Depois do excitante 
Notas Sobre um Escândalo, o diretor Richard Eyre volta a trabalhar como roteirista ao lado de Charles Wood – parceiros no roteiro do belo 
Iris – para adaptar a história de 
O Amante, que é baseado em um conto pequeno de Bernhard Schlink (recentemente adaptado com 
O Leitor). Na trama de 
O Amante, seguimos a obsessão de um homem pelas suspeitas de traição de sua mulher, investigando sua infidelidade. Simples. Mas não tanto. Talvez, no conto de Schlink, a trama complexa e cheia de idas e vindas no tempo faça sentido e funcione como meticuloso estudo da mente humana, da solidão, do amor e da infidelidade. E, de fato, o filme de Eyre toca nessas teclas sutilmente diversas vezes. O problema é que, ao adaptar o curto para o longo, fez-se um filme carregado incansavelmente na repetição e sobrecarregado de uma aura interminavelmente cansada de tristeza e obsessão ofegante, movida pelo seu personagem principal desesperado. A virtude é que o filme não passa dos 90 minutos, não incomodando mais que o necessário. Mas a questão é que o material em mãos não deveria ter passado dos 45. 
Explico. Ao inÃcio do filme, os créditos dão lugar para Lisa, uma Laura Linney (
A FamÃlia Savage) sorridente e, pelo clima, apaixonada. Corta para Lisa e seu marido Peter, interpretado por Liam Neeson (
Busca Implacável). Nas conversas, percebemos que infidelidade paira na cabeça de Lisa. Um dia, ela vai para Milão. Corta para o futuro com Peter cuidando das roupas da mulher e discutindo com a filha, Abigail. Logo em seguida, começa a suspeitar da infidelidade de sua mulher com certas provas e começa a se tornar obcecado em achar o amante. Nesse desenrolar de fatos, já passamos por três épocas diferentes e nestas três épocas aconteceram fatos importantes ainda não nos revelados pelo roteiro. Ou assim os roteiristas pensam. A verdade é que tudo é muito óbvio, mas o filme tem em sua consciência de que está escondendo algo da audiência, que é revelado perto do fim de uma forma irregularmente engraçada e tola. Esse “segredo†do roteiro é facilmente percebido pelos mais atentos e durante a sessão quem descobriu não vai entender os jogos do diretor com as idas e vindas da narrativa. Como que se tentasse nos envolver em um clima paranóico de segredos, sensualidade e mistério. A questão é que tal clima é nulo. E tudo soa mais como uma enganação. 
Apesar de todo esse equÃvoco narrativo, 
O Amante esconde certas virtudes. Além de dialogar sobre um tema de forma Ãntima e sincera, é carregado de personagens interessantes e você o segue até o fim intrigado, ainda que não completamente convencido. Tem bons diálogos e um elenco consistente. Eu destaco Romola Garai (
Desejo e Reparação), simplesmente fantástica como a filha Abigail (e ela continua provando o quanto é a grande revelação da nova geração). Laura Linney também brilha, mas aparece muito pouco. Ela é mais mencionada do que realmente mostrada. Liam Neeson lidera o filme e, apesar de ter uma ou duas cenas boas, no geral revela um desequilÃbrio incômodo ao oscilar entre o exagero e a canastrice. É uma pena, pois o estudo de seu personagem poderia ter rendido algo muito mais interessante. Quem me surpreendeu é Antonio Banderas (
Mais do que Você Imagina), ator do qual nunca realmente me simpatizei mas que encara aqui seu personagem de uma forma madura, sensÃvel e o constrói de forma que ele soe mais interessante do que o roteiro falho poderia ter insinuado. 
O Amante é, em sÃntese, um exercÃcio em frustração. Frustração porque, ao desenrolar da sessão, é inevitável perceber o quanto ele deixa a desejar em suas implicações, suas insinuações e em suas particularidades. Ele tinha muito mais a entregar e talvez por isso ficamos mais intrigados em ler o conto de Schlink, que deve ser mais equilibrado. Eyre, que nunca foi o forte de seus filmes (os roteiros eram o destaque, em especial o de Patrick Marber), desperdiça elementos e mantém seu filme na estranheza constante. No irregular e no repetitivo. Certas cenas e atitudes são repetidas de forma irrelevante. No todo, um trabalho inconstante e frágil. Por isso, é compreensÃvel que, apesar de seu elenco reconhecido e enredo intrigante, tenha tido um destino lamentável direto para as locadoras. É surpreendente que nos Estados Unidos tenha ocorrido o mesmo. Alias, é assustador. Mas é a prova da falta de virtuosidade do filme, que denota um clima opressor, desagradável e poucas virtudes para fazer tudo valer a pena. 
(Wally Soares – confira o blog  Cine Vita)