Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 05/03/2008
São raros os filmes venezuelanos que se podem ver por aqui, nos cinemas ou mesmo em dvd. Elipsis (2006), dirigido por Eduardo Arias-Nath, é esta raridade. E não deixa de ser um filme ambicioso, uma pelÃcula que, mesmo encaixada dentro dum gênero comercial, o policial, busca válvulas que forcem a reflexão do espectador. Numa determinada cena, duas personagens assistem a um filme onde um homem (um policial) corre seguindo outro, um negro; uma destas personagens questiona a outra sobre o que está vendo, a questionada responde que vê um policial correndo atrás de um negro, o questionador insta que ela olhe melhor, finalmente observa que o negro é também um policial.
Elipsis indica, nesta seqüência em que discute o próprio fazer cinema, que quer brincar com a percepção do observador. A cena inicial descreve o que parece ser uma altercação entre a polÃcia e o caso de um seqüestro durante um assalto. Depois o filme desenvolve como se chegou a esta cena inicial, mas evitando a utilização óbvia de flashbacks; a narrativa é uma mistura tensa e confusa de cenas em que um ator e um modista (os protagonistas do seqüestro inicial) desfilam entre belas e refinadas mulheres, ambientes de arte e perigoso submundo. Alguma coisa na estrutura policial do filme poderia lembrar Um dia de cão (1975), do norte-americano Sidney Lumet (o modista do filme de Arias-Nath é homossexual, como a personagem de Al Pacino no de Lumet); mas o policial à s avessas do realizador venezuelano torna difusas as relações entre as personagens ou entre as imagens.
Não me parece que Elipsis se saia bem em sua ambição. Um certo cerco teatral, os tons pedantes de seu exibicionismo reflexivo são expostos sem o devido senso cinematográfico. Em cada cena se espera que algo mais venha a transcender na realização. Mas tudo parece entravado e empacado no ritmo narrativo.
Para os brasileiros, duas curiosidades: a presença do cantor-ator Seu Jorge, como um sangrento mafioso, mas entoando suas canções; e outro intérprete brasileiro, José Longa. (Eron Fagundes)