Crítica sobre o filme "Corrida Mortal":

Rubens Ewald Filho
Corrida Mortal Por Rubens Ewald Filho
| Data: 04/02/2009

Em 1975, houve um filme, hoje cult, produzido por Roger Corman chamado Corrida da Morte - Ano 2000, estrelado por David Carradine, com Sylvester Stallone, ainda não famoso como um dos vilões. Era brega, meio ridículo, meio ‘chanchada‘, mas divertido (um de seus detalhes foi eliminado aqui nesta versão, por não ser mais politicamente correto: na corrida cross country se ganhava pontos quando se atropelava ou matava espectadores, sendo a pontuação máxima para se matar alguém em cadeira de rodas! Aqui isso não existe). Esta refilmagem se passa em 2012, e pretende ser high tech, o que significa que é um daqueles filmes tão saturados de feitos digitais que, por vezes, não se consegue enxergar coisa alguma (pior que Ensaio Sobre a Cegueira, onde isso era proposital), numa confusão de trombadas e explosões, que tiram qualquer emoção. Não é estilizado, da maneira de Speed Racer, que era infantil e sem violência. Aqui o modelo é o vídeo-game, mas com cara de sujo, metálico, de oficina mecânica.

Não ajuda muito que o diretor seja aquele, menos que medíocre, Paul W. S. Anderson (marido de Mila Jojovich, com quem fez Resident Evil), que não sabe utilizar o charme tosco do inglês Jason Statham, que funciona menos aqui do que de costume.

A trama também é tortuosa. Ele foi um famoso piloto de corridas, que agora caiu numa cilada, acusado da morte da mulher, e acaba indo para a prisão onde, na verdade, querem que ele assuma o papel do mascarado Frankenstein, um piloto que morreu, e que participava de uma corrida mortal, que era transmitida pela Internet. Quem controla tudo isso é uma mulher, Joan Allen, que fica à beira da canastrice, não resolvendo se faz o personagem caricato ou a sério. Acaba virando paródia de outras vilãs que já encarnou (como na série Bourne). Não têm melhor sorte os outros coadjuvantes, no que consiste, basicamente, numa sucessão de absurdas corridas, onde mal se pode ver ou admirar o diferencial (ou seja, carros armados com canhões e armadilhas mortais).

Carradine faz a voz de Frankenstein na cena inicial. Jason está em boa forma física. Mas o frenético filme, no atual estado, só da vontade de rever o original, despretensioso e assumidamente ‘B’.

Como diz Roger Ebert, este é um assalto a todos os sentidos, inclusive o bom senso. Felizmente não fez muito sucesso, não ultrapassando a barreira dos 35 milhões de dólares. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 25 de outubro de 2008)