Crítica sobre o filme "Três Vezes Amor":

Rubens Ewald Filho
Três Vezes Amor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/08/2008

Os mesmos produtores de Quatro Casamentos e um Funeral e Um Lugar Chamado Notting Hill, repetem a dose com esta nova comédia romântica, escrita e dirigida por Adam Brooks (que escreveu Winbledon, Bridget Jones 2, Da Magia à Sedução, Surpresas do Coração), e que antes dirigiu três filmes que não marcaram (o mais recente é Uma História a Três, de 2001, com Cameron Diaz). Ou seja, seus filmes sempre têm um toque existencial, procuram ir além do mero romance. Mas também têm um problema: quem gosta do gênero é mulher, homem em geral o abomina, e se recusa mesmo a entrar no cinema. Então, é um problema colocar como herói um homem, ainda mais não muito conhecido, como é o caso de Ryan Reynolds (que ficou célebre como Van Wilder, em Van Wilder, de Walt Becker; depois tentou se afirmar como ator de ação em filmes como Blade: Trinity, de David S. Goyer, e A Última Cartada, de Joe Carnahan).

Ele é simpaticão (apesar de meio estrábico e de olhos muito juntos), mas não tem carisma (erro semelhante foi cometido com Dan in Real Life, com Steve Carrell, que nem chegou a estrear aqui). Este também fracassou por erro de target. Ele faz o papel de Will Hayes que recebeu os papéis do divórcio e resolve contar para a filha (Abigail Dreslin, de Pequena Miss Sunshine), que tem muitas perguntas a fazer. Em vez de contar apenas como conheceu e se apaixonou por sua mãe, Will resolve relatar os romances que teve com três mulheres: Emily, que conheceu na faculdade (Elizabeth Banks, de Scrubs e Homem-Aranha 3); sua companheira de trabalho (a talentosa Isla Fisher, de Penetras Bons de Bico), e a jornalista Summer (a inglesa Rachel Weisz).

Tudo deveria ser um mistério, mas não muito difícil de resolver: qual é a mãe da menina e qual foi o amor de sua vida? O problema é que tudo é bonitinho, engraçadinho, mas sempre no diminutivo. Em escala menor.

Os diálogos nunca são memoráveis, os fatos um pouco repetitivos, e o filme tem que se sustentar exclusivamente no charme dos atores, em particular Isla (que está demonstrando ser ótima comediante; é um nome para guardar). Ryan não me convenceu, acho sempre que falta algo mais, está contido demais. Longe de ser memorável, o filme saiu para coincidir com o dia dos namorados dos americanos.

O que já mostra sua finalidade: para se ver em casal. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 28 de abril de 2008)

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Ao lado do gênero do terror, as comédias românticas podem muito bem ser as mais saturadas no quadro atual do cinema. O novo "Três Vezes Amor" de Adam Brooks, que assina o roteiro e a direção, é um filme que chega para realmente nos informar de como o gênero está desgastado, mas também oferece um novo sopro às fórmulas, entregando uma charmosa história proveniente de uma premissa até bastante original. Na trama, Will Hayes (Renolds) é um consultor político que se vê na obrigação de contar à sua filha de 11 anos a história dos três amores da vida dele, e qual delas acabou se tornando a mãe dela. O filme já começa com uma acidez valiosa ao retratar a jovem de 11 anos, interpretada com carisma e talento estupendo por Abigail Breslin (provando que ainda tem muito a entregar para o cinema), saindo da escola indignada com sua aula de educação sexual, e as coisas absurdas que aprendeu (ou não). É nisso que Will percebe que chegou a hora. Inicia-se, com isso, uma narrativa fragmentada (e bem editada) retratando a vida de Will antes de se tornar um profissional sólido e seus encontros e desencontros com três beldades que, de uma forma ou de outra, modificaram sua vida. Interessante também que o filme nunca subestima nossa inteligência, como parece sempre acontecer com estas fitas, mas nos deixa suspensos no descompromisso até o fim não exatamente inesperado, mas gratificante, de formas inexplicavelmente doces.

O motriz é a atuação sincera e simples de Ryan Renolds, que da canastrice de "Blade Trinity" veio se revelando um ator com carisma e bagagem suficiente para atingir o estrelato. Esse ano, ele nos brindou com um surpreendente desempenho em "Número 9", e agora volta com uma maior simplicidade e um maior descompromisso. Ele torna seu personagem automaticamente identificável e simpático, vencendo a audiência. O resto do elenco igualmente não decepciona. Depois da já mencionada Breslin (ótima) temos uma Isla Fisher recompensadora, uma Rachel Weisz como sempre excelente e uma Elizabeth Banks que falha ao não nivelar com suas outras conterrâneas, mas ainda assim não compromete. Destaque merece ir mesmo à um inspirado e talentoso Kevin Kline. Todos os atores possuem o trabalho essencial de tornarem toda a trama o mais genuíno possível, e saem bem sucedidos ao nos fazer acreditar neles. O desenvolvimento em si da estrutura do filme pode não reservar grandes atrativos e é evidente que a duração poderia ter sido menor, com a exclusão de detalhes irrelevantes, mas Brooks sabe conduzir sua história para que ela soe acreditável, e nisso o filme se saiu vitorioso.

O filme ainda ousa fazer um comentário eficiente sobre o realismo do amor e as situações diversas de relacionamentos ora imaturos, ora apaixonantes ou em vezes até mesmo dúbios. O que o filme atinge mesmo é retratar a sensação do amor como algo ambíguo e nada simplista, tornando-o muito mais interessante e, conseqüentemente, a realidade que cerca o protagonista. Todos elementos primordiais para tornar a história a mais agradável possível. Juntando-se isso ao estilo próprio designado pelo diretor e o bom editor, valiosa fotografia e identidade na trilha sonora ótima de Clint Mansell, e temos um filme que pode encontrar tons incertos, cenas inerentes e diálogos descartáveis, mas dificilmente falha ao nos agradar em simples questões de divertimento, identificação e prazer no descompromisso.

O longa, portanto, atinge o recomendável mais que muitos outros incansáveis longas presenteados pelo gênero. Alguns acusaram o filme de ser pretensioso e, abrindo um pouco os olhos, é notado mesmo certa confidência para todo o trabalho, refletido na longa duração. Mas estranhamente nunca prejudica. Nunca ficamos com a sensação de que o que está diante de nós está tentando demais nos fazer rir ou tentando demais ser inteligente. Quando rimos, é porque soou engraçado mesmo. E quando nos encantamos, é porque realmente o impulso romântico funcionou. Pode não ser o melhor do gênero, mas é um agrado bem louvável e admirável. Ele flui bem, ora com esperteza e ora com o já mencionado descompromisso primoroso e essencial. Não é um novo "Simplesmente Amor", mas é uma boa história do amor, de suas vítimas, de suas conseqüências e, claro, de seus aliados. No caso, nós caros amantes do cinema. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)