Crítica sobre o filme "Elizabeth - A Era de Ouro":

Eron Duarte Fagundes
Elizabeth - A Era de Ouro Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 12/06/2008

Em Elizabeth: a era de ouro (Elizabeth: the golden age; 2007) o realizador indiano em atividade na Inglaterra Shekhar Kapur exercita um rigor formal bastante estático e sem nuanças; a frieza dramática da encenação de Kapur desbota as intenções de sua visão histórica e seu rigor exterior da imagem às vezes contracena com uma estrutura de roteiro desleixada, superficial, nada rigorosa. Para compensar os aspectos gélidos de sua linguagem cinematográfica, Kapur exacerba na grandiloqüência de época, nas composições visuais impositivas e na utilização da soberbia britânica de um elenco (a australiana Cate Blanchet, magnífica, à frente —ela ainda não tem quarenta anos, mas em algumas imagens parece ter cem anos de magnificência fílmica); os olhos do espectador se saturam com tanto barroquismo, mas o coração permanece distante.

De certa maneira, era o que ocorria no primeiro filme desta anunciada trilogia, Elizabeth (1998), rodado pelo mesmo diretor. Mas agora os aspectos históricos tratados pelo roteiro são mais descurados e o resultado é mais precário. A emoção seguidamente torna-se vazia, apesar da opulência visual-sonora gritada a todo o instante.

Em linhas gerais, Elizabeth: a era de ouro vai acompanhar o ponto culminante do reinado de Elizabeth I, que viveu entre os anos de 1533 e 1603, tendo subido ao trono em 1558 e ali permaneceu até sua morte. Ao longo deste segundo filme da trilogia, Elizabeth, protestante, vai enfrentar a ira dos católicos britânicos; a líder deste catolicismo seria Mary Stuart, prima de Elizabeth e rainha da Escócia; armando um falso atentado contra Elizabeth, os súditos da todo-poderosa rainha inglesa aprisionam Mary Stuart e a decapitam; o rei Felipe II da Espanha, católico, inicia uma guerra religiosa contra Elizabeth, mas se dá mal. Sabe-se que o período elisabetano foi fecundo, econômica e artisticamente, para a Inglaterra; o reino expandiu-se e foi nessa época que floresceu o gênio do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), até hoje tido pelo supra-sumo da língua inglesa. Elizabeth foi a última governante da dinastia Tudor.

Mas o filme de Kapur não aprofunda as questões históricas, oscilando entre um espetáculo suntuoso mas vazio e algumas anotações críticas de passagem. Se o primeiro Elizabeth, o de 1998, ainda continha uma textura dramática mais compacta, o atual vai sutilmente esfarelando-se em seus pontos frios. Mas, à parte do filme, a arte de Cate Blanchet neste filme é uma obra-prima; e vem a rivalizar com a interpretação de Helen Mirren na pele de outra rainha, Elizabeth II, em A rainha (2006), do inglês Stephen Frears, este um dos melhores filmes vistos em Porto Alegre na temporada de 2007. (Eron Fagundes)