Crítica sobre o filme "2001: Uma Odisséia no Espaço":

Jorge Saldanha
2001: Uma Odisséia no Espaço Por Jorge Saldanha
| Data: 21/11/2008

2001: Uma Odisséia no Espaço é um belo e intrigante filme que provocou controvérsia e mudou os rumos da ficção científica no cinema, quando foi lançado há mais de quatro décadas. Apesar de há tempos já termos deixado o ano de 2001 para trás, e ainda estarmos longe de possuir as maravilhas tecnológicas que vemos na tela, assistir a este verdadeiro balé de imagens cósmicas baseado no conto de Arthur C. Clarke “A Sentinela†ainda é uma experiência fascinante. Com roteiro do próprio Clarke e de Kubrick, foram gastos três anos nas filmagens, tendo a produção iniciado em dezembro de 1965.

Durante a primeira meia hora de filme, acompanhamos a rotina de uma tribo de macacos vegetarianos, há cerca de quatro milhões de anos (Kubrick usa atores em roupas de macacos e uns poucos animais reais). Subitamente um grande monólito negro surge, atraindo a atenção dos antropóides. A partir do instante em que tocam a sua superfície lisa, os pacíficos símios tornam-se carnívoros, territoriais, e começam a usar os ossos de suas presas como armas, a fim de manter os macacos de outras tribos longe dos seus domínios. Após um rápido confronto entre dois grupos, vencido pelos “eleitos†do monólito, um osso é lançado para o ar e começa a cair em câmara lenta, transformando-se em uma nave espacial. Com esse corte clássico, o filme encerra a narrativa do alvorecer do homem na Terra e avança milhões de anos no futuro, entrando em seu segmento intermediário.

Acompanhamos então a chegada do ônibus espacial do Dr. Heywood Floyd (William Sylvester), um cientista, à estação orbital (outro grande momento, ao som do “Danúbio Azul†de Strauss). De lá Floyd vai para uma base lunar, onde ficamos sabendo que fora feita uma descoberta assombrosa, a primeira evidência de vida extraterrestre inteligente - um monólito que estivera enterrado por pelo menos quatro milhões de anos... Passamos para o último segmento (e mais longo) do filme, onde um ano e meio depois a grande espaçonave Discovery 1 está a caminho de Júpiter. David Bowman (Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood) controlam a nave com a ajuda de HAL 9000, o mais sofisticado computador dotado de inteligência artificial já construído. A tripulação é completada por mais três membros mantidos em hibernação, e nem Bowman ou Poole conhecem sua real missão. Mas ao final de sua viagem, Bowman descobre o segredo que era de conhecimento apenas de HAL, e ruma para um destino representado por um turbilhão de imagens cujo significado, por décadas, gerou incontáveis discussões.

Clarke, na seqüência 2010: O Ano em que Faremos Contato, filmada por Peter Hyams em 1984, bem que tentou. Mas o ideal é que cada espectador absorva as idéias de Clarke/Kubrick, transformadas em soberbas imagens, e tire suas próprias conclusões. Juntamente com os ainda hoje impecáveis efeitos visuais criados por uma equipe liderada por Douglas Trumbull, a música de 2001 é um capítulo à parte. Stanley Kubrick encomendara a trilha sonora para o veterano compositor Alex North, mas acabou utilizando peças de música clássica compostas por, entre outros, Aram Khatchaturian, Richard Strauss, Johann Strauss, etc. Ainda hoje o filme surpreende pelo perfeccionismo de seus efeitos visuais – tanto que, ao contrário de filmes como Star Wars (1977) e Jornada nas Estrelas – O Filme (1979), eles nunca foram refeitos e permanecem até hoje intocados -, porém o mais importante é que esta obra-prima dificilmente será superada por ter praticamente inaugurado uma nova linguagem cinematográfica.

À época do lançamento, Kubrick deliciou-se com a confusão provocada por seu filme, afirmando que deliberadamente manteve muitas perguntas sem resposta porque sua intenção era aguçar a curiosidade dos espectadores. Afinal, o que é o monólito? Quem o criou e o colocou na Terra? Para onde foi Bowman ao entrar no enorme monólito de Júpiter? O renascimento do astronauta ao fim do filme significa o próximo estágio evolutivo do homem, após ter entrado em contato com seu Criador? Kubrick nunca responde. Mas hoje isso não importa muito, pois “2001†foi um verdadeiro divisor de águas no cinema de ficção científica, que continuará a intrigar e maravilhar aqueles que tiverem a sorte de assisti-lo no cinema ou no mínimo em uma TV de tela grande, de preferência reproduzindo este primoroso lançamento em alta definição.