É uma pena que eu já conhecesse a história (que, por sinal, é seguida fielmente), porque na época fiquei fascinado com este que foi uma dos maiores casos de falsificação de todos os tempos. E teria me surpreendido muito com o desenrolar e o resultado. Também é triste que tenha sido fracasso nos EUA um filme com esta história tão interessante e com um resultado louvável, graças à direção do sempre competente diretor sueco Lasse Hallstrom (Chocolate, Gilbert Grape). Com o cabelo escuro (e não grisalho, como recentemente), Richard Gere está bem envelhecido, mas aos poucos vai melhorando como ator, e já não era sem tempo (está perto dos 60 anos!).
Esta é a história de Clifford Irving, um escritor sem sucesso (Richad Gere), que convence uma grande editora que conseguiu que o milionário e recluso Howard Hughes (aquele mesmo biografado por Scorsese em O Aviador) publicasse sua autobiografia. Só que tudo aquilo é inventado. Com a ajuda de um cúmplice (o sempre bom Molina), copia ou resgata documentos escondidos ou inéditos, e vai compondo com cuidado um texto que todo mundo aceita como verdadeiro (o filme é contado de modo bem humorado acentuando os desencontros e perigos). Até quando acontece o inevitável. Não chega a haver surpresas, mas a ousadia e o descaramento da proposta é tanto que não há como ficar indiferente.
Com um elenco de primeira (onde se destaca a francesa Delpy, quase irreconhecÃvel), recria uma das maiores vigarices do século passado. Na verdade, a grande sacada do filme é tentar inserir a história no espÃrito de sua época, ou seja 1971, justamente quando o presidente Richard Nixon está mentindo de todas as maneiras, e da forma mais descarada possÃvel, o que seria revelado só com o caso Watergate (que coincide com o fim do filme). Ou seja, num mundo onde todos mentem, seria Irving culpado?
A realização utiliza documentários de época e, de certa forma, tenta recriar os figurinos e o colorido - sem caricatura - mas não leva a proposta até o fim. Se tivesse feito um filme com o estilo dos anos 70 (a maneira de fotografar, narrar, contar uma história) teria tido um resultado bem mais interessante. Ainda assim, é para se ver e se interessar. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 5 de outubro de 2007)