Crítica sobre o filme "Que Há, Tigresa?, O":

Eron Duarte Fagundes
Que Há, Tigresa?, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 26/01/2009
O primeiro filme dirigido pelo norte-americano Woody Allen, O que há, tigresa? (What’s up tiger Lilly?; 1966), já parte da metalinguagem: o cinéfilo Allen faz suas citações, de maneira mais caricatural e solta que aquelas que fazia nos anos seguintes de sua filmografia, e constrói um filme quebradiço, sujo e enigmático que parece discutir-se a si mesmo, com a ajuda das intervenções do próprio diretor que cria a instância de um diretor que é também um metapersonagem. A picaretagem inicial de Allen vem disto: o suporte de sua narrativa é um filme B japonês de gângster que Allen decidiu remontar e dublar à sua maneira produzindo diálogos estranhos e pernósticos no contexto da imagem; bem no início do filme, depois duma trivial cena de perseguição, Allen aparece diante da câmara para revelar este processo de copiagem e dublagem; Allen ainda aparece numa cena em que alguém lhe pede para resumir o filme, pois se trata de algo difícil de acompanhar, e ele responde um seco não ao interlocutor; e no plano final do estripitise duma mulher Allen está deitado e comendo uma fruta, até que na imagem derradeira, quando ela está para tirar a calcinha, se dirige ao espectador e afirma: “Eu prometi que a colocaria no filme em algum momento.â€

O divertimento de Allen é precário e mal feito, mas é uma curiosidade, um Allen-B, menos pretensioso, menos refinado, em início de carreira. Para os que se cansaram dos procedimentos introspectivos, e às vezes superficiais do Allen atual, O que há, tigresa? pode funcionar como uma diversão variante. (Eron Fagundes)