Crítica sobre o filme "Agente 86":

Rubens Ewald Filho
Agente 86 Por Rubens Ewald Filho
| Data: 31/10/2008
Tive o imenso de prazer de conferir alguns dos episódios bem humorados e gratificantes da antiga série “Agente 86″, que até hoje passa no celebrado canal TCM. Foi um prazer ainda maior conferir nos cinemas a versão hollywoodiana que, na maior parte do tempo, revela-se uma grata surpresa, não só entretendo maravilhosamente e trazendo a tona muitas garagalhadas dignas de Maxwell Smart, mas também não deixando de lado a esperteza, mesmo com os constantes extravasos do roteiro. Talvez propositais, talvez não. O fato é que é um filme falho que empolga. E mesmo que ele não permaneça completamente na sua memória depois de sua saída do cinema, é uma sessão altamente gratificante e uma escolha matiné mais do que acertada. O humor rola solto e o prazer é imenso.

O foco ao se assistir ao filme é constantemente o humor, que, tirando algumas piadas rasas e umas caras e bocas desnecessárias, satisfaz em sua maior parte e te manda para fora da sessão com um largo sorriso no rosto. Mas é na ação que existe o maior da extravagância e exuberância. Bem exagerado e em vezes completamente cafona e cheia de energia. É gratificante se você não levar muito a sério. Mas o longa também possui muita esperteza, e isso é refletido claramente não só em algumas tiradas humorísticas geniais, mas no próprio enredo, que pode ser previsível mas ainda assim não cai no lugar comum, provavelmente pelo timing cômico sempre acertado de todos envolvidos, sejam os roteiristas, o diretor inspirado ou o elenco perfeito, que sofreu um casting realmente impecável.

Acho que o primordial é se relaxar. O descompromisso do filme é chave, mesmo que a duração em sí seja excessiva. Os sorrisos são garantidos mesmo quando as gargalhadas não são. Provavelmente o mais engraçado que assiti nos cinemas este ano e, só por isso, o filme já merece uma conferida. O que o danifica mesmo e te faz lamentar o porque de ele não ter conseguido ser um grande filme é a repetição, provavelmente graças à longa duração. Mais enxuto, poderia ter menas piadas batidas e ainda maior descompromisso, algo que atrairia ainda mais alívios cômicos e provocaria um entretenimento ainda mais impressionante. Mas deixaremos de cogitar o que poderia ter sido do filme. O bom é aproveitar a sessão ao máximo possível e te encher de nostálgia, um elemento ainda mais presente quando o filme deixa sua esperteza bem visível, seja numa cena excelente com os dois agentes tentando cruzar uma sala com raios lasers, em uma clara paródia ao filme Armadilha ou na passagem da Agente 99 por um duto ao som de “Ode to Joyâ€, nos remetendo diretamente à Duro de Matar, numa ótima homenagem.

O filme é essa junção contundente de gêneros e diferentes típos de humor, seja o exagerado, o cafona ou o esperto. Tem comédia ao mesmo tempo que ação, além romance juntando se à suspense, em um estilo 007 imperdível. Guarda suas limitações mas não adianta ficar lamentando, merecendo ser apreciado como é. Já é um alívio e é refrescante nos deparar com uma comédia que relembra os elementos mais antigos que a faziam tão bem, deixando de lado o que tantas do gênero constumam abraçar de uma forma cada vez mais cansativa e irritante. É com orgulho que digo que Agente 86 me divertiu bastante, se tornando uma sessão pipoca das mais satisfatórias da temporada. Mas a força motriz do longa reside em Steve Carell e Anne Hathaway, uma dupla sensacional, que brilham com genialidade. Carell tem aquele timing cômico primordial e é uma dos meus comediantes preferidos desde O Virgem de 40 Anos, ao passo que Hathaway vem se revelando cada vez mais uma atriz genuína, longe dos esteriótipos que poderiam ter surgido depois da ‘bonitinha’ série O Diário da Princesa. Carell e Hathaway são a alma do filme, e eu não poderia ficar mais grato pela dupla dinâmica. Adoraria ver mais filmes com ambos. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)

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Por estranho que pareça, e contra todas as expectativas, é bem divertida esta versão para a tela grande da célebre série de TV, que durou de 1965 a 70, com Don Adams (já falecido) e Barbara Feldon, criada por Mel Brooks e Buck Henry (que funcionaram como consultores deste filme). Era difícil acreditar que funcionasse, porque houve antes, em 1980, uma versão para o cinema - A Bomba que Desnuda (The Nude Bomb) -, já bem definida por seu título, e uma tentativa de ressuscitá-la para a TV em 1995 (que saiu em DVD agora, não confundir com a original, que também foi para as locadoras no dia de estréia deste filme).

Grande parte do acerto se deve à escolha do ator para interpretar o agente Maxwell Smart, Steve Carrell (de The Office e O Virgem de 40 anos), que tem o estilo deadpan, ou seja, cara de pau, perfeito para o tipo. Não faz caretas, evita reações, mas tem o timing perfeito. Também foi correto chamar a encantadora Anne Hathaway, de O Diabo Veste Prada, para fazer a Agente 99, já que ela tem a exuberância e o charme necessários. Além disso, o filme é extremamente fiel ao original, repetindo todos os momentos mais queridos e famosos, desde os letreiros até o final, ao agente escondido nos lugares (aqui, numa árvore, feito por Bill Murray) e, na hora certa, um reencontro com os objetos e mesmo o carro antigo, roubados do museu da agência C.O.N.T.R.O.L.. E sem esquecer o telefone sapato, que é o precursor do atual celular.

O conflito básico é que Smart é um brilhante analista, que continua nos escritórios, mas sonha em ser agente de campo, participando de perigos reais, ao lado de 99. No caso, a K.A.O.S. volta a agir e, quando o escritório é atacado, ele vai parar na Rússia (locações autênticas), onde os perigos e surpresas irão se suceder. É óbvio que não faz muita diferença a trama, porque ela é mero pretexto para as piadas e gags, quase todas funcionando, e algumas muito engraçadas. Insisto em não ser estraga prazeres. Ao final há uma grande perseguição de trem, mas a minha cena favorita é uma espécie de disputa de danças, entre os agentes, ao som do Baião de Ana!. 

Era de se supor que o personagem estivesse superado pelo tempo (afinal é a enésima sátira aos espiões estilo James Bond!), imitações e fim da Guerra Fria. Que ele funcione, e bem, é quase um milagre! (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 20 de junho de 2008)