Infelizmente faroestes estão fora de moda, como foi demonstrado com o fracasso do recente e bom Os Indomáveis. Isso já determina o destino deste filme, que estreou nos EUA em janeiro de 2007, e marcou a estréia na direção de um roteirista - David Von Acken -, autor de muitos episódios de séries de TV de sucesso (desde Oz até Cold Case, The Shield, Californication, e CSI NY).
É um western sólido que, sem dúvida, lembra dezenas de filmes do gênero, em particular os de Clint Eastwood e Anthony Mann, curioso por trazer como protagonistas dois atores irlandeses que fazem ex-oficiais de lados opostos da Guerra Civil americana. Mas seu título original é elíptico (se refere ao lugar onde se deu a tragédia que dá origem a todo o drama), e tem formato de road movie. Ou seja, uma constante perseguição, que começa nas montanhas do Oregon em 1868, e prossegue pelo deserto do Novo México.
Gideon (Pierce Brosnan - o ex-James Bond -, muito envelhecido e maltratado, mas convincente), que era do Exército do Norte, é atingido por um tiro, quando estava numa montanha. Procura fugir e, aos poucos, ficamos sabendo que está sendo caçado por Carver (Liam Neeson, extremamente magro) um sujeito mandão, que trouxe vários capangas, e deseja capturá-lo. Vamos descobrir que ele é outro oficial, só que Confederado, e está em busca de vingança, por algo que sucedeu há algum tempo, mas que não pode ser perdoado. Ou seja, não sabemos muito bem se Gideon é mocinho ou bandido.
Na verdade, esse dilema moral é o cerne do filme e que, de certa maneira, expande seu interesse, já que poderia muito bem se passar em qualquer guerra, mesmo atual. Com habilidade, Gideon vai fugindo e se livrando dos perseguidores, em diversos episódios com duas características: 1) as cenas de violência são mostradas em detalhes, sejam degolamentos, entranhas de cavalos, mortes por armadilhas; 2) a fotografia, do premiado John Toll (Lendas da Paixão), é de primeiríssima linha, com bons enquadramentos, quase clássica. Eventualmente, tudo é resolvido por flashbacks, mas antes disso o filme se perde.
Tudo que até ali tinha sido realista e funcional, de repente envereda pela fantasia, alegoria. Surge Madame Louise Fair (Anjelica Huston), como um personagem misterioso (e que só é explicado pelo que está escrito nas costas de sua carroça, não traduzido, mas que coloca o filme nos delírios de cineastas como o chileno Alejandro Jodorowsky).
E a conclusão é igualmente discutível. E o problema é que deixa o espectador perdido e atônito. Uma decisão errada, que compromete um filme que até ali era bem interessante. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 14 de abril de 2008)