Crítica sobre o filme "Perigo em Bangkok":

Rubens Ewald Filho
Perigo em Bangkok Por Rubens Ewald Filho
| Data: 14/01/2009

Embora tenha estreado semana passada nos EUA em primeiro lugar, foi uma falsa vitória. Ele rendeu apenas US$ 7.8 milhões na pior semana de bilheteria desde 2003. E o filme, por lá, nem chegou a ser mostrado para a imprensa, na certeza de que seria destruído. O que naturalmente acabou acontecendo, já que parece uma tentativa insensata e inconsciente de Nicolas Cage de cometer suicídio de sua carreira. Certamente o que lhe interessou foi a fama dos irmãos Pang, que saíram de Hong Kong e têm tido certa repercussão, com fitas de terror como Os Mensageiros ou Assombração, que em geral os americanos refazem por lá. Só que, no caso, eles refizeram outra fita deles de 1999, que tinha o mesmo nome mas, na verdade, a semelhança é vaga (o original era sobre um matador profissional deficiente auditivo, que tem um sócio que namora uma stripper. Flash-backs explicavam como eles subiram na vida).

Aqui é bem diferente. Cage é um assassino profissional internacional, bem sucedido (ainda não consigo entender como o cinema endeusa tanto essa profissão, tão asquerosa e amoral. Também não entendo como existem tantos assassinos; se fosse verdade, teríamos atentados todos os dias, e não apenas a nossa habitual violência cotidiana da policia, e matadores chifrins de quadrilhas e traficantes). Ele seria frio e antipático. Funciona como o narrador da história, e logo nos explica suas regras, para logo depois, absurdamente, desobedecê-las. Uma delas é não se apaixonar. Mas o moço, ou senhor melhor dizendo, vai se apaixonar perdidamente, e à primeira vista, vá entender porque, por uma jovem surda-muda (que, obviamente, só pode lhe dar problemas). Outra regra básica é trabalhar sozinho e não deixar traços ou possíveis ligações. Ele tenta justificar na narração, mas não há como aceitar o fato dele se afeiçoar por um vigarista de rua, que chama para ajudá-lo. E acaba virando seu discípulo, já que ensina todos os segredos da profissão.

Cage está lá para realizar uma série de missões a serviço de gângsteres, mas nenhuma é tão absurda quanto uma, numa cidadezinha vizinha, no estilo Veneza rural. Quando erra o tiro (até porque agiu de forma  óbvia), sai perseguindo que nem louco, como se fosse James Bond, correndo de bicicleta e barcos. Uma seqüência de ação absurda, já que obviamente burlaria outra regra, que seria nunca chamar a atenção. De tolice em tolice, numa narrativa absolutamente de rotina e cheia de furos, o filme tem um jeitão meio antiquado, como se fosse uma imitação de John Wood dos anos 80. Para ser evitado. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 02 de outubro de 2008)

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Perigo em Bangcock (Bangcock dangerous; 2008) é um policial de ação feito com as convenções do atual cinema de ação em Hollywood, embora dirigido pelos irmãos chineses Oxide Pang Chun e Danny Pang. E estas convenções se valem dos acessos do cinema moderno ao visual digital para capturar mais agilmente a mente do espectador; é claro que se trata dum vazio assombroso o que esta narrativa cinematográfica propõe a nossas mentes.

Nicolas Cage começa a saturar a paciência do observador com seu jeito de salvador americano do mundo. Não se pode fugir ao lugar-comum dos anos 70, porque o filme incide nisto: Perigo em Bangcock é a materialização do colonialismo ianque, pois ainda e sempre os reis da América do Norte se consideram os reis do globo terrestre e isto se evidencia neste espelho americano que é boa parte do cinema americano comercial: ali, nas telas de cinema, o narcisismo deles (precário e ridículo) se eleva bastante. E Cage é a cara desta América prepotente: atrozmente prepotente.

A história? O herói miraculoso vivido por Cage é contratado para ir à Tailândia e assassinar um inimigo político de seu contratante. Descobre coisas de que não suspeitava. E, enfrentando poucas e boas, sai-se bem e liquida os bandidos. No final o herói suicida-se, mas isto não lhe retira as características megalômanas da personagem americaníssima; deveria ter-se suicidado antes de o filme começar. (Eron Fagundes)