A agilidade da distribuição entre nós de certas produções americanas tem permitido que nesta temporada se possam ver dois filmes de alguns diretores por aqui. Depois de Woody Allen e dos irmãos Joel e Ethan Coen, é a vez do inglês (em atividade nos estados Unidos) Ridley Scott ver um segundo filme seu lançado entre nós: Rede de mentiras (Body of lies; 2008) chega a Porto Alegre no fim de um ano que apresentou em seu inÃcio O gângster (2008), o trabalho anterior do cineasta.
O problema central de uma narrativa como a de Rede de mentiras é este sobrecarregar nos clichês. Nem a luxuosa mas vazia linguagem cinematográfica de Scott (como estamos longe do rigor estético de Os duelistas, 1977, sua notável fita de estréia), nem a mirabolante trama internacional de deformada feição polÃtica (um pastiche de Alfred Hitchcock?) logram ocultar de olhos crÃticos o amontoado de soluções-clichê trazidas pelo roteiro de William Monahan a partir de um livro e filmadas de maneira opaca por Scott; Russell Crowe como um agente burocrata ao mesmo tempo em que vive sua vidinha burguesa dialoga com as ações de campo de sua agência de espionagem e Leonardo DiCaprio como o espião de campo que atravessa cenários como os de DuBai e Jordânia sempre à beira do perigo se esforçam por sustentar a papagaiada muito americana que o inglês Scott busca, debalde, transformar numa crÃtica da ação polÃtica americana.
Esta crÃtica da ação polÃtica americana se esfarela muito brevemente porque, faz tempo, Scott tem abastardado a força visual britânica que tinha em seus inÃcios; de concessão em concessão, Scott atinge um filme descaradamente industrial como Rede de mentiras, que é na verdade uma rede de clichês muito gastos, como a seqüência de tortura de DiCaprio e a salvação na última hora que chega para o herói graças à s ações de um grupo de amigos árabes (isto se assemelha ao faroeste Seminole, 1953, de Budd Boetticher, visto há pouco em dvd, onde a criatura vivida por Rock Hudson, um general ianque, é salva do fuzilamento pela intervenção inesperada de indÃgenas).
Sobraria o sentido do espetáculo de Scott. Mas, de qualquer maneira, ele está muitos furos abaixo de um filme como O gângster, que, mesmo assim, tinha lá seus problemas. (Eron Fagundes)
. Ridley Scott e Russel Crowe são uma bela dupla. Do grande vencedor do Oscar® Gladiador ao delicioso Um Bom Ano há uma sintonia inigualável entre o diretor e o ator, que se entendem muito bem. A única coisa ruim é quem criaram-se tantas expectativas sobre os dois (principalmente depois que O Gangster foi lançado nos Eua sendo um grande sucesso) que quando Rede de Mentiras foi lançado, houve um grande desapontamento. Até porque o roteiro é assinado por William Monahan que demonstoru um talento soberano em Os infiltrados. CrÃticas e expectativas à parte, Rede de Mentiras é sim um bom filme, mas nada que se diga de sublime ou fantástico. A historia gira em torno de Ferris (Leonardo Di Caprio) um agente da CIA infiltrado na Jordânia onde a guerra está a explodir. Seu chefe, Edward (Russel Crowe, debilitado demais em um papel que poderia ser muito melhor) lhes dá coordenadas dos Eua e vigia cada passo que Ferris dá. No meio disto tudo, Hani Salaam (Mark Strong, de longe o melhor do elenco) faz negociações com Ferris, onde cada passo deve ser dado com muito cuidado e não se pode confiar em ninguém. Este seria então o enredo principal de Rede de Mentiras que em sua primeira hora se mostra entediante, mas que depois dá uma bela guinada ao qual o telespectador se vê preso à trama. O interessante é que, entre Leonardo e Russel o melhor mesmo é Mark Strong, um inglês de descendência italiana que interpreta Hani de modo sublime. Outro aspecto forte do filme é a fotografia de Alexander Witt, rÃspida e tênue ao mesmo tempo. Alem da trilha poderosa de Marc Streitenfield, que está sendo utilizada por alguns veÃculos de comunicação brasileira, como a Rede Globo. Já sobre a direção de Ridley ele não é nada mais do que correta. Nada de impressionante nem de muito belo, que possa ser considerado extraordinário. Para um diretor que já construiu obras do calibre de Alien, Blade Runner e Gladiador, Rede de Mentiras está bem longe de ser uma de suas grandes obras. Mas também não pode-se dizer que o filme seja ruim por não ser aquilo que se esperava. Há uma boa historia, onde o roteiro só progride ao invés de decair e elementos que são positivos do filme. Para quem for ver o filme sem pretensões e esperando por um filme para arejar a cabeça em um final de semana, Rede de Mentiras com certeza será uma boa opção. Agora para quem espera um grande cinema da dupla dinâmica Scott/Crowe, passe bem longe. (Viviana Ferreira)