Crítica sobre o filme "Dublê de Anjo":

Viviana Ferreira
Dublê de Anjo Por Viviana Ferreira
| Data: 23/03/2009
Tarsem Singh é um diretor no ramo do cinema "novo", tendo dirigido anteriormente apenas A Cela, suspense extremamente original, Tarsem encontrou, em um roteiro de Dan Gilroy (irmão mais novo do diretor Tony Gilroy e marido de Rene Russo) uma história que em mãos erradas poderia tornar-se um desastre, mas que com a direção de Tarsem tornou-se uma obra prima. O filme, nos seus créditos iniciais, explica com cenas e uma trilha aterradora de Krishna Levy a queda do protagonista, Roy, um dublê que cai durante as filmagens de um filme, propositalmente, apenas para se vingar, ou se mostrar para a ex-namorada. Os créditos iniciais já são magníficos - em preto e branco, de modo lento, a cena vai se construindo, com uma fotografia que parece ler a alma do expectador.

Logo quando o filme começa então, nos concentramos em Alexandria, uma menina indiana que está no hospital por cair ao pegar laranjas. Alexandria é interpretada por Catinca Untaru, uma romena de 10 anos que atua com uma inocência única. Ela é fabulosa, consegue tirar de Alexandria o que ela tem de seu melhor, mostrando ao público a doçura não mais existente nos dias de hoje (só para constar o filme se passa em 1915). Então, Alexandria é querida por todos, e nas andanças do hospital ela conhece Roy, o dublê dos créditos iniciais que cai ao exercer o seu trabalho. Lee Pace dá vida a Roy e, com uma atuação perturbadora, ele entra na alma do papel e nos transmite de modo genial todos os sentimentos de seu papel, e do longa. Enfim, Roy e Alexandria ficam amigos, e ele começa a contar fantásticas histórias a ela, que misturam a realidade de ambos em um mundo surreal. Como diria meu querido Louis Vidovix, "Dublê de Anjo é O Mágico de Oz encontrando Cinema Paradiso". E é exatamente isto. Contar mais da história é até covardia, porque o gostoso do longa é nós absorvermos o filme de modo total, como se estivéssemos descobrindo um pequeno tesouro. Neste caso, o tesouro não é pequeno, mas sim muito grande.

O filme é impecável. Em seu total. Não tem um único erro. Seu roteiro é magnífico, fugindo do ostracismo e conseguindo ser muito original. A parte técnica é, e as atuações são um capricho só. Realmente eu nunca vi um filme explorar a poesia da vida tão bem quanto Dublê de Anjo (que na verdade deveria ser traduzido como A Queda, mas já existe um filme com este nome), onde as ondas da realidade se misturam com a beleza do ser imaginário. Imaginar, suspirar, sonhar...todos nós sonhamos, contemplamos histórias, lemos, choramos, rimos, amamos... Dublê de Anjo" é a mistura de tudo isto. Suave, imenso, carismático, emotivo...é o ápice do cinema como arte, dentro da arte de contar uma história. É apenas uma pena que este longa esteja sendo pouco visto, pois é sim (pelo menos até agora) o melhor do ano. Mas "The Fall" consegue um feito que só os grandes filmes da história conseguem: ser muito maior que premiações, aclamações, exibições. Ele é o que é, por ter dentro de sua essência a superioridade de um clássico, onde o horizonte se encontra, na beleza do amor. (Viviana Ferreira)