É muito raro uma trilogia concluir com um capÃtulo de qualidade. Mesmo Star Wars, De Volta ao Futuro e O Poderoso Chefão, escorregaram na conclusão. Mas não Bourne, que tem um terceiro capÃtulo da mesma qualidade que os anteriores, se não melhor. Até porque finalmente se explicam as origens dos problemas do herói. O curioso é que quando chega a revelação ela não interessa tanto, o que importa é a jornada, o suspense, como ele chegou lá.
Como se sabe, o personagem Jason Bourne foi criado por Robert Ludlum, contado no telefilme A Identidade Bourne (1988) com Richard Chamberlain (disponÃvel em DVD) depois refeito em outro A Identidade Bourne (2002) e A Supremacia Bourne (2004). O primeiro da trilogia foi rodado por Doug Liman, que criou problemas com o estúdio de tal forma que foi banido (e fez depois o também problemático Sr. e Sra. Smith). Para substituÃ-lo conseguiram o inglês Paul Greengrass que aperfeiçoou o estilo de narrar tudo com câmera na mão, com ângulos inusitados, planos cambaleantes, com cara de telejornal, de tal maneira que tudo se parece com uma longa tomada sem cortes.É um jeito realista que foi consagrado com uma indicação ao Oscar® de direção este ano pelo filme Vôo United 93 (‘United 93‘ - 2006) que, pouca gente viu mas é excepcional.
Greengrass está de volta aqui novamente com sua maneira muito particular de narrar, de forma que cria sempre uma sensação de que você está lá no meio da ação, dentre a multidão, ou em plena perseguição. Basicamente o filme é formado de três perseguições, rodadas espetacularmente em locações sem a ajuda aparente de efeitos digitais (como sucedeu, por exemplo, em Duro de Matar 4.0). Mesmo assim, às vezes é necessário aceitar a fantasia (até porque Bourne escapa vivo e pouco machucado de alguns espetaculares e catastróficos desastres de automóveis). Primeiro ainda em Moscou onde está, como no final do filme anterior, depois outra super elaborada em Tanger, no Marrocos (onde foge por vielas de moto, depois saltando pelos tetos da cidade) e finalmente uma em Nova York. Sem esquecer escalas menores em Madrid, Paris, Torino, Londres.
Desta vez, os vilões estão claramente definidos, nervosos na tentativa de encobrir erros do passado (um programa secreto de treinar agentes que diante dos fatos de hoje parece mais fácil de acreditar do que antigamente). Mas Bourne também consegue aliados de filmes anteriores, como a chefe da agência Pamela Landy (a sempre ótima Joan Allen) e a jovem Nicky Parsons (Julia Stiles), que ficou parecida com a namorada morta no segundo filme, a alemã Marie (Frankie Potente). Ambas envolvidas na trama e, arriscando suas vidas e carreiras.Â
Espero não ter revelado nenhum fato importante da historia. Mas como disse, o que importa não é tanto a revelação tratada até casualmente, mas como o herói chegou lá, sempre ajudado pela credibilidade sóbria de Matt Damon. Nervoso, cheio de energia e tensão, por que não dizer suspense, este é um thriller de tirar o fôlego.
Total adrenalina! (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 24 de agosto de 2007)