Crítica sobre o filme "Homem de Ferro":

Jorge Saldanha
Homem de Ferro Por Jorge Saldanha
| Data: 04/11/2008
Meados dos anos 1960... seja nas páginas dos gibis, seja na telinha da TV, tive meu primeiro contato com Homem de Ferro, Hulk, Capitão América, Thor e Namor, criações de Stan Lee, Jack Kirby e de outros talentos da Marvel. Desta fase, para mim o Homem de Ferro foi o mais icônico, e não deixa de ser um espanto que, passados mais de 40 anos, ele tenha chegado ao cinema num filme com méritos suficientes para me provocar uma enorme onda de nostalgia. Talvez isso pudesse ter me acontecido antes com o HULK de Ang Lee, mas o filme foi tão decepcionante que, na saída do cinema, só pensava nos seus problemas.

Já neste HOMEM DE FERRO faltam erros e sobram acertos, estes começando pela escolha de Robert Downey Jr. que, após brigar para conseguir o papel, interpretou de forma perfeita Tony Stark. Após um longo ostracismo provocado por álcool, drogas e passagens pela prisão, pode-se traçar um paralelo entre a redenção de Stark e a do próprio Downey Jr., um excelente ator que, após conhecer a glória em CHAPLIN, se perdeu e agora está tendo todas as chances para retornar ao estrelato. Estranhamente o filme não apresenta Stark como nos gibis, um alcoólatra - mas sim como um bon vivant irresponsável que só pensa em mulheres e máquinas possantes. Quem sabe, uma concessão para não constranger o ator.

Além de trazer de volta a também meio sumida Gwyneth Paltrow, muito bem na pele da secretária faz-tudo "Pepper" Potts, outro acerto foi a direção de Jon Favreau. Lembrava-me de Favreau principalmente por ter interpretado o advogado amigo de Ben Affleck em DEMOLIDOR - O HOMEM SEM MEDO. E não deixa de ser irônico que a maior parte da participação de Favreau naquele filme tenha sido excluída da montagem que passou nos cinemas, porém retornando na posterior (e superior) Versão do Diretor que saiu em DVD. Não sei se isto teve algo a ver com a escolha de Favreau, mas o fato é que ele soube levar à tela o Homem de Ferro prestando um belo tributo à sua origem nos gibis (trocando o Vietnã pelo Afeganistão), e com referências que fazem a alegria dos fãs - por exemplo, quando o tenente-coronel James "Jim" Rhodes (o sempre ótimo Terrence Howard) olha para a armadura de reserva (prateada) do Homem de Ferro e diz "agora não, fica para a próxima", o fã já sabe exatamente o que virá por aí. Detalhe: Favreau, no filme, é o motorista da limusine de Stark.

Os efeitos visuais da ILM estão no padrão dos que a empresa de George Lucas criou para TRANSFORMERS, ou seja, impressionantemente foto-realistas. Aliás, as cenas do confronto entre o super-herói e o vilão Monge de Ferro são similares às do filme de Michael Bay, porém menos espetaculares. Mas que se encaixam na proposta do filme e, portanto, tornam-se plenamente satisfatórias. Para variar temos mais um filme de super-herói que recebe uma trilha sonora medíocre, cortesia do idem Ramin Djawadi (BLADE: TRINITY). É uma pena que, ao vermos o Homem de Ferro cruzando os céus, ele não seja acompanhado por uma música à altura.

HOMEM DE FERRO foi o primeiro filme 100% financiado pela Marvel, que agora é um estúdio, e o resultado mostra que Stan Lee (que na sua divertida e costumeira ponta aparece como um velho milionário cercado por mulheres - Hugh?) e sua turma, com plena autonomia financeira e criativa, farão a alegria de seus fãs nos próximos anos. A cena escondida após os créditos finais, onde Stark volta para sua casa e é recebido por uma misteriosa figura, da qual não vemos inicialmente seu rosto mas que se dirige a ele com a voz inconfundível de Samuel L. Jackson, já sinaliza o que vem por aí.