Crítica sobre o filme "Meu Nome Não É Johnny":

Rubens Ewald Filho
Meu Nome Não É Johnny Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/06/2008

Lá pelas tantas, o protagonista de Meu nome não é Johnny (2008), de Mauro Lima, se queixa do cicerone italiano que o acompanha no passeio de barco por Veneza que o playboy faz com sua garota; numa tirada de filosofia jovem e rasteira, diz que se os poetas escrevessem neste ritmo, não comeriam ninguém. Seria uma justificativa para a narrativa rápida e frenética de Lima, os planos agilmente colados na tensão fílmica? Comer o maior número de espectadores?

Meu nome não é Johnny é um filme cheio de estereótipos, as personagens e as situações são propositadamente estereotipadas. De certa maneira, faz algo próximo de Tropa de elite (2007), de José Padilha, (um policial social com as armas do filme de ação à americana), mas sem as engenhosas soluções cinematográficas que Padilha adota para seu filme. O que torna sem efeito as provocações temáticas de Meu nome não é Johnny é a excessiva crença neste viver veloz defendido pelo protagonista; pode-se alegar que é um sofisma a assertiva da personagem e é bem possível adotar-se a reflexão como vida e comer muito mais gente que os drogados da zona sul carioca. Bom; entraremos numa discussão sobre o nexo causal no sexo.

Selton Mello é outra vez um ator extraordinário e humaniza a criatura do playboy mais do que aquilo que o roteiro poderia prover. Mas Cássia Kiss como a juíza e Cleo Pires como a namoradinha sexy têm desempenhos inconvincentes. Julia Lemmertz, em suas breves aparições como a mãe de João Estrela, compõe com adequados gestos sua criatura, comprovando que uma contemplação reflexiva poderia estabelecer um contraponto saudável aos equívocos deste policial ligeiro. Enfim, resta ainda um ar choramingas (melodrama) do filme para com sua personagem central, vista aqui e ali como um ingênuo pobre-coitado e não como o agente de seu destino que ele de fato foi. (Eron Fagundes)

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Ajudado pela boa vontade criada por Tropa de Elite, este filme nacional chega com possibilidade de boa carreira comercial, graças também à presença de Selton Mello, atualmente o maior astro do nosso cinema. O mais carismático, mais empático e querido pelo público, que não decepciona mesmo num personagem que não é aprofundado, nem tem maiores chance de se explicar.

Baseado em fatos reais, e em livro de sucesso, o filme conta a história de João Guilherme Estrela, que nos anos 90, no Rio de Janeiro, se tornou um bem-sucedido traficante de drogas. Ganhou e gastou muito dinheiro (porque sua casa vivia lotada de gente, numa festa permanente, onde se consumia a droga de graça). Chegou a vender para o exterior, mas tudo que ganhou gastou, lá mesmo na Europa. Ou seja, nunca se organizou, nunca contratou capangas, nem repassou a droga. Ao contrário dos outros famosos traficantes do cinema, como Denzel Washington em O Gangster (American Gangster), ou o notório “Scarface†de Al Pacino, esse é, em tudo e por tudo, um traficante bem brasileiro.Só mesmo Selton é capaz de dar vida a essa figura, já que o roteiro não adota a solução mais óbvia, que seria ele mesmo contando a história, fosse em off, fosse falando para a câmera. Assim, nunca ficamos sabendo exatamente quem ele é, o que pensa (o único momento em que o personagem se abre, e foge das piadinhas, é quando depõe no julgamento, e mesmo aí poderia estar mentindo).

Há certa polêmica sobre a lição de vida que o filme traz: para uns moralista (ele paga pelos seus crimes), para outros amorais (já que mostra ele desfrutando do dinheiro sujo e gozando a vida; não desenvolve dramaticamente os laços nem com os amigos, nem com a família, ficando todos como pano de fundo).

O que mais me chocou, a princípio, foi a estética do filme. Todos os planos são fechados, próximos demais (a ponto de, por vezes, cortar a testa), sem a menor preocupação de colocar em cena o Rio (que pouco se vê), ou a época. Esteticamente é um filme feio, que usa mal a música, que poderia ter câmera mais nervosa e atuante, uma montagem mais criativa. Tem também uma direção extremamente irregular de atores, que não sabe tirar a artificialidade de Cleo Pires, erra em muitos coadjuvantes (como o advogado), que coloca uma criança nada parecida com o Selton que ele vai se tornar, e só funciona ocasionalmente (como na divertida ponta de Eva Todor, sempre adorável).

É mais estranho ainda que o filme tome desvios, fugindo um pouco do assunto, se tornando um filme policial diferente (como a engraçada seqüência com os dois detetives, que vêm roubá-lo, um bom hiato no meio da história). E depois, fita de prisão (onde o público reage melhor, já que a palavra fica com um grupo muito competente de atores pouco conhecidos). Mais estranho ainda é que, com tantas deficiências, o filme resulte até bem. Para mim, por causa do carisma de Selton. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 1º de fevereiro de 2008)