Melissa Leo ou Kristin Scott Thomas é uma questão de visão. Sim, porque embora eu não tenha visto todas estas atuações, eu vi
Simplesmente Feliz e sei o quanto é adorável a atuação de Sally Hawkins, mas, mais adorável ainda é saber o quanto ela muda através dos papéis, ao ver Persuasão (filme que Sally protagoniza), e perceber sua modificação. Assim como Sally, Angelina consegue se transformar. Mas talvez devido Angie ser conhecida demais, isto não fique tão claro.
Bem, de modo geral, eu fiquei satisfeita com o que vi. Mas o longa me agoniou de tal modo, que não assisto duas vezes.
(Viviana Ferreira)
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O novo filme do veterano Clint Eastwood (
Cartas de Iwo Jima) - já uma espécie de profissional ao narrar contos do gênero policial - inicia-se com uma tomada em preto e branco descendo para as ruas de uma Los Angeles dos anos 20, finalmente ganhando cores assim que desembarcamos nelas. Curiosamente, termina da mesma forma, numa tomada em cores que ascende das ruas de Los Angeles dos anos 30, finalizando-se com um preto e branco estilÃstico abrindo lugar para os créditos. A escolha poderia muito bem ter se limitado a um fetiche casual do cineasta em questões estéticas, mas a mais pura verdade é que
A Troca nada mais é que uma verdadeira submersão na tal ‘Cidade dos Anjos’, que nas palavras de um importante personagem, deu lugar para a violência injustificada e a corrupção generalizada. Além de possuir um contÃnuo e esperto desenvolvimento estético, incluindo uma reconstrução de época fiel e meticulosa,
A Troca se destaca especialmente pela história que anseia contar. O filme de Eastwood encontra recalques, um formato convencional demais e pequenas neuroses já batidas do cineasta, mas o seu conto de uma mulher que ousou desafiar a sociedade é forte o bastante não apenas para envolver e entreter, mas para fascinar, dadas as circunstancias incrÃveis pelas quais Christine Collins teve que passar na sua busca pelo filho.
Parte dramalhão, parte suspense e parte policial - com direito à drama de tribunal -
A Troca tem muito espaço a percorrer, visto a quantidade de detalhes cercando a longa história da batalha de Christine. Não é de se estranhar, portanto, sua excessiva duração. Esse equilÃbrio de tons, gêneros e piques dramáticos pode encontrar suas falhas, mas graças à uma edição competente e uma direção focada de Eastwood, a linha tênue que separa a coerência do equÃvoco nunca é cruzada, e o máximo de irregularidade que podemos tirar é aquela que provém justamente da obsessão pela convenção criada por Eastwood, que não ousa. Ainda assim, é incrÃvel ver o que um diretor de seu calibre almeja dentre de suas próprias convenções, e o resultado não é nada menos que gratificante. Eastwood nos joga para o dramalhão vivido por Angelina Jolie (
O Procurado) ao inÃcio - em performance muito boa - depois nos leva a desafiar as absurdas crueldades movidas contra ela e inesperadamente inicia uma história paralela muito bem articulada abastecida claramente pelas raÃzes do diretor vindas do gênero policial. A tensão em certos momentos é especialmente bem construÃda, e não tem como oscilar do clima pesado que acaba tomando conta de algumas cenas emocionalmente fortes. E nesse sentido, Eastwood não tem medo de brincar com nossas emoções. Ao evitar que tornemos meros espectadores, ele deposita um grande grau de sensibilidade e emoção na obra o suficiente para fazermos viver a experiência como a própria Christine, entre angústias, pesares e desespero. O resultado é excelente.
Não tem como negar, porém, que grande peso é depositado em cima da pessoa de Angelina Jolie. É uma virtude da mesma forma que é uma falha. Virtuoso pois, convenientemente, Jolie está muito bem no papel. Mas Eastwood deposita incansavelmente na atriz, e isto pode oferecer uma resistência. Ainda assim, Jolie articula muito bem seus sentimentos, exagera quando precisa e comove quando necessário. Ao seu lado, John Malkovich (
A Lenda de Beowulf) é quem decepciona. É incrÃvel sua articulação vocal, mas sua atuação nunca engata. O elenco completo e admirável ainda tem forças com Amy Ryan (
Medo da Verdade), ótima, um inesperado Jeffrey Donovan (
Encontros ao Acaso) e, finalmente, a surpreendentemente vil e excelente performance de Jason Butler Harner (
O Vidente), personificando um assassino com imensa desenvoltura e talento. É em personagens como este, tomadas com a magistral que o segue à um destino tão vil quanto a si mesmo e nuances verdadeiramente fortes distribuÃdas ao longo da obra que realçam o verdadeiro valor de
A Troca, que quebra das suas convenções e de mera pretensão “acadêmica†para se tornar um filme com uma certa fascinação palpável.
O conto então sobre a extraordinária revolta de uma mulher contra uma sociedade afundada na corrupção da polÃcia é algo não só para se assistir, mas para se vibrar. O filme de Eastwood encontra um pique dramático estável, ao nos carregar sofisticadamente por uma narrativa bem desenhada, intenções nobres e virtudes realmente incontestáveis. Sejam estas a bela fotografia, o arrumado figurino, a direção de arte expressiva ou a belÃssima trilha sonora, são aspectos que ecoam e fluem com dignidade. A questão é que o cinema aqui realizado por Eastwood é falhado, mas é acima de tudo uma modesta e bem intencionada homenagem ao gênero movimentado daqueles anos passados dos quais retrata. A alma do filme permanece intacta, independente da falta de ousadia do diretor. Consegue, portanto, não só entreter, mas realmente submergir a audiência no mundo construÃdo, não só de cenários e casos, mas de pessoas, emoções e nuances inimagináveis. Existe por isso, muito mais em
A Troca do que os olhos vêem. Das cenas milimetricamente bem realizadas à momentos dramáticos de peso indiscutÃvel, o filme se mantém obrigatório pelas questões que levanta acerca de moralidade, crime e perversão. Não é nenhum
Sobre Meninos e Lobos, mas é uma obra que merece seu próprio reconhecimento.
(Wally Soares – confira o blog Cine Vita)
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Angelina Jolie está íntegra como atriz em A troca (Changeling; 2008), dirigido com a habitual eficiência de narrar pelo veterano realizador norte-americano Clint Eastwood; Eastwood está bastante longe de ser um grande cineasta, mas as clássicas formas americanas de que ele se vale para contar suas emocionadas histórias funcionam, em momento algum se perdem em digressões ou estruturas quebradiças, revelando os tempos serenos da maturidade de Eastwood. Parece que, a esta altura, ele nunca vai dar o grande salto, como seu mestre Donald Siegel, que aqui e ali saiu do ramerrão hollywoodiano; mas em um filme como A troca o espectador sente a sinceridade das emoções do diretor, a honestidade da causa que ele defende diante das câmaras, e por isso mesmo o observador, dependendo de sua afinidade com a carga melodramática que transborda, pode deixar-se levar pela simpatia destas emoções que pingam da mão de Eastwood ao dirigir seu filme.
Baseado num episódio da crônica policial da Califórnia dos anos 20, A troca segue a personagem de Christine Collins em sua busca do filho desaparecido e o afastamento que teve com a polícia que queria impingir-lhe como filho um garoto achado na rua; a nervura interior da criatura vivida por Angelina é o que domina o filme, e isto deixa em segundo plano um tema que se acerca do roteiro, a truculência autoritária da polícia em todas as épocas. A trajetória de Christine em A troca semelha a da viúva do jornalista desaparecido na guerra que a própria Angelina viveu em O preço da coragem (2007), de Michael Winterbottom. E a temporada no manicômio de Christine em A troca remete a intérprete à garota desequilibrada e internada de Garota, interrompida (1999), de James Mangold, o filme que revelou os dotes de atriz de Angelina.
Com todas as falhas costumeiras (especialmente em suas superficialidades) duma reconstituição de época determinada pelo melodrama à americana, A troca não deixa de ser um espetáculo que vale a pena ser visto. (Eron Fagundes)