Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 29/03/2008
Há certos filmes aos quais o passar dos anos traz um intolerável mofo que pode causar alergia ao nariz do espectador mais suscetÃvel a essas coisas. É o caso de Uma voz nas sombras (Lilies of the field; 1963), velho filme do norte-americano Ralph Nelson; mais do que um velho filme, é um filme envelhecido, que já anda de bengala numa revisão atual. É uma peça de arqueologia cinematográfica que não pode ser recusada nunca pelo cinéfilo inveterado que sou (acredito que todo filme deve ser visto por quem curte cinema), mas dificilmente topará na platéia habitual dos cinemas alguém que possa encará-lo sem aborrecimentos.
A canastrice do ator negro norte-americano Sidney Poitier estava então no auge. Ele vive um trabalhador que chega a uma irmandade e é desafiado para construir a capela local; suas relações com as religiosas são o mote da narrativa e tudo em cena é decididamente piegas como descrição de sentimentos e formalmente rÃgido, sem nuanças, lembrando excessivamente a televisão de que o próprio Nelson veio e se fazia nos anos 60. É uma pastoral que está sempre à beira do ridÃculo; as cançonetas de Poitier e suas co-adjuvantes são constrangedoras.
O filme está situado no coração da década de 60. Quem evocar na memória certos filmes maravilhosos que aquele decênio legou à posteridade, vai descobrir que, independente da ação do tempo, o filme deveria ocupar uma posição demasiado pequena no panorama de sua época. (Eron Fagundes)