Crítica sobre o filme "Atos Que Desafiam a Morte":

Rubens Ewald Filho
Atos Que Desafiam a Morte Por Rubens Ewald Filho
| Data: 25/06/2008

Estréia simultaneamente com a Austrália, e antes dos Estados Unidos, este fascinante filme, que vem na linha de sucessos recentes como “O Ilusionista”, com Edward  Norton, e “O Grande Truque”, com Hugh Jackman. Mereceria atenção simplesmente por marcar o retorno da diretora Gillian Armstrong, que fez parte da primeira geração de novos cineastas australianos, embora seus primeiros filmes nunca tenham sido lançados aqui e hoje sejam clássicos, sempre com excepcional fotografia, e narrativa envolvente. Foi a primeira mulher a dirigir na Austrália, em quase cinqüenta anos. Conseguiu seu primeiro sucesso com o primeiro longa, “My Brilliant Career”, aos vinte e oito anos de idade, onde revelou Judy Davis. O sucesso imediato deste filme lhe abriu as portas da carreira no cinema. Interessante notar que, apesar de seu começo na área técnica, sua obra é elogiada principalmente pela direção de atores. Em 1981, em uma viagem de estudos aos Estados Unidos, foi-lhe oferecida a direção de “Mrs. Soffel“ - parcialmente rodado no Canadá - começo do estrelato internacional de Mel Gibson. Desde então, alternou projetos em seu país e em Hollywood, mas nem sempre com sucesso (seus últimos filmes foram, em 1997, ‘Oscar e Lucinda - Uma História de Amor e Loucura’ com Ralph Fiennes e Cate Blanchett, e em 2001, ‘Charlotte Gray - Uma Paixão Sem Fronteiras’, com Cate Blanchett e Billy Crudup).

Gillian volta a impressionar com este filme envolvente, muito bem produzido, bonito e poético, que redime o compatriota Guy Pearce (que andava em má fase desde ‘Memento/Amnésia‘), aqui fazendo o papel do lendário mágico e mestre do escape Houdini, neste momento já  traumatizado pela morte da mãe, com quem deseja fazer contato através de mediuns e espiritualistas, que ele invariavelmente denuncia como fraudes (mas, como diz seu empresário, no fundo, todos nós somos fraudes!). Baseado num roteiro que levou anos para ser produzido (e que, depois de pronto, resolveram mudar o protagonista para Houdini - ou seja, uma figura real num evento fictício), o filme se passa em Edinburgh, na Escócia, e é narrado por uma menina pré-adolescente, que sobrevive com sua mãe (Zeta-Jones) se apresentando em shows de teatro, se passando por adivinha. Como ela mesma diz, quando pequena chegou a ter o dom. Mas o perdeu. Então recorrem a truques e artimanhas para enganar a platéia, até que aparece Houdini e lança o desafio, prometendo dez mil dólares para quem conseguisse adivinhar quais foram as últimas palavras de sua mãe no leito de morte.

Mãe e filha resolvem aceitar o desafio, mas antes disso Houdini se envolve com a mulher (há uma razão para isso, que não vou revelar), com quem inicia um romance. Realmente, não se pode dizer que haja  muita química entre o casal, mas isso não interfere muito, porque tudo é tão bem realizado que, pelo menos a mim, cativou e prendeu a atenção até o fim. Catherine está mais dura, menos jovem, mas sempre atraente. Saiorse Ronan confirma seu talento, demonstrado em “Desejo e Reparação”, e que lhe valeu uma indicação ao Oscar (apesar de americana ela é ótima com sotaques). Gostei muito deste filme, que infelizmente deverá passar em branco.

Tem magia, poesia, suspense, romance, tragédia, paixão e encantamento. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 4 de abril de 2008)