Bezerra de Menezes: o diário de um espÃrito (2008), rodado pelos cearenses Glauber Filho e Joe Pimentel, é cinematograficamente estático, duro para poder de fato emocionar os que se interessam pela doutrina espÃrita trazida à luz na trajetória do médico e médium cearense Bezerra de Menezes; um pouco se esforçando por um domesticado rigor espiritual de encenação que pode ser o pastiche de algumas coisas que o francês Robert Bresson e o italiano Roberto Rossellini puseram em outros tempos no cinema, um pouco fazendo uma narrativa teatral e literária disforme em imagens de cinema (apesar da exatidão de composição do ator Carlos Vereza na pele de Bezerra e da dicção estudada do texto-over dito pelo intérprete, os realizadores não conseguem jogar filmicamente com o que há de literatice nas orações juntadas nas imagens), Bezerra de Menezes é uma espécie de ovo oco onde certas superfÃcies coloridas na casca só servem a edulcorar e falsificar um certo vazio de intenções do filme.
É pena, pois o espiritismo e Bezerra de Menezes mereceriam um filme mais denso e mais encorpado. Talvez a parte mais interessante da realização seja aquela em que o espiritismo de Bezerra de Menezes é confrontado pela intervenção feroz de um materialista ateu da platéia; é esta dialética de filosofia religiosa que o filme não expande nem aprofunda.
Dedicado aos que rejeitam o aborto no paÃs, o filme igualmente não perde a oportunidade de expor um certo lado reacionário de sua        questão, escorado, é claro, numa pretendida doutrina espÃrita. (Eron Fagundes)