Comédias ou dramas românticos sempre são cercados por aquela história: só as mulheres gostam de assistir. Os homens, diz a lenda, preferem filmes de luta, de ação, com carros, com perseguições, violência essencialmente. Se isso é verdade, só lamento que apenas as mulheres terão a oportunidade de ver a este
Banquete de Amor. O filme era um grande desconhecido para mim, mas resolvi vê-lo essencialmente pelos nomes envolvidos: Morgan Freeman (trabalhando como nunca aos 70 anos), de quem sou fã desde
Um Sonho de Liberdade, e o diretor Robert Benton, sem dirigir um filme há quatro anos. O filme começa bem, muito bem, falando dos gregos e da “invenção†do amor. E da risada, invenção para que fosse possÃvel suportar o amor. Depois desta reflexão do narrador, Harry Stevenson (Morgan Freeman), somos imersos em várias histórias de amor. E de dor. Porque é normalmente doloroso descobrir nossos erros e revelar mentiras. Em
Banquete de Amor não é apenas o amor que está sendo analisado, mas é a nossa capacidade de passar pela dor, de ter esperança, de viver ainda que isso pareça difÃcil. No fundo, o filme questiona o que é o amor, mas de uma maneira adulta. Uma boa surpresa.
O primeiro toque em um jogo competitivo e uma troca de olhares. Sinal número 1. Um encontro “imprevisto†no bar, depois, e uma conversa olho no olho e próxima, muito próxima. Sinal número 2, mais desconcertante. O toque na perna, a música dedicada… assim, em um crescente um pouco inexplicável - ou muito explicável - a personagem de Kathryn se descobre interessada, muito interessada por uma mulher. E não é uma mulher qualquer, mas sim Jenny, uma garota que percebe cada sinal e sabe exatamente o que fazer com eles. Perigo ao casamento de Kathryn e Bradley, juntos há seis anos. Primeiro exemplo de cegueira.
O filme poderia facilmente cair no lugar-comum, na narrativa óbvia, no romance pastelão e choroso. Mas não. Desde a citação inicial dos gregos até a cena final,
Banquete de Amor mostra que é possÃvel fazer um drama/romance com classe. E isso tem muito a ver com a competência do elenco, perfeito do inÃcio ao fim, assim como com o roteiro de Allison Burnett, que conseguiu dosar na medida certa cada elemento da história e, claro, da direção sensÃvel de Robert Benton. Por todos esses elementos eu classifico o filme como um dos melhores que eu vi do gênero nos últimos tempos.
O personagem de Bradley é destes que tu vai acompanhando de maneira dividida. Afinal, ao mesmo tempo que ele dá pena por só “se dar mal†no amor, também nos dá raiva, vontade de lhe dar uns tapas para ver se ele acorda. Quantos homens não são cegos como ele? Parecem mais a cachorros, fiéis e bobões, e não percebem os sinais, não percebe o que a pessoa ao lado quer fazer ou pelo que está passando. Ok que as mulheres são muito mais inconstantes e mudam de opinião. Mas se eles são mais firmes em seus propósitos e convicções, porque não podem também ser mais atentos, mais sensÃveis? Stevenson viveu o suficiente e tem a sensibilidade necessária para cuidar muito bem de sua mulher, Esther (Jane Alexander). A história deles de amor é linda, fortificada e ameaçada pela perda recente de seu único filho. E toda a experiência do mundo, nestes casos, não é suficiente para que o homem esteja distante da dúvida, do medo, do passo que falta para perder a esperança. Ainda que veja todos os sinais.
Todas as histórias de amor são importantes e interessantes neste filme. Desde as de Bradley com Kathryn, com Diana (a australiana Radha Mitchell) ou com Margaret Vekashi (a húngara Erika Marozsán) - assim como de Diana com David Watson (Billy Burke); ou de Oscar com Chloe; ou de Kathryn com Jenny; ou de Harry com Esther. Todas são lindas e imperfeitas.
E se percebe que a sorte de alguns se deve, justamente, ao que outros veriam como defeito. Se não, como explicar a determinação de Bradley em ser feliz apesar de tudo que lhe aconteceu? Eu creio que ele é tão determinado justamente porque tem um grande coração, ainda que sofra de cegueira. Mas ninguém fica da mesma forma eternamente. E ele aprende. E ele muda. Nem que para isso tenha que passar pela dor. Stevenson lamenta quando ele se apaixona novamente. Mas ele também, o homem experiente, tem que enfrentar as duas dores e a sua descrença ao perceber a grandeza de Chloe, sua coragem e maturidade. Porque nem sempre os jovens são os mais imaturos. Muitas e muitas vezes eles são, para quem quiser ouvir, os mais sábios. Para mim, além de muitas outras mensagens, o filme me mostrou isso: que o casamento perfeito seria a força, determinação e a esperança da juventude com a sabedoria, a calma e a contemplação serena dos mais velhos.
Sei que é meio exagero dizer isso e tudo, mas a história de Chloe e Oscar é de balançar mesmo. Nem tanto porque a dupla de atores é afinada e são bonitos e tal, mas pelo que a mensagem do seu amor “Romeu e Julietaâ€, como diz Stevenson meio sem querer, nos passa. Ou seja: é preferÃvel desviar do amor, do risco, de tudo que uma história apaixonante nos traz só porque sabemos que vai nos destroçar depois? Só porque sabemos que vamos sentir dor? A coragem de Chloe e de Oscar é revigorante. Até faz acreditar que realmente vale a pena errar, quantas vezes for, porque no erro também está o acerto. E viver com medo, como já diria um certo alguém, é não viver. Mais confiança, mais ousadia, mais amor e paixão e menos medo. Essa é a mensagem que deveria ser vendida e dada de graça para quem quiser e para quem não quiser ouvir.
Além dos atores que já citei, destaco a participação secundária do veterano Fred Ward como Bat, o pai alcóolatra e violento de Oscar. Falando em Oscar, me surpreendi com a “quÃmica†dos atores Toby Hemingway e Alexa Davalos. Eles estão perfeitos nos seus papéis, super convincentes. Ela, em especial, está encantadora. Morgan Freeman, também, faz uma das melhores interpretações recentes de sua carreira. Pelo menos duas cenas dele com Jane Alexander valem todo o restante do filme.
(Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog CrÃtica (non)sense da 7Arte)
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O veterano realizador norte-americano Robert Benton não se emenda: em seu novo filme, Banquete do amor (Feast of love; 2007), ele amadurece seu sentimentalismo torto, pasteurizado, incomodamente deformado. O cavalo de batalha de sua filmografia é Kramer versus Kramer (1979), que em seu tempo não deixou de arrebatar o público de Hollywood carente de uma novelinha cinematográfica preenchido com o brilho dos atores à americana (no filme de Benton, os astros que viviam o dueto interpretativo eram Dustin Hoffman e Maryl Streep, já saindo da juventude para o inÃcio da maturidade); mas Kramer versus Kramer, analisado com olhos crÃticos, era superficial e recorria em cada fotograma aos clichês do melodrama da meca do cinema. Banquete do amor consegue ser muito mais mal filmado do que Kramer versus Kramer; mas o curioso é que Banquete do amor, dramazinho insosso e medÃocre, se estrutura num roteiro que busca alguma complexidade, o que hoje chamam filme-coral e nada mais é do que as vertentes que jorraram desde os filmes-rio do norte-americano Robert Altman nos anos 70.
A personagem de escritor vivida por Morgan Freeman é o centro da trama; e o desgaste interpretativo de Freeman se espalha pelo espÃrito narrativo, amorfo e congelado. Em torno de Harry, a criatura de Freeman, os embates amorosos se desenrolam. Um amigo do escritor é traÃdo por sua mulher com outra mulher, caso de lesbianismo. Uma corretora imobiliária está tendo um caso com um homem casado, mas vem a abandoná-lo para casar com o homem traÃdo pela mulher com outra mulher, porém depois abandona este marido para ficar com o ex-amante quando este se separa da mulher (algo à Eric Rohmer nesta ciranda amorosa, porém pasteurizado). Os jovens Chloe e Oscar têm uma relação intensa até um inesperado acontecimento. Parece que Benton busca falar daquilo que, nas relações humanas, o cineasta sueco Ingmar Bergman chamou certa vez “analfabetismo emocionalâ€, especialmente na figura do homem abandonado duas vezes por mulheres; mas entre a densidade de Bergman (e sua expressividade visual) e o dispersivo-frouxo de Benton vai uma distância abissal.
De fato: Benton amadureceu a ruindade de seu cinema. (Eron Fagundes)
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Passou em branco, nos Estados Unidos, este drama, que tem contradições: é endereçado a um público mais velho e, ao mesmo tempo, tem grande quantidade de cenas de nudez (aliás, praticamente todo o jovem elenco feminino fica pelado mais de uma vez).
É uma história de amor, mas não necessariamente envolvente ou apaixonada. Até pelo ponto de vista do narrador, Harry Stevenson (Morgan Freeman), que é um professor universitário aposentado, casado com Esther (Jane Alexander) e traumatizado pelo a morte, por overdose, do único filho. Ele começa o filme contando uma história: dizem que os deuses estavam entediados e, por isso, inventaram os humanos. Não resolveu; então inventaram o amor. Como parecia divertido, resolveram experimentar também. Então, inventaram o riso, para poderem suportar o amor.
Baseado em livro de Charles Baxter, com roteiro de Allison Burnett (Outono em Nova York), este é o novo filme do diretor Robert Benton, que ganhou Oscar® por Kramer versus Kramer, mas não tem tido grande sucesso com trabalhos mais recentes: Revelações (“Human Stain†- 2003), com Nicole Kidman; Fugindo do Passado (“Twilight†- 1998), com Susan Sarandon; Indomável, com Paul Newman; Billy Bathgate - O Mundo a Seus Pés (“Billy Bathgate†- 1991), com Dustin Hoffman. Ele sabe conduzir atores, é sensÃvel, mas prefere um ritmo mais lento, sem paixão.Através de Morgan Freeman, vários personagens se cruzam, num bairro no Oregon, a partir também de um café, cujo dono é Bradley Smith (Greg Kinner).
No começo do filme, sua mulher Kathryn (Selma Blair) se apaixona por outra, bem diante dos olhos deles. Mas ele está distraÃdo, e nada percebe. Logo depois, ela o larga e, ainda sem ter amadurecido, vai se casar de novo, com Diana (a australiana Radha Mitchell), uma agente imobiliária, sem desconfiar que ela tem um amante casado, David (Billy Burke).
Oscar (Toby Hemingway) garçom do café, vive com a garçonete Chloe (Alessa Davalos - a revelação do filme, uma mulher belÃssima, que é filha de outra atriz, Elissa Davalos), mas tem problemas com Bat (Fred Ward - no pior momento de sua carreira), o pai alcoólatra e vilão. Esses são peões de uma história que questiona a natureza do amor, e o que leva as pessoas a se apaixonarem (e deixarem de amar), certamente um tema que interessa a todos, mas que por isso mesmo exige uma certa maturidade.
Talvez falte ao filme uma certa leveza, mais humor, personagens mais fáceis de se gostar. Algo que o torne mais notável, mais marcante.
Mas acho que seu público deveria assisti-lo. (Rubens Ewald Filho - publicado na coluna Clássicos em 12 de maio de 2008)