DifÃcil entender o que levou Kiefer Sutherland a ir até a Romênia rodar este terrorzinho, que não passa de refilmagem da fita coreana Into the Mirros (Geoul Sokeuro - 2003), de Sung-ho Kim. Isso aproveitando um intervalo da série 24 Horas, quando seria de se supor que usaria este tempo para projetos mais ambiciosos e melhores papéis. Mas devia estar com pressa, e precisando de dinheiro (até porque passaria um longo tempo na cadeia), e perdeu tempo neste terror, feito por um diretor francês, Alexandre Aja (que é filho de outro diretor, Alexander Arcady, e de uma crÃtica de cinema, e que fez antes Alta Tensão - 2003; e Viagem Maldita - 2006). Se este não é incompetente, não há como fazer muito sentido numa história que só funciona dentro da mitologia e do ambiente oriental. Fora disso, vira uma besteira que não leva a nada, nem dá uma explicação convincente.
Kiefer faz Ben Carson, um ex-policial que tenta largar a bebida, que o fez ter problemas com sua mulher Amy (Paula Patton, de Dejá Vu) e os dois filhos. Vai ser guarda de segurança de um ex-hospital, ex-shopping center, onde fica perturbado pela misteriosa presença de espelhos - essa é a tônica do filme, que tenta aproveitar as diversas explicações psicológicas, e mesmo mitológicas, da presença dos espelhos. O fato é que parece haver uma vida paralela por trás deles, que sorveu, há muitos anos, um demônio que enlouquecia uma garota. Agora, levou à loucura e ao suicÃdio o segurança anterior. E Kiefer vai pelo mesmo caminho.
Como eu disse, o diretor não é ruim, e o filme não chega a ter aquela aparência de pobreza dos similares feitos na Romênia. Em filme do gênero, você aceita tudo, desde que fiquem claras as regras do que é ou não é, pode ou não pode. Mas aqui tudo é arbitrário, muda conforme a conveniência do roteirista/diretor. Não costumam funcionar as adaptações de terrores alheios.
Este não merece o deslocamento até até a locadora.
A fenomenologia dos espelhos utilizada por Aja para criar sua atmosfera de terror aparece em seqüências descabeladas, exageradas, barrocas, como naquele enfrentamento quase ao final, no monastério, entre o protagonista e os seres ruins das imagens espelhadas; é algo que não deixa de ter a sua dose de fascÃnio da perversidade manipulada por Aja, mas tudo parece muito óbvio, algo do tipo muito barulho por nada, um vazio constrangedor. Na última seqüência as cenas se dão como dentro dos espelhos, provocando uma estranheza que talvez Aja pudesse ter exposto com mais assiduidade ao longo de seu filme se quisesse inquietar o observador.
Enfeixando os problemas do filme, o elenco é desastroso. E Kiefer Sutherland é um lÃder risÃvel deste desastre. (Eron Fagundes)