Crítica sobre o filme "Berlin Alexanderplatz":

Eron Duarte Fagundes
Berlin Alexanderplatz Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 01/11/2008
Realizado para a televisão, composto de treze partes e um epílogo, Berlim Alexanderplatz (1979-1980) exibe uma série de feridas cinematográficas que favorecem a interpretação da obra do grande cineasta alemão. No centro da trama, uma personagem típica do desesperado e mórbido: Franz Biberkopf, solto da prisão, decide levar vida decente, mas em seu honesto propósito vai por águas abaixo quando ele conhece uma gang de criminosos da qual o inescrupuloso Reinhold faz parte. O filme evoca um clima de decadência de uma época da sociedade alemã, à época do nascimento do nazismo, mas conta igualmente a história da decadência de um indivíduo, passando por seus desacertos íntimos até chegar à sua loucura e redenção finais.

A atmosfera claustrofóbica das realizações de Rainer Werner Fassbinder pode ser bem sentida em alguns momentos da narrativa, porquanto o cineasta sabe lograr o efeito por meio duma utilização rigorosa dos cenários e duma exasperação na interpretação dos atores. O quarto episódio da série, “Um punhado de pessoas sob um profundo silêncioâ€, onde Franz se recolhe a uma miserável pensão para beber e esquecer a traição dos amigos e das mulheres, é característico: Fassbinder transmite ao espectador uma asfixia digna de seus melhores achados.

O pesadelo final, com encenações que, pelas vestes e pela ambientação, lembram a Roma da decadência, e a seqüência que crucifica Biberkopf como um novo Cristo, é uma explosão demencial talvez nunca vista antes em Fassbinder. A lentidão do ritmo e os exageros oníricos podem às vezes cansar o observador, exauri-lo de tanto sangue e tanta amargura, mas o que sobra de tudo é a importância duma obra tão radical e reveladora. (Texto escrito por Eron Fagundes em 13.04.1986; em meados da década de 90 do século passado pude ler o magnífico romance do alemão Alfred Döblin que deu origem ao atormentado roteiro do filme de Fassbinder)