Esta é a versão feminina de Desejo de Matar (‘Death Wish’- 1974, seguido por 4 continuações), aquela série de filmes estrelados por Charles Bronson, que explorava a teoria do vigilante, a justiça feita pelas próprias mãos. Só que já se passaram mais de vinte anos e Nova York, desde então, se tornou a cidade grande mais segura do mundo, onde a violência descrita no filme não acontece com essa tranqüilidade e freqüência. No entanto, como Jodie Foster tem acertado em papéis de mulher forte, que reage em momentos de perigo, o produtor Joel Silver achou que era uma boa idéia ressuscitar esse tipo de projeto, chamando para dirigi-lo o famoso e competente irlandês Neil Jordan (Traídos pelo Desejo; Entrevista com o Vampiro).
O resultado é óbvio: um filme violento, que parece anacrônico, e que foi rotundo fracasso de bilheteria nos Estados Unidos (coisa rara para Jodie, que ainda mantém o prestigio e a aparência, apesar dos 44 anos). Para nós, o primeiro problema do filme é com o titulo nacional, que dá a impressão de que “Valente“ é nome de cachorro. Fora isso, a história é bem contada, os atores estão convincentes e o que incomoda mesmo é a manipulação do espectador, para ficar do lado da heroína e aceitar seu comportamento esdrúxulo.
Jodie faz Erica Bain, uma apresentadora de programas de rádio em Nova York, onde atende ouvintes, e faz crônicas poéticas sobre a cidade. Tem um noivo de origem indiana (Naveen Andrews, de Lost) e, certa noite, quando passeiam com o cachorro no Central Park, são atacados por delinqüentes que matam o noivo, roubam o cachorro e, estupidamente, gravam tudo em vídeo. Erica escapa por pouco e fica traumatizada, passando a ir atrás dos agressores (ao mesmo tempo, faz amizade com um detetive da polícia, feito pelo indicado ao Oscar, Terrence Howard, que na verdade é seu fã). Eventualmente começa a virar justiceira, salvando uma jovem prostituta, matando (como Bronson) desordeiros no metrô, se acostumando também a matar.
Igual a dezenas de outros filmes parecidos, Valente talvez se diferencie apenas na conclusão amoral e cínica. Nada reconfortante. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 27 de outubro de 2007)