Em Elizabeth: a era de ouro (Elizabeth: the golden age; 2007) o realizador indiano em atividade na Inglaterra Shekhar Kapur exercita um rigor formal bastante estático e sem nuanças; a frieza dramática da encenação de Kapur desbota as intenções de sua visão histórica e seu rigor exterior da imagem à s vezes contracena com uma estrutura de roteiro desleixada, superficial, nada rigorosa. Para compensar os aspectos gélidos de sua linguagem cinematográfica, Kapur exacerba na grandiloqüência de época, nas composições visuais impositivas e na utilização da soberbia britânica de um elenco (a australiana Cate Blanchet, magnÃfica, à frente —ela ainda não tem quarenta anos, mas em algumas imagens parece ter cem anos de magnificência fÃlmica); os olhos do espectador se saturam com tanto barroquismo, mas o coração permanece distante.
De certa maneira, era o que ocorria no primeiro filme desta anunciada trilogia, Elizabeth (1998), rodado pelo mesmo diretor. Mas agora os aspectos históricos tratados pelo roteiro são mais descurados e o resultado é mais precário. A emoção seguidamente torna-se vazia, apesar da opulência visual-sonora gritada a todo o instante.
Em linhas gerais, Elizabeth: a era de ouro vai acompanhar o ponto culminante do reinado de Elizabeth I, que viveu entre os anos de 1533 e 1603, tendo subido ao trono em 1558 e ali permaneceu até sua morte. Ao longo deste segundo filme da trilogia, Elizabeth, protestante, vai enfrentar a ira dos católicos britânicos; a lÃder deste catolicismo seria Mary Stuart, prima de Elizabeth e rainha da Escócia; armando um falso atentado contra Elizabeth, os súditos da todo-poderosa rainha inglesa aprisionam Mary Stuart e a decapitam; o rei Felipe II da Espanha, católico, inicia uma guerra religiosa contra Elizabeth, mas se dá mal. Sabe-se que o perÃodo elisabetano foi fecundo, econômica e artisticamente, para a Inglaterra; o reino expandiu-se e foi nessa época que floresceu o gênio do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), até hoje tido pelo supra-sumo da lÃngua inglesa. Elizabeth foi a última governante da dinastia Tudor.
Mas o filme de Kapur não aprofunda as questões históricas, oscilando entre um espetáculo suntuoso mas vazio e algumas anotações crÃticas de passagem. Se o primeiro Elizabeth, o de 1998, ainda continha uma textura dramática mais compacta, o atual vai sutilmente esfarelando-se em seus pontos frios. Mas, à parte do filme, a arte de Cate Blanchet neste filme é uma obra-prima; e vem a rivalizar com a interpretação de Helen Mirren na pele de outra rainha, Elizabeth II, em A rainha (2006), do inglês Stephen Frears, este um dos melhores filmes vistos em Porto Alegre na temporada de 2007. (Eron Fagundes)