Crítica sobre o filme "Shield, The: Acima da Lei - 2ª Temp.":

Fernanda Furquim
Shield, The: Acima da Lei - 2ª Temp. Por Fernanda Furquim
| Data: 04/02/2008
The Shield é uma das séries da atualidade que retrata a nova abordagem das produções televisivas. A de colocar uma lente de aumento naquele personagem que até então era visto apenas como o antagonista do herói ou simplesmente o criminoso que teria que ser preso.

Com uma temática muito conhecida, a do policial corrupto, The Shield apresenta Michael Chiklis como Vic Mackey, chefe de um esquadrão de elite da polícia cujo objetivo maior é tirar lucro das operações criminosas, explorar situações e bandidos que deveria prender. Esta postura foi justificada na primeira temporada como uma forma de Vic conseguir dinheiro para sustentar sua família e os gastos de ter um filho autista; além do fato dele ver a burocracia do Departemento de Polícia e a ambição de seus profissionais que estão no comando, como o principal motivador da corrupção.

Quem é o mocinho, quem é o bandido? A série The Shield está diretamente ligada à O Homem da Máfia, ao apresentar um “herói†que não consegue distinguir entre polícia e bandido quem está certo, quem está errado. Em ambos os casos, eles são o elo de ligação entre esses dois mundos e agem conforme a necessidade. A diferença entre a produção dos anos 80, é que Vinnie Terranova estava no meio dos mafiosos e precisava manter sua lucidez intacta para não se deixar influenciar pelo comportamento daqueles que o cercavam. Em The Shield, Vic está em meio aos policiais, trazendo a influência do mundo do crime, cercado de policiais que utilizam-se de seus próprios métodos e interpretações da lei e interesses pessoais para fazer cumprir suas funções.

No final da primeira temporada, temos Vic e sua equipe enfrentando uma difícil situação: cumprir com sua cota de prisões ou ter o esquadrão dissolvido. Para garantir sua posição na polícia, o grupo ameniza suas atividades de corrupção e violência para cumprir com sua missão original: prender bandidos de alta periculosidade.

Nesta segunda temporada, Vic também está sob uma forte pressão familiar: sua esposa o deixou e levou seus filhos com ela; Vic contrata um detetive para localiza-los e traze-los de volta. Para piorar, Armadillo, o chefe do tráfico de drogas quer sua cabeça e sua colega, Claudette Wyms (CCH Pounder), que nunca gostou dele e desconfia, embora não tenha provas, de suas atividades e métodos ilegais, assume o controle do Departamento e lhe dá ordens de como deve agir. Capitão Aceveda (Benito Martinez), está dividindo sua atenção com sua candidatura para o Conselho da Cidade e com Lanie Kellis (Lucinda Jenney), auditora do município que busca uma desculpa para denunciá-lo por facilitar a corrupção policial. As histórias têm início quase um mês depois do final da primeira temporada.

Como resultado a todas essas situações, Vic e Aceveda fazem um acordo mútuo: Vic se controla e mostra serviço, enquanto Aceveda faz vista grossa para algumas evidências de corrupção, além de deixar passar atitudes e posturas que Vic precisa assumir para cumprir com sua parte do acordo. Ambicioso e determinado a vencer o preconceito aos latinos, Aceveda não mede esforços para ganhar a eleição, mesmo que isso signifique compactuar com o “inimigo†e sofrer eventuais crises de consciência.

Esta segunda temporada é focada na personalidade de Vic e o que faz ser quem ele é. Talvez sua postura na primeira temporada tenha criado reações e controvérsias que tenha sido necessário trazer as motivações do personagem para o público; talvez tenha sido planejado desde o início apresentar ao público primeiro um sujeito violento e corrupto como o herói da série, para, somente depois, tentar conquistar o público ao expor a personalidade da pessoa, e não do policial. Seja qual for a alternativa, funciona. Aqui temos um homem preocupado com a família; um policial que sobrevive a um sistema burocrático, egocêntrico e manipulador; uma pessoa leal aos colegas e aos seus princípios, mesmo que isso o leve a matar um outro policial (como visto na primeira temporada).

Expondo o personagem que tomou tantas atitudes extremas na primeira temporada, a série apresenta agora esse mesmo personagem, que tinha tudo sob controle apesar de tudo, começar a perder terreno. A partida de sua esposa e filhos é o início simbólico de que a vida de Vic está fora de seu controle. Nada mais será como antes e tudo o que ele precisa fazer é equilibrar as pessoas e as situações como se estivesse no circo. Nada fácil em se lidando com o crime e a polícia, ambição e poder. Vic está preso em sua própria armadilha. (Fernanda Furquim – confira seu blog RevistaTV Séries)