Durante anos Meg Ryan e a roteirista e produtora Diane English sonharam com uma nova versão da peça clássica “Mulheres” de Clare Booth Luce (embaixadora e viúva do dono da revista ‘Time’) que teve duas versões famosas pela MGM, uma em 1939 com elenco all star formado por Norma Shearer, Joan Crawford, Rosalind Russell, Ann Sheridan e Joan Fontaine; e outra musical em 1956 “O Belo Sexo” (“The Opposite Sex”) com June Allyson, Ann Miller, Joan Collins, Dolores Gray e Joan Blondell.
A primeira era fiel ao original e tinha um elenco inteiramente formado por mulheres além de um desfile de modas a cores (a outra fazia concessões e apresentava uns pouco homens).
English ficou famosa como criadora da serie “Murphy Brown” com Candice Bergen (que faz ponta aqui como a mãe da heroína, por sinal extraordinariamente envelhecida e por alguma razão, apática). Mas esses anos todos ficou preparando o filme que passou por vários elencos e scripts. Infelizmente ela não tem qualquer experiência como realizadora e isso fica patente no visual. O filme é feio, mal enquadrado, mal dirigido. Além disso ficam visíveis os limites do orçamento que parece financiado por um grande magazine americano (o merchandising é escandaloso). Quase todo feito em locações (em estúdio poderiam fazer algo mais sofisticado, menos confinado) e com alguns personagens do original, simplesmente cortados.
Como foi feito antes de saberem que as mulheres voltaram a freqüentar as salas com “Sex and the City”, o filme foi mal promovido nos EUA e acabou sendo uma decepção de bilheteria. Apesar dos defeitos óbvios tem suas qualidades que são suas mulheres. Algumas aparecem modificadas pelas plásticas e preenchimentos que é a praga atual do cinema (a mais afetada foi Bette Midler, seguida por Meg Ryan que joga todo o cabelo na cara, mas não consegue esconder o lábio inchado para tirar rugas).
O curioso é que a melhor do elenco é aquela que não mexeu no rosto, está com toda sua gloriosa aparência de mulher normal, que é Annette Bening, no papel chave da melhor amiga.
A história foi bastante modificada e sente a falta de uma antagonista. Nos filmes anteriores a esposa boazinha e confiante (aqui Meg) pede divórcio mesmo e o marido (que nunca vemos mas era Leslie Nielsen junto com June Allyson) acaba se casando com Crystal (aqui a latina e bastante vulgar Eva Mendes). Que se torna amiga de Sylvia (Annette Bening) completando a traição (que aqui toma outra forma). Ou seja, era mais farsa, mais comédia e quase toda passada em salões de beleza (aqui curiosamente Crystal nunca tem cenas sozinha ela sempre é vista pelo ponto de vista da heroína ou das amigas). E assim mesmo em três ou quatro cenas apenas.
Ganha mais importância a filha da heroína, a mãe, seus problemas e principalmente muda o final, com uma boa resolução (e o único homem do filme) ajudado por um bom momento de Debra Messing (de “Wil & Grace”, e que lembra muito Lucille Ball). Por outro lado, não sabem o que fazer da lésbica, papel ingrato para Jada Pinkett e Carrie Fisher está com todos os trejeitos e caretas da mãe Debbie Reynolds.
Ou seja, com problemas e defeitos, o filme apesar de tudo tem seu charme e não chega a desonrar os antecessores. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 02 de outubro de 2008)