Crítica sobre o filme "Experiência, A":

Jorge Saldanha
Experiência, A Por Jorge Saldanha
| Data: 30/08/2008
Qualquer fã de cinema de vez em quando se depara com um filme ruim (ou no mínimo “problemáticoâ€) que, apesar de todas as suas falhas de realização, acaba sendo uma espécie de cult particular, o que os americanos chamam de “guilty pleasureâ€. São filmes que deram errado, mas que aqui e ali mostram elementos que agradam a certas pessoas – talvez indícios de que os produtores perderam uma grande oportunidade para realizar um clássico. Há vários destes exemplares nos gêneros horror e ficção científica, como Força Sinistra (1985), que a exemplo de A Experiência (1995) também explora a nudez de uma bela alienígena (oh, será este o elemento comum que me faz gostar destes filmes?). Ambos partem de uma idéia interessante, mas sua realização defeituosa lhes dá ares de produção B, apesar de contar com um bom orçamento. No caso de A Experiência, o diretor Roger Donaldson teve à sua disposição um elenco que incluiu atores de gabarito como Ben Kingsley (com saudades dos tempos do Oscar por Gandhi), o ótimo Alfred Molina e Forest Whitaker, premiado em 2008 com o Oscar de Melhor Ator por O Último Rei da Escócia. Isso sem falar no “durão†Michael Madsen, que há pouco participara do filme que revelou Tarantino – Cães de Aluguel -, desperdiçado aqui num papel com muita fala e pouca ação. Enfim, desempenhos ofuscados pela beleza do rosto e dos seios perfeitos de Natasha Henstridge, então estreando no cinema.

No início do filme nos é contado que tudo começou há 30 anos, quando radiotelescópios captaram sinais do espaço contendo uma fórmula que permitiu combinar DNA alienígena com DNA humano. Décadas depois o resultado da experiência é a garota Sil, aparentemente normal mas que cresce aceleradamente - o que indica que possui atributos da espécie alienígena, ainda desconhecida. Ela foge do laboratório, após uma tentativa dos cientistas de encerrarem o projeto envenenando-a com gás. À solta, logo ela assume a forma adulta e sexy de Henstridge, que sofre de um irresistível impulso de acasalar com machos humanos. Como seu jeito de loira burra ela seduz os homens, mas algo sempre dá errado, o sexo não se consuma e os sujeitos invariavelmente acabam sendo mortos pela predadora alien. Para dificultar o trabalho da equipe de caçadores que a persegue (integrada também pela personagem da atriz Marg Helgenberger, hoje mais conhecida pela série CSI), Sil pode mudar de sua forma humana para uma monstruosa alienígena em um piscar de olhos, o que rende efeitos em CGI à época interessantes mas hoje, obviamente, datados. Além do monstro CGI não ter o foto-realismo propiciado pelos efeitos de hoje, seus movimentos são artificiais, e nas cenas em que aparece ele não está integrado com os atores (quando isso é necessário, é usado um boneco animatrônico).

Acima de tudo A Experiência foi mais um filme derivado da fórmula consagrada anos antes por Alien, porém adicionando cenas de nudez e sexo patrocinadas pela bela vilã. Se no clássico de Ridley Scott a criatura era irracional, movida apenas pelo instinto animal de sobrevivência e reprodução, aqui o monstro é um ser pensante que enfrenta uma espécie de crise existencial, questionando-se a respeito de sua verdadeira identidade e a razão de estar na Terra – o que para nós logo fica muito claro: ela é uma espécie de arma biológica, com o objetivo de reproduzir-se e dizimar a raça humana. Um dos méritos do roteiro de Dennis Feldman é expor este conflito entre a razão e o instinto, porém é um recurso fracamente explorado, optando-se mais em mostrar uma sucessão de cenas de nudez de Henstridge (das quais não reclamo), de suspense e ação, que culminam em um jogo de gato e rato nos esgotos de Los Angeles. O final cria um gancho forçado e ridículo, que foi solenemente ignorado pela continuação que definitivamente colocou a franquia no rumo da lixeira (e dos lançamentos diretos em TV a cabo e DVD). Enfim, o que poderia ser um filme memorável tornou-se apenas um “guilty pleasure†de muitos, graças à nudez de Natasha, ao elenco talentoso pagando mico, ao interessante monstro concebido pelo suíço H. R. Giger (o mesmo criador do Alien) e a uma inspirada trilha de Christopher Young, da qual gosto muito.