Este é o primeiro filme americano do diretor de Hong Kong, Andrew Lau, famoso por ter feito a trilogia Infernal Affairs (que deu origem a Os Infiltrados de Scorsese). Certamente ele se aproveita da moda de filmes sobre tortura, que infestam o gênero terror, para realizar uma variação. Richard Gere (que envelheceu muito, perdeu o tipo de galã, e não melhorou muito como ator) faz um veterano funcionário público, que trabalha fichando e controlando psicopatas e tarados que estão em liberdade, mas que podem voltar a atacar a qualquer momento.
Embora Richard Gere esteja para perder o emprego, a verdade é que o filme lhe dá razão: ou seja, uma vez criminoso, sempre bandido. Bem que podiam criar um personagem paralelo, de um inocente bem intencionado que esteja tentando mudar de vida. Mas não, todos aqui são desviados sexuais, que professam o que há de pior e mais repulsivo, inclusive variadas formas de sado-masoquismo. Como estrutura, o filme lembra um pouco Cruising (com Al Pacino, em 1980), que fazia algo parecido com um policial que mergulhava no mundo do masoquismo gay, e tinha a mesma moral: é muito fácil alguém se corromper, se perder, ao olhar para o abismo, e também virar um monstro. Ou se tornar um vigilante obsessivo em fazer justiça, como é o caso de Gere quando, nos últimos dias de serviço, tenta passar os segredos do oficio para sua substituta, Claire Danes.
Está evidente que não se trata de um filme fácil ou agradável. Editado com os tiques modernosos (que tornam defeitos uma linguagem), o filme traz a cantora Avril Lavigne como uma das vítimas, e revela um inesperado talento na interessante KaDee Strickland, como a cabeleireira. Vale assistir? Francamente, eu prefiro opções mais leves. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 15 de novembro de 2007)