Crítica sobre o filme "Hairspray - Em Busca da Fama":

Rubens Ewald Filho
Hairspray - Em Busca da Fama Por Rubens Ewald Filho
| Data: 09/04/2008

Não é exatamente o tipo de musical que eu gosto. Acho as canções fracas, os tipos discutíveis e muito americanos, com pretensões a Grease. Mas, sem dúvida, tem sido sucesso na Broadway, onde a platéia fica alucinada e termina de pé, cantando junto e batendo palmas. É inspirado num pouco conhecido filme satírico de John Waters, de 1988, Hairspray - Éramos Todos Jovens, que contava praticamente a mesma história. É tão fiel que conserva o truque do original. Waters é de Baltimore, e fazia fitas underground, quase todas estreladas pelo travesti Divine (1945/1988), que era gordo e grotesco, e não especialmente talentoso. Mas é a fada madrinha das “drag queensâ€. Isso foi conservado no palco (onde foi estrelado por Harvey Fierstein) e agora no cinema, onde o papel é de John Travolta (ele não faz travesti, parodiando, mas como mulher autêntica, assumida e gorda). Mas Hairspray (ou seja, “laquêâ€, como é conhecido no Brasil) é um filme alegre, divertido, pra cima, dirigido de forma eficiente por um veterano coreógrafo, que começou a dirigir recentemente com A Casa Caiu, Operação Babá e Doze é Demais 2. Fazendo storyboard de tudo, ele consegue dar bastante dinâmica aos números musicais, começando por um que apresenta a época e a cidade, enquanto a heroína Tracy (a novata e eficiente Nikki Blonsky) vai indo a caminho da high school.

A novidade é que ela é gordinha e feiosa (no original, o papel foi de Ricki Lake, que depois virou apresentadora de TV, e aqui faz rápida aparição no final, junto com os compositores Shaiman e Wittman, e também o diretor). Ou seja, a anti-mocinha, que mesmo assim insiste em ir fazer um teste para um programa de televisão local, onde adolescentes dançavam ao som de canções de rock (esses shows realmente existiam e aqui são apresentados por John Marsden, que era um dos X-Men, o Ciclope). Mas ela é liberal e provoca a fúria da produtora do show (uma mal aproveitada Michelle Pfeiffer), que não deseja que os negros tenham maior espaço (Queen Latifah também não impressiona como a líder deles). Ou seja, a mensagem é liberal, defendendo os gordos e os negros, ou seja, os que são diferentes.

Se as canções são médias, a atração maior do filme é mesmo Travolta - que surpreende pela discrição e controle, no papel da mãe de Tracy -, uma matrona gorda (sua roupa para parecer mais gordo levava quatro horas de maquiagem), muito amada por seu marido Christopher Walken (e os dois têm um número bem legal). Só que é difícil deixar de perceber que a maquiagem deixou Travolta caricato, parecendo mais um monstro com bochechas de Fofão. Funciona até certo ponto, já que nunca chega realmente a convencer.

Outro detalhe importante: com o cabelo preto, quem faz o galãzinho do filme é o hoje superstar Zac Efron, o menino bonitinho de High School Musical 1 e 2, ídolo absoluto das adolescentes. E não se sai nada mal. Como a amiga de Tracy, temos também uma teen talentosa, Amanda Bynes (‘Ela é o Cara’) e a mãe dela (Alison Janney) tem uma frase ótima: “- Ela é uma Devil Childâ€.

Se não esperar muito de Hairspray, o filme diverte. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 10 de outubro de 2007)