Crítica sobre o filme "Sexo Com Amor?":

Rubens Ewald Filho
Sexo Com Amor? Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/12/2008

Ao adaptar para a realidade brasileira o sucesso comercial chileno Sexo com amor? (2007), o diretor Wolf Maia, em constante atividade na televisão, não se pejou de usar de todos os lugares-comuns e os recursos habituais duma telenovela e dos rápidos e malditamente engraçadinhos programas de humor da rede televisiva majoritária do país. O que facilita a Maya esta aproximação são os rostos e os jeitos interpretativos alinhados com o modelo da televisão (como Reynaldo Gianecchini e Malu Mader, ele vive um garanhão, ela uma traída grávida melancólica, ambos formam talvez o principal casal da trama); e o que reforça a ligação com o humor rápido da televisão é o fato de que intérpretes como Eri Johnson e Maria Clara Gueiros repetem seus monótonos truques vistos nas seqüências-estanque dos aludidos programas televisivos.

Maia está muito longe de ter o pique de cinema de Daniel Filho, outro nome habitual na televisão mas sujas origens cinematográficas lhe dá o senso de filmar para a tela grande. De todo o elenco, talvez só o casal formado por José Wilker e Marília Gabriela desfrutem duma empatia fílmica, mesmo que aos tropeços; o resto é inegavelmente televisão pura. E um sentido de televisão como um entretenimento brutalmente primário, distante dos processos documentais de investigação dos trabalhos que o italiano Roberto Rossellini e o alemão Alexander Kluge fizeram para a televisão. Sexo com amor?, para cativar a grande massa, se concentra inteiramente na televisão; é como um compacto que mistura cenas de telenovelas com cenas de programas humorísticos.

Ao investir com moderação franciscana em seqüências sexualmente mais arrojadas, Sexo com amor?, nas palavras de seus produtores, quis atingir uma faixa mais ampla de público. Censurado somente para menores de 14 anos, Sexo com amor? vira uma comédia juvenil que quer disputar as platéias atoleimadas que o cinema americano do gênero geralmente abarca. (Eron Fagundes)

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Não vejo maior sentido em comprar os direitos de um filme chileno homônimo, só para mexer em tudo e fazer um roteiro completamente diferente. Principalmente quando o original era melhor, e se pode encontrá-lo em DVD: Sexo com Amor, de Boris Quércia, que, no fundo, é apenas uma pornochanchada, bastante liberal para um país moralista (nudez feminina freqüente, temática forte). Tecnicamente banal (excesso de closes, trilha musical inexpressiva, elenco apenas razoável) e inferior como direção ao brasileiro, o original tem um roteiro até competente.

São três casais unidos pelo fato de que seus  filhos estão na mesma classe na escola (onde se discute se deve ou não haver aulas de educação sexual). Assim, um deles é um escritor que faz o elogio do sexo com amor (assunto apenas pincelado, para dar um tom mais sério ao filme), e que está em crise com a esposa, tendo um caso com a professora de sexo, que por sua vez tem um caso com um pintor (o problema é quando ela engravida). Outro casal tem um ‘galinha’, incapaz de ser fiel à esposa, que está grávida, mas que morre de ciúmes quando ela arranja um amigo gay. E um terceiro: um açougueiro que tem problemas de cama com a esposa (ambos tentam resolvê-lo através de masturbação, e do adultério em família). Depois  de conhecermos os personagens, as piadas correm mais fáceis e, por vezes, fazem rir. Nada mais. Aqui, o ponto de partida é semelhante. Mas, como diz sempre Silvio de Abreu, gente pobre é mais interessante do que gente rica, o que fica muito claro aqui.

O roteirista brasileiro, Renê Belmonte (que fez Se Eu Fosse Você, mas também aquela horrorosa série de TV, Avassaladoras), acertou ao descrever as aventuras de Pedro, um chofer de táxi (Eri Johnson), que tem problemas de cama com Mara, sua esposa (Maria Clara Gueiros, simplesmente a melhor do elenco), e sente-se atraído pela sobrinha.

Apenas uma comedia de costumes valorizada pela dupla, que está no ponto certo. O resto, porém, parece outro filme, e não muito bom. Wilker faz Jorge, um intelectual pretensioso, que tem um caso com Luisa (Carolina Dieckman), uma professora de colégio católico, por quem se apaixona, quebrando o acordo com Mônica (Marília Gabriela), a esposa legítima. Só que Luisa se cansa e prefere outro, e ele fica sofrendo porque o filme, no fundo, diz que ser infiel é errado e não dá certo. O que é ilustrado também pela história de Rafael (Reynaldo Gianechini), que é o marido galinha, que trai Paula (Malu Mader), sua esposa,  com a secretária, com uma amiga, Patrícia (Guilhermina Guingle ), e com quem mais der. Até quando desconfia da fidelidade da esposa.

A história não funciona pela razão óbvia: será que ninguém percebeu que Malu Mader não combina com Reynaldo Gianechini, que não há química, mesmo tentando envelhecer o rapaz. Ou seja, são duas histórias entediantes, para outra bem divertida. Defeito que o diretor estreante em cinema, Wolf Maya, não conseguiu resolver. (Rubens Ewald Filho na coluna Clásscos de 15 de março de 2008)